Para conseguir sobreviver à crise de múltiplas dimensões provocada pela pandemia do novo coronavírus, as empresas tiveram de realizar adaptações rápidas e evoluir em questões-chave como novos formatos de trabalho (home office, mas não só), estrutura organizacional (menos hierárquica, mais ágil), velocidade de automação e de digitalização, entre outros desafios da era digital.
Nos últimos meses, a maioria das organizações têm trabalhado em modo de sobrevivência mínima, com foco no essencial. Mas não poderão continuar assim por tempo indeterminado e, passada a fase mais crítica da pandemia retornar à realidade anterior (legado) simplesmente não é opção.
Neste artigo, a McKinsey & Company consolida alguns aprendizados ocorridos nos últimos meses e, com base neles e em resultados de pesquisas realizadas recentemente, oferece cinco insights para as empresas evoluírem do modo minimum survival para o que chamamos de “ótimo estratégico”, construindo assim a organização do futuro.
1. Redefinir estrutura e footprint
Desde março, quando o novo coronavírus chegou com força ao país, empresas brasileiras de diversos setores tiveram de se adaptar muito rapidamente.
Este é o momento de construir a partir do desempenho no modo crise e de aproveitar os aprendizados desse período – trabalho remoto, significado do escritório e reavaliação de funções críticas, entre outras – para evoluir rumo ao novo normal nos negócios.
Ao mesmo tempo que adota um modelo organizacional mais horizontal e flexível, a empresa precisa reduzir desperdícios, otimizar os recursos disponíveis e aumentar sua eficiência e resiliência frente a crises, pois ainda há muitas incertezas no horizonte.
2. Adotar e escalar agilidade
Em tempos de crise, importa menos quem é quem na hierarquia organizacional e mais a capacidade de agir rápido e corretamente num cenário incerto, transmitindo ao mesmo tempo uma sensação de calma e objetividade ao restante da equipe. Identificar quem ou quais times se colocam na linha de frente, solucionando problemas urgentes, e reforçar esse atitude e essa mentalidade são desafios que já existiam, mas se tornaram ainda mais prementes e centrais durante e após a pandemia.
A metodologia Agile, em que um pequeno time multifuncional (normalmente chamado de tribo ou squad) trabalha unido com objetivos, prazos e entregas bem definidos, ajudou bastante nas respostas à crise.
O infográfico abaixo, baseado em uma pesquisa realizada em parceria pela McKinsey e a Harvard Business Review (HBR), mostra que empresas de telecomunicação mais maduras em agile conseguiram reagir à Covid-19 em média seis dias à frente do que os demais operadores do setor em países selecionados da Ásia e da Europa.
E, diferentemente do que se pensava anteriormente, não é essencial que o time agile trabalhe no mesmo espaço físico. Mais importante é definir bem o ritual de trabalho, com check in e check out diário, entregas claras e papeis bem definidos ainda que os membros da tribo trabalhem remotamente.
Os resultados da pesquisa abaixo comparam, com base em autoavaliação, os resultados obtidos por unidades agile e non-agile dentro de uma mesma organização.
3. Gerar disrupção através do digital, dados e tecnologia.
Com o grande aumento – e o sucesso – do home office durante a pandemia, até a forma de gerir a produtividade da força de trabalho passou a ser diferente e deve mudar ainda mais.
Abaixo, dois exemplos de análise de produtividade realizada durante o período da pandemia com base em informações digitais disponíveis remotamente. Os resultados indicam que talvez este seja o momento de repensar, em uma perspectiva organizacional, a forma de gerir a produtividade da força de trabalho.
Algumas empresas criaram uma espécie de war room (sala de comando) para centralizar o acompanhamento da produtividade e efetividade da força de trabalho.
Utilizando softwares específicos de gestão, essa sala monitora a produtividade da equipe a distância e, com a tendência de manutenção do home office ao menos parcialmente, deverá assumir um papel cada vez mais central de agora em diante.
4. Revolucionar a gestão de talentos.
Se houve um aprendizado positivo da pandemia foi o de que o trabalho remoto pode funcionar e ser eficiente.
A remotização do trabalho vai provocar uma revolução na atração e acesso aos talentos, pois os talentos técnicos e/ou digitais, que são os mais difíceis de recrutar, poderão agora ser buscados em qualquer parte do mundo. Até mesmo a “proposta de valor” oferecida a potenciais colaboradores com o objetivo de atraí-los para a empresa vai mudar, pois a flexibilidade veio para ficar e será cada vez mais valorizada por profissionais de todo o mundo.
Para emergir mais forte, a empresa também deve investir já na requalificação de seus profissionais, seja em reskilling ou upskilling.
5. Transformar cultura como ativo.
Em meio a uma pandemia, todo mundo está refletindo sobre o que vai acontecer com a humanidade e o planeta e reavaliando sua vida pessoal, familiar e, claro, profissional. A empresa não pode ficar de fora, pelo contrário deve participar ativamente desse profundo processo de reavaliação, reforçando seus propósitos e sua cultura interna. Quanto mais o propósito individual de cada colaborador estiver conectado ao propósito da empresa, melhor para ambos.
O infográfico abaixo mostra a importância dos funcionários se sentirem socialmente e emocionalmente conectados, seguros e com os propósitos bem alinhados. Reforçar o compromisso de todos com a empresa é o caminho para que a organização saia mais forte e unida, provando sua resiliência em um momento difícil e desafiador.
A pandemia do novo coronavírus trouxe muitas dificuldades para o mundo dos negócios, tanto para as empresas como para os clientes e também para os trabalhadores. Ainda estamos no meio dela e não sabemos ao certo quando isso vai acabar. Mas sabemos desde já que não vamos voltar para o que tínhamos antes da crise.