B20 no Brasil e o mar de oportunidades para o País crescer na economia global
 

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As marés estão se movimentando — e são favoráveis para o Brasil.

País pode capturar até US$ 100 bilhões em valor adicional nos próximos 10 anos apenas no setor industrial, que representa hoje 25% do nosso PIB, de acordo com estimativas da McKinsey.

As oportunidades surgem a partir do aumento da demanda por produtos e serviços sustentáveis, alinhado ao nosso potencial verde; da posição privilegiada próxima a mercados do Sul, favorecendo o nearshoring e investimentos greenfield; e da enorme capacidade em ganho de produtividade na força de trabalho, com a acelerada transformação digital em curso.

A hora certa de entrar no mar

Essas e outras tendências abrem possibilidades para o Brasil impulsionar seu desenvolvimento sustentável e inclusivo e, desta forma, crescer na economia global. Uma onda rara. E o bom surfista sabe a hora certa de entrar no mar.

Anfitrião do G20 e de seu fórum de negócios, o B20, e sede da COP 30 no ano que vem, o Brasil está sob os holofotes. Assim, tem ainda mais chances de mostrar sua capacidade econômica e o papel primordial que pode desempenhar nos temas mais importantes para o mundo contemporâneo.

Demandas green à vista

A construção de momentum em direção ao objetivo de emissões líquidas zero é evidente. A descarbonização econômica requer investimentos em CAPEX superiores a US$ 2 trilhões nos próximos anos em todo o mundo. Isso impulsionará demandas verdes relevantes para um país com vocação sustentável como o Brasil.

Eis alguns exemplos. Na indústria de metais, nossa matriz elétrica 90% renovável tem um enorme potencial de descarbonizar a cadeia. Desta forma, poderá viabilizar a entrada do país no crescente mercado de metais verdes, com oportunidades estimadas em US$ 4 bilhões até 2040.

Combustíveis mais sustentáveis

Uma das grandes apostas para a descarbonização de setores de difícil redução de emissões, o hidrogênio verde é outra via promissora. O Brasil é um dos lugares mais competitivos do mundo para se produzir esse combustível e o prêmio pode chegar a US$ 20 bilhões nos próximos 15 anos.

Na agricultura e na mobilidade, parte da safra de soja brasileira pode ser direcionada a produtos de maior valor agregado, como o biodiesel e o combustível sustentável para a aviação (SAF). Apesar de ainda não integrar o mercado de SAF, o Brasil pode produzir, até 2040, 9 bilhões de litros desse tipo de combustível, dos quais um terço poderia ser exportado.

A descarbonização já está definindo novos ganhadores. Empresas dispostas a desenvolver proativamente soluções verdes se tornarão líderes nesses mercados emergentes. Para isso, é importante que a criação — ou aquisição — de novos negócios sustentáveis esteja no topo da agenda C-level.

Uma recente pesquisa da McKinsey mostrou que companhias que adotaram uma abordagem programática em suas estratégias de M&A incluíram pelo menos um negócio sustentável em suas transações, resultando em um aumento da performance e maior retorno dos investimentos.

Resiliência das cadeias, reorganização do comércio

Disrupções cada vez mais frequentes testam a resiliência das cadeias de suprimento. Não à toa, 67% dos líderes entrevistados em uma recente pesquisa da McKinsey apontam as instabilidades geopolíticas como as maiores ameaças atuais para o crescimento econômico. Nossos estudos projetam mais de 30 dias de interrupções na circulação de insumos a cada 3,7 anos.

Para reduzir a fragilidade e a exposição a choques externos, muitos países estão encurtando as cadeias ou relocalizando a produção de bens-chaves. Esse contexto nos oferece mais uma chance para alavancar nossa posição como líder regional em competitividade e inovação. Desta forma, podemos nos tornar a melhor opção para empresas que buscam posicionar-se próximas a mercados do Sul.

Diversificação e agilidade

Um marcador importante desse movimento são os novos investimentos no Brasil — por meio dos quais empresas lá de fora se internacionalizam ou ampliam sua operação no exterior, os chamados “investimentos greenfield“. Apesar de terem permanecido relativamente estáveis na América Latina, eles aumentaram 40% no Brasil em relação aos níveis pré-pandêmicos, atingindo quase US$ 30 bilhões ao ano. Esse capital vem de regiões como China, Europa, Oriente Médio e Estados Unidos, e pode fomentar a expansão das indústrias nacionais e promover o crescimento e a diversificação das exportações brasileiras.

Mas é preciso agir rápido. Outros países, como o México, já estão ampliando sua atratividade e usufruindo de um novo status nas cadeias de valor. De fato, o México ultrapassou a China como maior exportador para os Estados Unidos em 2023, totalizando US$ 475,6 bilhões em exportações e crescendo 5% em relação a 2022. Posicionar-se como polo produtivo na economia regional e global exige proatividade para mapear e capturar investimentos internacionais. Assegurar a competitividade local e a disponibilidade de capacidades essenciais é imperativo para tornar-se destino desses novos investimentos e promover transferência de tecnologia ao país.

Produtividade na velocidade da digitalização

A produtividade é um dos principais desafios brasileiros. Nas duas últimas décadas, 75% do nosso crescimento foi alavancado pelo aumento na oferta de trabalho, com apenas 25% atribuídos ao aumento da produtividade. A título de comparação, na China, quase 100% do crescimento foi impulsionado pelo aumento da produtividade, apesar de seu enorme contingente populacional.

Investimentos nas instituições públicas e privadas, na formação de capital humano e em inovação são as vias mais promissoras para o aumento da produtividade. Em todas essas dimensões, temos obstáculos importantes para transpor. Em Pesquisa & Desenvolvimento, por exemplo, a América Latina amarga um investimento de 0,2% do PIB ante 2,2% da China e 1% de países da Europa Central.

Uma grande oportunidade está na digitalização, automação e inteligência artificial. O Brasil vem investindo em infraestrutura de conectividade — mais de 5% do 5G global está aqui, com uma qualidade que fica entre as 10 melhores do mundo. Mas ainda ocupamos a oitava pior colocação no ranking global de competitividade digital.

A GenAI é um marco nessa corrida tecnológica, capaz de movimentar mais de US$ 4 trilhões na economia mundial. Os casos de uso são promissores e já começam a redefinir a forma como produzimos. No entanto, a América Latina precisa se apressar: estimativas sugerem que o impacto da IA na economia da região poderá ser de três a cinco vezes menor do que na América do Norte e na China.

Capturar a oportunidade da revolução tecnológica demanda um plano claro das organizações, como mostra nossa experiência com centenas de transformações digitais em todo o mundo. Ingrediente central dessa receita é o capital humano: a tecnologia exige máxima atenção ao desenvolvimento dos talentos, com forte investimento em upskilling e reskilling da força de trabalho para garantir sustentabilidade de resultados no longo prazo.

O Brasil e o mar

Em um mundo geopoliticamente instável, com necessidade vital de preservar sua biodiversidade, em meio a uma rápida transição demográfica e na busca por redesenhar suas cadeias de valor, presidir fóruns da magnitude do G20 e do B20 são novas oportunidades para o Brasil desempenhar um papel de liderança no cenário global — além de servir como um teste para mostrar como o país deseja, de fato, exercer esse papel.

Essa análise, que foi trazida à tona pelo cientista político Ian Bremmer na abertura do B20 em janeiro, nos lembra que estamos diante de uma plataforma poderosa de parceria e colaboração. E que “o mar está para peixe” — dos grandes, como o marlim de Santiago, de O Velho e o Mar. Assim como o clássico personagem de Hemingway, o Brasil tem de refletir, demonstrar resiliência e assumir o protagonismo de seu destino. Mas sem deixar o prêmio escapar.


A McKinsey é Main Partner do B20 Brasil 2024 e Knowledge Partner da força-tarefa Transição Energética & Clima e do action council Mulheres, Diversidade & Inclusão nos Negócios.

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