Nesta quinta e sexta-feira, o B20 – fórum global de negócios do G20 – se reúne no Brasil para discutir como os países podem, com a contribuição do setor produtivo, passar da aspiração à ação em três pilares determinantes para o futuro da humanidade: crescimento, inclusão e sustentabilidade. Pilares esses que são interconectados, de acordo com um novo relatório da McKinsey, que discute estratégias práticas para acelerar o progresso e mitigar as eventuais tensões entre esses objetivos.
Se um futuro mais inclusivo e sustentável é o destino almejado – e lema do B20 Brasil –, o crescimento econômico é um habilitador dessa jornada, gerando os recursos necessários para elevar as famílias acima da linha de empoderamento e permitindo maior financiamento e avanços tecnológicos para a transição energética. E, para crescer, não há rota alternativa: é preciso elevar os níveis gerais de produtividade na economia.
Produtividade como rota de crescimento
Em todo o mundo, a produtividade deu um salto expressivo entre 1997 e 2022, crescendo seis vezes no período. Desde a crise de 2008, porém, o ritmo de crescimento diminuiu em quase todos os países, inclusive naqueles em que ele não chegou a ganhar tanta tração, caso do Brasil. Por aqui, a maior taxa de crescimento da produtividade (medida em PIB por hora trabalhada) foi de 1,8% entre 2002 e 2007 – mesmo período em que a produtividade na China cresceu 11%. Entre 2016 e 2022, esse crescimento foi de 0,1% no Brasil, ante 6,2% do gigante asiático.
Para mover com força esse ponteiro, há uma combinação de medidas que podem aumentar a capacidade produtiva de um país. Entre elas, a elevação substancial dos níveis de investimento (cerca de 20% a 40% do PIB), com recursos destinados à infraestrutura; o fortalecimento do capital humano por meio de educação, qualificação e redução da informalidade; e o fomento ao desenvolvimento tecnológico, sofisticando e diversificando a economia.
Com agilidade e dinamismo, o setor privado é instrumental nessas avenidas. Melhorando a infraestrutura, especialmente em transporte, as empresas estimulam o comércio regional e pavimentam o acesso aos mercados globais. Investindo em tecnologia e inovação, as companhias ampliam sua capacidade produtiva e contribuem para uma maior complexidade econômica. Destinando recursos à formação de capital humano por meio de treinamento, upskilling e reskilling, elas ajudam a preparar profissionais para os trabalhos do futuro, desenvolvendo um ecossistema de talentos qualificados.
Subindo a barra da inclusão
Se a produtividade é a pista expressa rumo ao crescimento, nesse caminho a velocidade importa – e muito. Para países de média renda, como o Brasil, o crescimento é uma alavanca importante de inclusão econômica.
Segundo um estudo do McKinsey Global Institute (MGI), existe uma forte correlação entre o aumento do PIB per capita e uma maior parcela da população vivendo acima da linha do empoderamento – um conceito desenvolvido pela McKinsey para quantificar o valor mínimo que permite a uma pessoa ter acesso não apenas a bens e serviços básicos, mas também a certa segurança financeira e engajamento ativo na sociedade.
O desafio é imenso: em 2022, aproximadamente metade da população dos países do G20 vivia abaixo da linha do empoderamento econômico em todo o mundo. No Brasil, o índice era semelhante, com pouco mais de 50% da população vivendo abaixo desse limiar. Além do crescimento, a inclusão depende também da adoção de instrumentos que aumentem a capacidade de compra e aliviem o peso de itens essenciais no orçamento das famílias – como alimentação, moradia e transporte.
Horizonte verde à vista
Outro desafio de enorme magnitude – e que exige ações rápidas e coordenadas – é o enfrentamento da crise climática. Embora funcione como catalisador das aspirações sustentáveis, o crescimento pode ser um elemento de tensão, especialmente para os países em desenvolvimento, na medida em que o aumento da produção e do consumo pressionam os recursos do planeta. Manejar as tensões em jogo não é simples, mas também é possível.
O Brasil está bem-posicionado para equilibrar essas forças internamente e liderar a transição global para um futuro mais sustentável. Afinal, abrigamos 15% das soluções climáticas naturais do mundo e podemos gerar cerca de 2 GtCO2eq/ano em certificados de sequestro de dióxido de carbono (CDRs) – o suficiente para ir muito além da nossa meta e facilitar a compensação de emissões marginais de outras geografias. Nossa matriz elétrica limpa abre caminho para sermos um importante produtor de hidrogênio verde, combustível que se apresenta como uma excelente solução para setores de difícil descarbonização. Além disso, no mercado nascente de SAF (combustível sustentável para aviação), podemos produzir muito mais do que o necessário para consumo interno, destinando até 25 milhões de toneladas para exportação.
Para enfrentar as consequências das mudanças do clima, tanto as soluções já existentes quanto as que ainda serão descobertas dependem da força inovadora do setor produtivo para serem desenvolvidas e ganharem escala. Dessa forma, as empresas devem investir na aplicação de tecnologias digitais para aumentar a inovação e melhorar a eficiência das operações, direcionando a produção de bens e serviços para o atendimento das demandas por produtos e soluções sustentáveis.
Sem tempo a perder
Crescer e elevar a população acima da linha do empoderamento econômico, promovendo o desenvolvimento sustentável e o caminho para o net zero, é um desafio sem precedentes na história. O alinhamento do B20 em relação a esse objetivo e o progresso já feito são notáveis. Mas ainda há muito por fazer. O maior adversário é o tempo. Por isso, é urgente passar da aspiração à ação – e o setor produtivo tem um importante papel nessa jornada.
A McKinsey é Main Partner do B20 Brasil 2024 e Knowledge Partner da força-tarefa Transição Energética & Clima e do action council Mulheres, Diversidade & Inclusão nos Negócios.