A pressão para que as empresas estejam atentas a questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) continua aumentando. Pesquisadores, grupos empresariais e organizações não governamentais têm alertado de várias formas sobre os riscos – ou enfatizado as oportunidades – que essas questões representam para a performance das empresas1. A maior parte dos executivos e profissionais de investimento que examinam suas empresas parecem concordar que os programas de ESG afetam a performance. Em nossa recente pesquisa, conduzida pelo McKinsey Global Survey, na qual foram avaliados programas de ESG2, 83% dos altos executivos e profissionais de investimento afirmam que há uma expectativa de que os programas de ESG contribuam mais para o valor aos acionistas nos próximos cinco anos do que o fazem atualmente. Eles também indicam que estariam dispostos a pagar um premium de cerca de 10% em média para adquirir uma empresa com registro positivo em questões de ESG, em relação a outra com registro negativo. Isto vale inclusive para executivos que afirmam que programas de ESG não têm efeito sobre o valor aos acionistas.
Entre os participantes da pesquisa que concordam que esses programas aumentam o valor aos acionistas, as percepções sobre a forma como isso ocorre mudaram em comparação a nossa pesquisa realizada em 20093. Atualmente, a maioria desses líderes de negócios e profissionais de investimento afirma que os programas ambientais, sociais e de governança, individualmente, criam valor tanto no curto como no longo prazo. Sobretudo, a percepção do valor de longo prazo de programas ambientais e sociais atualmente rivaliza ou excede o valor atribuído aos programas de governança.
A seguir, analisamos a forma como as perspectivas mudaram a respeito de diversos assuntos, incluindo o impacto de ESG no valor aos acionistas e na performance financeira, os motivos pelos quais as empresas priorizam os programas de ESG e os desafios e oportunidades em termos de dados e relatórios de ESG.
Os programas de ESG e o valor aos acionistas
A maioria dos executivos e profissionais de investimento pesquisados (57%) concorda que os programas de ESG criam valor aos acionistas. Essa porcentagem é amplamente consistente com os resultados da pesquisa realizada há uma década, bem como em relação à maior parte das categorias demográficas analisadas na pesquisa atual – cargo dos respondentes, tamanho, estrutura societária (capital aberto ou fechado) e região das empresas. Os respondentes de empresas de bens de consumo apresentaram maior probabilidade (66%) de afirmar que esses programas criam valor do que aqueles de empresas B2B (56%).
Mas há uma pequena minoria que não está convencida disso. Apenas 3% dos respondentes acreditam que tais programas reduzem o valor aos acionistas, enquanto 14% não têm certeza. Esse nível de incerteza é significativamente mais baixo do que os 25% de respondentes incertos em 2009, mas essa mudança corresponde a um aumento na proporção de respondentes que afirma que os programas de ESG não têm nenhum efeito no valor aos acionistas – 25% atualmente, em relação a 14% em 2009. Grande parte desse aumento se deve à maior proporção de profissionais de investimento que consideram que os programas não têm esse efeito.
Tais resultados surgem à medida que 58% dos respondentes afirmam que o atual ambiente político acentuou a importância dos programas de ESG para atender às expectativas dos stakeholders. Além disso, cerca de quatro a cada dez participantes declararam que o ambiente político aumentou a importância dos programas de ESG no valor aos acionistas.
Dentre os respondentes que afirmaram que os programas de ESG agregam valor, as perspectivas mudaram desde 2009 (Quadro 1). A pesquisa consultou separadamente sobre os programas ambientais, sociais e de governança no curto e no longo prazo. Conforme o tipo de programa e o horizonte de tempo, a proporção dos respondentes que percebem uma criação de valor aumentou, sendo que o maior aumento foi observado no caso de programas sociais. Do mesmo modo que em 2009, os respondentes apresentaram maior probabilidade de afirmar que os diferentes tipos de programa contribuem mais para a criação de valor no longo prazo do que no curto, o que pode ser um reflexo dos custos iniciais associados ao investimento em alguns programas de ESG.
Atualmente, os respondentes que afirmaram que os programas de ESG agregam valor são unânimes em sua percepção sobre o valor de longo prazo de programas ambientais. Os programas sociais e de governança, por sua vez, apresentaram níveis semelhantes, com 93% dos respondentes afirmando que os programas sociais contribuem de forma positiva no longo prazo, em comparação com 77% em 2009. Da mesma forma, a parcela de executivos que declarou que os programas de governança contribuem positivamente no longo prazo cresceu em relação à pesquisa anterior. Na pesquisa atual, os executivos apresentaram praticamente a mesma probabilidade que os profissionais de investimento (cerca de 90% em ambos os casos) de afirmar que os programas de governança contribuem de forma positiva no longo prazo, o que não ocorreu na pesquisa anterior. (Veja os resultados dos executivos no quadro interativo abaixo, no idioma original).
Dentre os respondentes que veem valor nos programas de ESG, a maioria agora afirma que esses programas agregam valor aos acionistas no curto prazo. Dois terços desses respondentes disseram que os programas sociais agregam valor no curto prazo, representando um aumento em relação aos 41% obtidos dez anos atrás. Um pouco mais de sete em cada dez declararam que os programas de governança têm efeito positivo no curto prazo, comparados com 67% da pesquisa anterior4. Desde 2009, a proporção de profissionais de investimento que relataram impacto positivo dos programas de governança permaneceu estável e, atualmente, tanto eles como os executivos apresentam praticamente a mesma probabilidade de afirmar que esses programas têm impacto positivo no curto prazo.
Independentemente de acreditarem ou não na criação de valor dos programas de ESG nos dias de hoje, as expectativas dos respondentes sobre seu valor futuro se refletem no modo como eles avaliam um registro positivo de ESG ao comparar fusões e aquisições hipotéticas. Frente à oportunidade hipotética de adquirir um novo negócio, os respondentes em todo o espectro afirmaram que estariam dispostos a pagar um premium de cerca de 10% por uma empresa que apresentasse um registro positivo em questões de ESG, em relação a outra com registro negativo. Essa mediana de valor é relativamente consistente entre CEOs e outros altos executivos, assim como entre respondentes em diferentes localidades e empresas com distintos focos, tamanhos e estruturas societárias.
No entanto, a distribuição das respostas foi ampla. Alguns grupos de respondentes veem um valor extraordinário em registros positivos de ESG. Um quarto deles afirma que estariam dispostos a pagar um premium de 20% a 50%, enquanto que 7% pagariam mais de 50%5. Mesmo aqueles que afirmam que os programas de ESG não aumentam o valor aos acionistas estão dispostos a pagar 10% a mais por uma empresa com registro positivo, enquanto que a mediana entre aqueles que acreditam que os programas de ESG aumentam o valor aos acionistas é de um premium de 15%.
Contribuições do ESG à performance financeira
Manter a boa reputação da empresa e atrair e reter talentos continuam sendo citados mais frequentemente como as formas que os programas de ESG geram melhorias na performance financeira, ainda que outras percepções sobre os efeitos do ESG tenham mudado em relação à pesquisa anterior (Quadro 2). Os respondentes que afirmaram que os programas de ESG aumentam o valor aos acionistas têm maior probabilidade hoje – do que há uma década – de afirmar que as principais formas pelas quais os programas melhoram a performance financeira incluem o fortalecimento do posicionamento competitivo da organização6 e o atendimento das expectativas da sociedade quanto ao bom comportamento empresarial. Em outra pergunta direcionada aos respondentes que afirmaram que os programas de ESG aumentam o valor aos acionistas, mais da metade declarou que a existência de programas de ESG de alta performance é um indicativo de boa gestão, o que está em linha com os resultados de 2009.
A pesquisa também consultou todos os respondentes para entender quais aspectos das atividades relacionadas a ESG são mais importantes. A ampla maioria mencionou o compliance, e eles têm maior probabilidade de afirmar isso na pesquisa atual do que em 2009 (Quadro 3). Os respondentes apresentaram menor probabilidade na pesquisa atual do que na anterior de identificar que as mudanças nos processos de negócios, a fim de incorporar boas práticas de ESG, estejam entre as atividades mais importantes. Notavelmente, as respostas dos profissionais de investimento e dos executivos foram relativamente similares.
Considerando fatores de ESG nas decisões estratégicas e operacionais
Os executivos e profissionais de investimento relataram que normalmente levam as questões de ESG em consideração quando precisam tomar decisões estratégicas e operacionais. Mais de sete em cada dez respondentes relatam que eles – ou, no caso dos executivos, as suas organizações – consideram em parte ou totalmente as questões de ESG ao conduzir avaliações de competidores de uma empresa e de seus supply chains. Da mesma forma, cerca de oito em dez afirmam que consideram pelo menos em parte as questões de ESG nas suas avaliações de potenciais projetos de capital.
Quando perguntados se eles ou suas organizações monitoram o impacto de programas de ESG em vários grupos de stakeholders, os respondentes indicaram que consideram uma série de stakeholders diferentes (Quadro 4). Cerca de metade deles afirmou considerar totalmente ou em grande parte o impacto no conselho executivo, órgãos reguladores e investidores, enquanto que aproximadamente um terço considera o impacto em pares e associações da indústria, futuros funcionários e ONGs. Comparados com os executivos, os profissionais de investimento deram indícios de que consideram o impacto de programas de ESG em uma gama muito mais ampla de stakeholders. Enquanto os conselheiros são os únicos stakeholders que mais da metade dos executivos dizem ser considerados por suas organizações, mais da metade dos profissionais de investimento afirma que levam em consideração o impacto dos programas nos conselheiros, comunidades, investidores, futuros clientes e órgãos reguladores.
A busca por dados e relatórios significativos sobre ESG
A parcela de respondentes que concorda que os padrões e frameworks dos relatórios de ESG são úteis para a interpretação do valor dos programas aumentou em 15 pontos percentuais desde 2009. No entanto, quando perguntamos aos profissionais de investimento e executivos os motivos pelos quais suas organizações não incluem totalmente as considerações sobre ESG nas avaliações de competidores, fornecedores ou dos principais mercados de capitais, ambos os grupos afirmaram com mais frequência que os dados são insuficientes (Quadro 5)7. Outros dos principais motivos relatados referem-se à usabilidade dos dados: as contribuições não têm muita relação com o valor ou falta expertise analítica.
Nesse sentido, quando solicitados a identificar quais características dos sistemas de geração de relatórios de ESG seriam as mais importantes, eles não surpreendentemente citaram com mais frequência a quantificação do impacto financeiro dos programas (53%) e a mensuração dos riscos e oportunidades do negócio (47%). A terceira característica mais citada, apontada por 40% dos respondentes, foi um conjunto consistente de métricas específicas da indústria. Isso poderia explicar por que os sistemas mais comumente valorizados por profissionais de investimento são os frameworks e padrões de geração dos relatórios, bem como os padrões de certificação e acreditação, tais como o SA80008. Por outro lado, índices obtidos por meio de votação, mídia e empresas de relações públicas têm uma menor probabilidade de serem valorizados – dois terços dos profissionais de investimento afirmam que tais índices não têm valor ou são valorizados apenas em parte.
Quando questionados sobre quais aspectos das ferramentas melhorariam a comunicação entre as organizações e os investidores ou analistas, a maior parte dos profissionais de investimento citou relatórios corporativos integrados que incluam dados financeiros corporativos e dados financeiros e outros dados dos programas de ESG. Enquanto a metade desses respondentes mencionou que relatórios integrados teriam o maior impacto, apenas um terço dos executivos concordou com essa afirmação (Quadro 6).
Olhando para o futuro
Atualmente, os executivos e profissionais de investimento em geral reconhecem que as questões de ESG podem afetar a performance de uma empresa e que o impacto financeiro dos programas de ESG provavelmente irá aumentar à medida que as expectativas e o escrutínio de investidores, consumidores, funcionários e stakeholders continuem crescendo. Mesmo nas indústrias que divulgaram registros de ESG mais complicados, tomar ações nessas áreas pode ajudar as empresas a lidar com a pressão cada vez maior dos stakeholders, diferenciando-as dos competidores e posicionando-as para criar mais valor.
O crescente interesse na performance de ESG das empresas resultou em uma proliferação de relatórios, rankings, solicitações de investidores e analistas, e outros mecanismos de transparência. As respostas obtidas nesta pesquisa revelam um anseio quase universal por parte dos investidores e executivos de aprimorar as abordagens atuais e criar métricas e padrões de dados de ESG que sejam fáceis de utilizar. Embora não seja viável – nem válido – reportar acerca de tudo, as empresas podem focar na comunicação das informações mais críticas da maneira que os principais stakeholders valorizam. Os profissionais de investimento desejam que os dados de ESG sejam mais padronizados, mais bem integrados com os dados financeiros, de forma que possam ser prontamente comparados. Tais dados também poderiam beneficiar os líderes de ESG das empresas, que poderiam usá-los internamente como catalisadores de mudanças. Por exemplo, o planejamento de cenários requerido pelos padrões da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (em inglês, Task Force on Climate-Related Financial Disclosures - TCFD) pode ajudar na gestão de riscos relacionados a mudanças climáticas.
Com base na pesquisa anterior, sabemos que uma sólida performance em questões de ESG pode impulsionar o crescimento da receita, reduzir custos, minimizar intervenções legais e regulatórias, melhorar a produtividade dos funcionários e focar os investimentos e os gastos de capital. A disposição dos respondentes em pagar um premium por empresas com sólida performance de ESG e a crença de que a performance está associada à qualidade da gestão em geral indicam que mais investidores e executivos irão incorporar as questões de ESG a suas decisões financeiras e estratégicas. Se as mudanças que ocorreram na última década forem um prenúncio da próxima década, o valor de ESG tende a aumentar cada vez mais. As empresas que não estiverem totalmente comprometidas com essas questões correm o risco de perder o seu valor.