A maioria das pessoas hoje pode esperar chegar à velhice e 1,6 bilhão terão mais de 65 anos em 2050. O desafio – e a oportunidade – do aumento da expectativa de vida está em assegurar que esses anos adicionais sejam tão saudáveis e produtivos quanto possível. É um objetivo alcançável, afirma o economista britânico Andrew J. Scott, se deixarmos de lado a noção de uma sociedade envelhecida e pensarmos em uma sociedade longeva, ancorada em prevenção, inovação e investimento.
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Scott é professor de Economia na London Business School, cofundador do Longevity Forum e coautor de The 100-year life, que já vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Seu último livro, The longevity imperative: How to build a healthier and more productive society to support our longer lives, descreve o que precisa acontecer nos setores público, privado e social para estimular o que chama de “economia perene”.1
Como parte da série Conversations on Health do McKinsey Health Institute (MHI), Scott esteve recentemente com Ellen Feehan, sócia da McKinsey e colíder da equipe de longevidade saudável do MHI, para discutir o significado da longevidade saudável e por que ela deve ser uma prioridade de todos nós – independentemente de idade, região ou setor.
O que segue é uma versão editada dessa conversa.
Ellen Feehan: O que é, para você, longevidade saudável?
Andrew Scott: Algo extraordinário aconteceu. A expectativa de vida global superou os 70 anos. Nos países de alta renda, 50% das crianças podem esperar viver até os 80 ou 90 anos. Estamos vivendo mais, embora não necessariamente com mais saúde. Além disso, precisamos assegurar que nos manteremos produtivos e engajados por mais tempo. É isso que considero longevidade saudável: a capacidade de desfrutar essa duração extra de modo que não só nossa vida se prolongue, mas também nos mantenhamos saudáveis, engajados e produtivos por mais tempo.
Ellen Feehan: Por que longevidade saudável e não envelhecimento saudável?
Andrew Scott: Sem querer ser excessivamente purista, tenho um problema com a palavra “envelhecer”. Acho que medicalizamos a velhice e a vemos somente como uma forma de declínio. Sim, é claro que se trata de envelhecimento saudável, mas se quisermos pensar em longevidade, temos que reconhecer que se trata também do tempo extra que temos diante de nós. Não importa se estamos com 20, 50, 70 ou 80 anos; todos nós temos mais tempo pela frente do que as gerações anteriores. E é por isso que acho tão importante focarmos a longevidade, o tempo que nos resta, qualquer que seja nossa idade. O que é envelhecimento saudável? Acho que as pessoas o veem como algo que simplesmente acontece – “Ah, pensarei nisso mais tarde”. O fato é que podemos melhorar o modo como envelhecemos a qualquer momento, mas o quanto antes começarmos, melhor.
Ellen Feehan: Em 2050, 1,6 bilhão de pessoas terão mais de 65 anos. Quais são as oportunidades dessa mudança demográfica?
Andrew Scott: Fico feliz que você tenha utilizado a palavra “oportunidade”, pois normalmente uma sociedade em processo de envelhecimento é vista como algo ruim. É como se disséssemos: “Oh, meu Deus, temos uma sociedade envelhecida!”. Mas é definitivamente uma oportunidade. E acho que há duas maneiras de lidarmos com isso. Primeiro, sempre ouvimos as pessoas dizerem: “Bem, há muitas oportunidades porque os idosos precisam de tantas coisas”. No entanto, acho que há uma mudança mais profunda em andamento. Chamo isso de sociedade perene ou economia perene. Estamos vivendo mais, mas precisamos permanecer saudáveis por mais tempo. Precisamos nos manter engajados por mais tempo. O que as pessoas podem fazer por mim para me ajudar a alcançar isso?
É verdade que, se tiver demência ou ficar doente no fim da vida, eu vou gastar dinheiro para que alguém cuide de mim. Por outro lado, eu estou disposto a gastar uma fortuna para evitar a demência. E é isso que quero dizer com economia perene. Quais são as coisas que posso fazer aos 30, 40, 50, 60 anos que me ajudarão a manter minha saúde, meu propósito, meu senso de engajamento na sociedade. As oportunidades são tremendas: para a indústria do lazer, para a indústria de alimentos e bebidas, para a educação, para os serviços financeiros. E, é claro, também para os produtos de saúde. É uma gigantesca oportunidade de mercado porque, em todo o mundo, todos estão vivendo mais, todos têm a expectativa de mais tempo pela frente. Portanto, o modo como envelhecemos é extremamente importante.
Ellen Feehan: Qual é o papel que os empregadores e as organizações devem desempenhar?
Andrew Scott: Acho que têm um papel duplo. O primeiro, obviamente, é o modo como tratam seus funcionários; e o outro são os produtos que produzem. Muitas mudanças precisam acontecer agora, pois temos que nos adaptar a essa vida mais longa. Muitos novos produtos. Muitos novos serviços. A maioria das empresas, quando converso com elas, vê os maiores de 65 anos como um único mercado – um mercado invariavelmente voltado para coisas como cuidados pessoais e debilidade – e subestima drasticamente a capacidade das pessoas mais idosas. Esta parece ser uma crença intrínseca ao conceito de sociedade em envelhecimento. Isto é, poucos veem o enorme mercado potencial de um número cada vez maior de pessoas que tendem a ter mais dinheiro do que os jovens. Portanto, penso que, em termos de produtos, existem oportunidades imensas, pois estamos entrando num período profundo de mudanças sociais e as empresas são o braço de distribuição dessas mudanças.
Os empregadores acabarão constatando que uma proporção crescente de sua força de trabalho é formada por pessoas mais idosas. Nos últimos dez anos, nos países de alta renda, a maior parte da expansão do mercado de trabalho foi impulsionada por trabalhadores com mais de 50 anos. As empresas tendem a focar demais nos funcionários mais jovens: “Como podemos atraí-los?” Porém, se não tomarem cuidado, perderão muitos talentos mais velhos e experientes. Além disso, equipes com idades diversificadas costumam contribuir para o bom funcionamento das empresas. Penso que, com demasiada frequência, as empresas se mostram cegas à experiência e ao conhecimento dos trabalhadores de mais idade. É importantíssimo que pensem como reter esse capital humano e encontrem formas de adequar seus empregos a pessoas mais idosas, assegurando ao mesmo tempo que a força de trabalho possa desfrutar os benefícios da diversidade de gerações.
Ellen Feehan: Em 2023, o MHI conduziu uma pesquisa global com 21 mil adultos de certa idade sobre como veem o envelhecimento. No geral, os entrevistados concordaram quanto à importância de um propósito pessoal e do engajamento social à medida que envelhecem. Costumamos insistir no ditado: “Idade é apenas um número”. O que essa frase significa para você?
Andrew Scott: Eu realmente adorava essa expressão, mas quanto mais penso nela, mais fico confuso, pois me vem a pergunta: “Qual número?” Será que isso tem alguma utilidade? Acho que estamos focados demais na idade cronológica. Estamos focados demais em quantas velas há no bolo de aniversário.
E essa é a base do etarismo – a ideia de que nossa idade cronológica determina nossos comportamentos. Mas creio que existem duas outras definições muito importantes de idade. Uma é a chamada “idade prospectiva”: o número de anos que podemos esperar viver. Aos 58 anos, eu devo me comportar de maneira diferente de meu pai e de meu avô aos 58, pois tenho mais anos pela frente. A outra forma importante de pensar a idade é a nossa idade biológica – costumamos dizer, “Você está com ótima aparência para sua idade”, o que é um reconhecimento informal do conceito de idade biológica.
Se quisermos envelhecer bem, precisamos garantir que nossa idade biológica permanecerá o mais jovem possível por mais tempo. Quanto à idade cronológica, não tenho certeza se é útil, pois tende a ser um conceito bastante enganoso. O que precisamos é pensar de maneira muito diferente sobre o envelhecimento. Em última análise, o que temos de mudar é o modo como envelhecemos para não sobrevivermos à nossa saúde, aos nossos bens, às nossas finanças, às nossas competências, aos nossos relacionamentos. Se realmente quisermos mudar o modo como envelhecemos, qualquer que seja nossa idade, temos de nos comportar de maneira diferente das gerações anteriores.
Ellen Feehan: Você poderia explicar por que a colaboração e a formação de parcerias ao longo da vida são importantes no âmbito da longevidade saudável?
Andrew Scott: Acho que a longevidade é uma questão extremamente importante, lado a lado com a inteligência artificial e as mudanças climáticas em termos de importância. Seja em termos individuais ou coletivos, poucas coisas serão tão importantes para nosso futuro quanto a maneira como cada um de nós envelhece. É meio óbvio, não? No entanto, a maneira de envelhecer não é uma coisa simples, pois há muitos fatores envolvidos. Dependerá dos produtos que eu comprar. Dependerá do que meu empregador fizer. Dependerá do meio ambiente, da minha comunidade, das normas sociais. Abrangerá muitas áreas diferentes. Seja como indivíduos, comunidades ou governos, temos de realmente aprender a privilegiar nossa vida estendida. Isso exigirá muitas mudanças bastante tecnocráticas na economia, no setor financeiro e nos sistemas de saúde. Acima de tudo, porém, é uma questão eminentemente pessoal. Sabemos que vive mais quem tem um senso de propósito, um senso de comunidade e um senso de engajamento social. Em outras palavras, adaptar-se a uma vida mais longa é, em certo sentido, a suprema atividade colaborativa do ser humano.