Como a IA já está transformando a função financeira

Observação: Nós nos empenhamos ao máximo para manter o espírito e as nuances originais de nossos artigos. Porém, pedimos desculpas desde já por quaisquer erros de tradução que você venha a notar. Seu feedback é bem-vindo através do e-mail reader_input@mckinsey.com

Neste episódio do podcast At the Edge, Sarah Friar, CFO da OpenAI, conversa com Lareina Yee, sócia sênior da McKinsey, sobre como liderar nestes momentos de intensa adaptação tecnológica e o que isso significa para o futuro da função financeira e da liderança empresarial.

A transcrição a seguir foi editada para maior clareza e concisão.

Como será a equipe financeira do futuro

Mais insights da McKinsey em português

Confira nossa coleção de artigos em português e assine nossa newsletter mensal em português.

Navegue pela coleção

Lareina Yee: Você ocupou cargos de liderança em empresas como Salesforce, Square e Nextdoor, e agora, como diretora financeira da OpenAI, está literalmente na vanguarda da utilização da IA generativa para automatizar inúmeras atividades da função financeira. Como tem sido essa experiência? Como você imagina a equipe financeira do futuro?

Sarah Friar: É uma experiência incrível trabalhar na construção de uma plataforma do futuro, utilizando uma ferramenta capaz de realizar tarefas cada vez mais complexas e capacitar as pessoas para trabalharem com mais eficiência e criatividade.

O que isso significa hoje na vida real, para a nossa função financeira, é que estamos utilizando o ChatGPT para, por exemplo, unificar dados de diferentes fontes e codificar as faturas de contas a pagar. Isso agiliza o processo de fechamento dos livros financeiros, algo que todos os controladores sempre almejaram.

As relações com investidores são outro bom exemplo de como utilizamos a GenAI na função financeira. Acabamos de concluir uma rodada de financiamento e estávamos nos sentindo meio sufocados com a enxurrada de perguntas que os investidores nos fizeram como parte do processo de due diligence. Resolvemos então criar um GPT personalizado para as relações com investidores. Alimentamos o modelo com todas as perguntas que havíamos respondido até aquele momento e com a nossa proposta de gestão, e o instruíamos a não buscar respostas externamente, pois há muitas informações incorretas publicadas sobre a OpenAI. E agora contamos com um GPT para relações com investidores que nos possibilita responder a perguntas em segundos, algo que antes levava horas ou mesmo um dia inteiro.

Coisas assim mudaram minha vida. Além disso, a tecnologia expandiu o conjunto de habilidades da equipe. Por exemplo, em finanças, é extremamente útil que haja alguém que saiba escrever código ou fazer consultas SQL [linguagem de consulta estruturada]; no entanto, estas não são habilidades comuns entre os profissionais da área. Se antes tínhamos de pedir ajuda à nossa organização técnica, agora podemos simplesmente pedir ao ChatGPT que faça essas consultas. Com isso, nossa equipe evoluiu dos meros cálculos numéricos para verdadeiras parcerias de negócio.

Hoje, ainda há muito no departamento financeiro que consiste em olhar para trás, não para a frente. Espero que daqui a cinco anos, se olharmos para trás, vejamos o quanto as coisas que fazemos hoje estão ultrapassadas, o quanto nossos métodos estão desatualizados.

Lareina Yee: Se tudo isso já é possível agora, como será a função financeira em cinco anos? O que você espera que se consiga fazer com a GenAI?

Sarah Friar: Eu realmente espero que nos tornemos o berço dos insights de negócios, levando a empresa a crescer mais e mais rápido. Hoje, ainda há muito no departamento financeiro que consiste em olhar para trás, não para a frente. Espero que daqui a cinco anos, se olharmos para trás, vejamos o quanto as coisas que fazemos hoje estão ultrapassadas, o quanto nossos métodos estão desatualizados. Quero poder olhar para minha equipe e ver que todos trabalham com vistas ao futuro e são orientados por insights, e que grande parte do trabalho que realizamos hoje se tornará algo rotineiro que a GenAI fará por nós.

A importância de ocupar uma posição que tenha impacto

Lareina Yee: Você ocupou muitos cargos diferentes ao longo de sua carreira. Foi recentemente CEO da Nextdoor e, antes disso, avançou de CFO para COO e CEO em outras empresas. E agora está de volta à função de CFO. Poderia falar um pouco sobre algumas dessas decisões?

Sarah Friar: O que costumo dizer às pessoas que mentoreio é que esqueçam essa história de títulos – apenas deem o melhor de si e assumam uma posição na empresa na qual o seu conjunto de habilidades e a sua capacidade de ter impacto positivo se harmonizem. Devemos querer chegar onde possamos ter o máximo impacto.

A razão que me trouxe para a OpenAI é simples: aqui eu estou no fulcro das transformações provocadas pela inteligência artificial. Não foi uma decisão difícil. Até meus filhos ficaram meio impressionados e interessados, porque todo mundo está falando sobre o que está acontecendo na OpenAI. Poder olhar debaixo do pano e realmente ver para onde a pesquisa está nos levando é um enorme privilégio. Outra coisa importante para mim é ser um líder num sentido humano – é importante que tenhamos diversidade em torno dessas mesas enquanto construímos as tecnologias que estão literalmente mudando o mundo.

Quanto à função de CFO, talvez ainda seja um dos meus cargos favoritos, pois dirigir as finanças é também promover estratégias e capacitar pessoas. Nas entrevistas individuais que faço aqui na OpenAI (e já fiz mais de 80), sempre pergunto: “O que posso fazer para acelerar você?” Para mim, este é o tópico mais importante em toda conversa privada que tenho com meus colegas. Gosto de ser a pessoa que está descobrindo como dizer “sim”.

Como podemos construir uma comunidade que abra um mundo de possibilidades e oportunidades, um mundo que não seja mais movido pelo medo?

Lareina Yee: De modo que o cargo em si não é o objetivo. Mas, ao longo do tempo, você foi adquirindo habilidades que a colocaram bem no centro de mudanças extraordinárias. Poderia nos contar um pouco sobre algumas dessas habilidades, que são atemporais e independem de quaisquer mudanças na tecnologia e até mesmo do advento da IA?

Sarah Friar: Primeiro e mais importante é saber como desmembrar e resolver problemas, e também como se comunicar. Depois vem uma postura estratégica. Muitas pessoas não sabem definir bem o que é estratégia. Suas táticas se tornam a sua estratégia, em vez de desenvolverem uma estratégia que seja acompanhada de táticas. Acho que essas duas habilidades sempre me ajudaram a impulsionar qualquer negócio em que eu tenha trabalhado.

Em seguida, eu destacaria a importância de entender o ponto onde comunidade, afabilidade e compaixão se encontram, garantindo assim que eu não perca quem eu sou para as circunstâncias do meu trabalho. Uma noite dessas, uma das pessoas que estavam comigo sugeriu que eu perguntasse ao ChatGPT o seguinte: “Com base no que você sabe sobre mim, ChatGPT, qual é a coisa mais importante que eu não sei sobre mim mesma?” Um prompt bem intrigante, não?

E a resposta foi que o fato de eu ter crescido na Irlanda do Norte continua moldando a pessoa que sou hoje. Adorei a resposta, pois me lembrou da importância da cultura em que fui criada. Por exemplo, vejo que tudo o que meus pais investiram na comunidade está agora retornando para eles. Como são atualmente parte da geração mais velha, recebem constantemente o cuidado e a atenção dos vizinhos, que sempre se certificam de que estão bem. Isso faz com que se sintam verdadeiramente apoiados.

De modo que é nesses termos que penso a comunidade que estou construindo em meu trabalho – seja a comunidade da minha empresa ou a comunidade do meu ecossistema. Ou como nós da OpenAI somos percebidos em um mundo no qual nos tornamos sinônimos de inteligência artificial. Como podemos construir uma comunidade que abra um mundo de possibilidades e oportunidades, um mundo que não seja mais movido pelo medo?

A IA em prol dos negócios e da democracia

Lareina Yee: Você publicou recentemente um artigo na Digitalist Papers, do Stanford Digital Economy Lab, no qual escreve sobre como a tecnologia pode amplificar e aumentar a benevolência e os vínculos comunitários. É uma noção que muitas pessoas devem julgar contraintuitiva. Poderia falar um pouco a respeito?

Sarah Friar: Minha coautora, Laura [Bisesto], e eu acreditamos firmemente que, para se criar uma democracia salutar no nível das pessoas comuns, os vínculos com a comunidade são a base de tudo. Quando as pessoas se sentem conectadas, elas têm confiança e são capazes de abraçar a ideia de que vivem em uma sociedade democrática. Percebem que há um senso de justiça no modo como as coisas são feitas. Portanto, quando se está tentando construir uma comunidade e estimular a confiança, a comunicação é tudo, e a IA pode ser uma grande aliada para reduzir falhas de comunicação. Quando eu era CEO da Nextdoor, utilizamos a API da OpenAI para incentivar as pessoas a reescrever seus comentários em nossa plataforma que pudessem ser percebidos como perniciosos. Verificamos que muitas vezes bastava a GenAI exibir um lembrete de gentileza e sugerir a reformulação de uma mensagem tida como ofensiva.

Comunidades prósperas e saudáveis tendem a criar um ambiente no qual a democracia pode florescer.

Além disso, existe um componente comercial em toda comunidade. O que fortalece uma vizinhança? Não são apenas as relações entre os moradores. É todo o ecossistema. São as escolas, as igrejas, os times esportivos e, definitivamente, os negócios. Tenho um apreço especial por pequenas empresas, particularmente as criadas e geridas por mulheres e pessoas não binárias, nas quais o fundador faz de tudo: é CEO, consultor jurídico, chefe de marketing e diretor financeiro. Há tanto a ser feito e o marketing é uma das áreas que realmente podem deslanchar ou quebrar o negócio. Acreditamos que a IA seja capaz de impulsionar um negócio ajudando a elaborar coisas básicas, como um plano de marketing, e criando estímulos econômicos para a comunidade. E comunidades prósperas e saudáveis tendem a criar um ambiente no qual a democracia pode florescer.

Talvez o elemento mais relevante seja o governo. Como o governo deve utilizar a IA para aumentar a personalização e individualizar a comunicação com a população? Hoje falamos muito em blocos eleitorais, como se esses grandes grupos homogêneos da sociedade fossem todos iguais. Não são; todos nós temos necessidades e desejos diferentes. Mas os custos de nos tratar como indivíduos sempre foram proibitivos para o governo. Agora, porém, com as tecnologias baseadas em grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, podemos de repente ter uma personalização incrível.

Por exemplo, o estado de Minnesota hoje utiliza o ChatGPT para tornar serviços públicos mais acessíveis a pessoas que não falam inglês. Com a automatização de todo o processo de tradução, economiza-se horas do tempo das pessoas e centenas de milhares de dólares em custos mensais. Além de se criar uma experiência mais personalizada; se eu sou um refugiado ou um imigrante recente que precisa de uma ajuda inicial (o que geralmente inclui montar um negócio), o Estado pode agora oferecer um suporte muito mais individualizado. Estes são apenas alguns exemplos táticos de como a IA poderá fortalecer os fundamentos da democracia.

Como as empresas já estão utilizando a GenAI

Lareina Yee: Vamos mergulhar um pouco nas inovações que estão ocorrendo na OpenAI. Como você vê a GenAI remodelando os negócios no futuro e quais casos de uso você já tem visto hoje e espera ver no futuro?

Sarah Friar: Estive recentemente em Nova York com clientes e posso compartilhar algumas observações. O Morgan Stanley é um ótimo exemplo de uma plataforma capaz de organizar seu gigantesco acervo de conhecimentos, particularmente em áreas como pesquisa, e utilizá-lo para automatizar as operações. Isso permite levar informações aos clientes com mais eficiência, seja gerando resumos de videoconferências ou redigindo e-mails de follow-up. Com esse nível de automação, os gestores de patrimônio podem se concentrar mais nos clientes, pois não precisam mais se preocupar com as etapas necessárias para enviar e-mails de acompanhamento.

A Klarna é mais um exemplo. Eles estão ruidosamente orgulhosos do quanto o novo sistema digital de compras que construíram sobre nossa API tem ajudado os clientes a encontrar os produtos certos pelos melhores preços – e reduzido significativamente os custos do atendimento ao cliente. O Mercado Libre também estava presente em nosso evento na semana passada e seu diretor de tecnologia explicou a todos os presentes que a empresa utilizava o ChatGPT para gerenciar autonomamente as decisões de atendimento ao cliente. Isso representa um impacto financeiro de cerca de $450 milhões anuais em nossa plataforma, prova do quanto nossa tecnologia está transformando o mercado e proporcionando economias de custos.

A Square é outro. Sua equipe de atendimento ao cliente tem uma das minhas metas favoritas: “transformar perguntas em negócios”. Ou seja, quando o cliente faz alguma pergunta sobre algo que precisa ser corrigido, a própria interação é utilizada para lhe agregar valor, impulsionar seus negócios e gerar novas receitas. Quanto mais vemos o atendimento ao cliente como um momento de ajudar o cliente a alcançar resultados ainda melhores, mais todos saem ganhando. E a IA está ajudando as empresas a fazer justamente isso.

Lareina Yee: A OpenAI lançou recentemente novos recursos de raciocínio artificial e isso nos traz à questão dos agentes e da chamada “tecnologia agêntica”, que permite à IA tomar decisões e aprender com sua própria experiência para atingir objetivos sem supervisão humana direta. Você poderia nos ajudar a entender como esse tipo de raciocínio artificial leva à tecnologia agêntica?

Sarah Friar: Lançamos dois novos modelos com capacidade de raciocínio autônomo: o1-preview e o1-mini. É um passo importante em nosso caminho rumo à inteligência geral artificial (AGI), que é a nossa missão: a AGI para o benefício da humanidade. As capacidades de raciocínio dos modelos vão evoluindo até se tornarem agentes, ou tecnologia agêntica. Isso faz com que os modelos sejam capazes de raciocinar em situações em que, historicamente, seria necessário incorporar códigos de software, o que sempre implicava um número excessivo de exceções e frequentemente resultava em um beco sem saída.

O próximo passo realmente assombroso será a inovação agêntica, pois a IA estará então contribuindo para criar novos conhecimentos no mundo.

Com a tecnologia agêntica, a IA será capaz de realizar tarefas no mundo real e tomar algumas decisões por nós. Poderá ser algo tão simples como: “Encomende algo para jantarmos em família hoje à noite”. Mas é possível extrapolar esse tipo de decisão para coisas de maior duração, como os processos de crédito em um banco – partindo de um cliente que precisa alocar dinheiro de sua conta quando começa a gastar para expandir um negócio.

O próximo passo realmente assombroso será a inovação agêntica, pois a IA estará então contribuindo para criar novos conhecimentos no mundo. Quando ouvimos Sam [Altman] e outros da OpenAI falar sobre curar doenças que nunca conseguimos erradicar ou sobre resolver problemas relacionados à mudança climática, eles estão se referindo a momentos em que a inovação está efetivamente ocorrendo. E já estamos bem avançados nesse continuum.

Trabalhando melhor com a GenAI

Lareina Yee: O que isso significa em termos do modo como as equipes trabalham juntas?

Sarah Friar: Será fascinante ver como o mundo do trabalho evolui, especialmente se incluirmos as comunicações multimodais. Os modos avançados de conversação nos obrigaram a aprender a falar com nossos polegares – meus filhos adolescentes são certamente especialistas nisso. Mas agora estamos retornando a um mundo de comunicação multimodal, no qual as interações com a tecnologia parecerão mais humanas à medida que combinarmos métodos diferentes para nos comunicar.

Isso poderá ser fenomenal para as gerações mais velhas. Minha mãe tem degeneração macular em estágio avançado e não consegue digitar com os polegares nem ler a maioria das coisas aparecem na pequena tela de seu celular. Assim, dadas as suas limitações, se ela pudesse interagir verbalmente com a tecnologia, esta se tornaria uma maneira mais natural de se comunicar.

Lareina Yee: Durante a pandemia, alteramos o local físico do trabalho, mas mantivemos as modalidades e os horários quase inalterados. Por sua vez, a comunicação multimodal poderá transformar muitas das nossas premissas básicas. Em breve, poderemos ter agentes de IA fazendo parte de nossas equipes. E nosso relacionamento com as máquinas, assim como nosso relacionamento com nossos telefones, mudará profundamente.

Sarah Friar: Se algo semelhante à COVID acontecesse novamente e já tivéssemos a IA que estamos prestes a ter, em vez de um CFO ligar para sua equipe e dizer, “Precisamos fazer um planejamento de cenários às pressas”, ele poderia incorporar capacidades de raciocínio ao seu modelo financeiro e, conversando de forma natural, perguntar à IA: “Oi, modelo GPT, o que aconteceria se ninguém entrasse nas nossas lojas por seis meses? Como nossa empresa sobreviveria?” Embora eu, como CFO, seja capaz de conceber por conta própria vários cenários possíveis no caso de meu faturamento cair 10%, 20% ou até 40%, a possibilidade de consultar um modelo com um overlay de linguagem natural seria uma vantagem extraordinária para CFOs de todo o mundo.

Lareina Yee: Se entendi bem, você está dizendo que, em uma crise, o ideal é que as pessoas tomem as medidas que somente seres humanos podem tomar e que evitem ficar planejando cenários que uma máquina seja capaz de planejar.

Sarah Friar: Exatamente.

Tornar-se a preamar em que todos os barcos possam flutuar

Lareina Yee: Vamos mudar de assunto e falar sobre a Ladies Who Launch, a organização sem fins lucrativos que você cofundou para capacitar pequenas empresas pertencentes a mulheres e pessoas não binárias, e que oferece coisas realmente práticas como assistência financeira, mentoria e oportunidades de networking. O que a inspirou e o que você aprendeu com essa experiência?

Sarah Friar: A inspiração veio de um evento que realizamos na Square. Eu acabara de ingressar na empresa e queríamos fazer algo especial para o Dia Internacional da Mulher. Decidimos convidar algumas donas de empresas [que vendiam através da Square] para um evento noturno em nosso espaço. Eu não tinha a menor dúvida de que muitas pessoas compareceriam, já que Jack Dorsey [cofundador da Square] era o palestrante principal. E pensei: “Todo mundo quer falar com Jack. Isso é perfeito.”

Mas o que constatei naquela noite foi que, embora Jack estivesse fantástico, o que realmente beneficiou as mulheres e pessoas não binárias presentes foi, acima de tudo, a oportunidade de se encontrarem. Quem está em minoria sabe como é difícil entrar em uma sala e não ver ali ninguém parecido com você. Quando se está na maioria, a gente sequer percebe. Assim, antes de mais nada, criamos essa densidade para que todos pudessem se encontrar.

A segunda coisa que percebemos foi a importância de construir uma comunidade e promover a educação. Sim, foi ótimo ouvir alguém que construiu grandes empresas, mas as vendedoras queriam dicas práticas de pessoas que houvessem enfrentado circunstâncias semelhantes às delas. O que realmente queriam era ouvir pequenas empresárias falando sobre como haviam criado uma campanha de marketing para mídias sociais, ou elaborado um plano de negócios ou obtido seu primeiro financiamento.

A terceira coisa que aprendemos foi que ouvir umas às outras foi muito inspirador para todas elas. Quando mulheres conversam, elas tendem a falar sobre seus episódios de fracasso. É de uma humildade e autenticidade viscerais. Por exemplo, organizamos outro evento em que Jo Malone [empresária de fragrâncias] foi convidada a falar. Se você já sentiu o cheiro de uma vela Jo Malone ou perambulou por seus displays em um aeroporto, sabe o quanto seus aromas são maravilhosos. O que você talvez não saiba é que ela teve câncer e, com a quimioterapia, perdeu o olfato por mais de um ano. Para alguém cujo sustento e senso de identidade dependem, literalmente, do olfato, foi algo incrivelmente desafiador. Ouvi-la falar em público sobre isso foi um momento inesquecível. Lembro-me de mulheres comentando depois da palestra: “Se ela conseguiu, eu também vou conseguir”.

Vá em frente. Mesmo que não dê certo, você aprenderá muito. Não hesite: mergulhe de cabeça.

Lareina Yee: Com base nessas experiências e na sua própria carreira, que conselho você daria a uma jovem engenheira iniciante, ou que já esteja no mercado de trabalho há algum tempo e pense em tentar algo novo?

Sarah Friar: Primeiro, vá em frente. Mesmo que não dê certo, você aprenderá muito. Não hesite: mergulhe de cabeça. Segundo, dedique-se ao networking como ninguém. É uma ótima maneira de aprender e fazer as coisas acontecerem. Toda vez que se encontrar com alguém, pergunte ao final: “Haveria duas outras pessoas a quem você possa me apresentar?” É uma espécie de multiplicação forçada da sua rede de contatos. Pode ser que nada aconteça na sequência, mas todas as coisas vão se conectando com o tempo. Descobri que a serendipidade é algo real e que cerca de um ano depois algo acaba surgindo. E é então que me lembro: “Ah, foi aquela pessoa que conheci”.

Além disso, as mulheres costumam acreditar que precisam fazer algo por você antes de lhe pedir algo. No entanto, pesquisas mostram que, se eu lhe faço um pedido, você tende a adquirir um interesse pessoal em meu sucesso. Portanto, não hesite em pedir. É assim que as coisas acabam acontecendo.

Lareina Yee: É um bom conselho tanto para homens como para mulheres. Gostaria de passar agora para o campo pessoal com algumas perguntas breves. Eu já sei que você é ótima em priorizar exercícios e sono. Não sei como você consegue, mas sei que consegue. Você é uma coruja notívaga ou uma pessoa matinal?

Sarah Friar: Eu sou uma pessoa matinal. É quando tenho mais clareza e energia. Não há nada que eu ame mais do que sair para caminhar pouco antes do amanhecer. É quando surgem todas as minhas melhores ideias.

Lareina Yee: Você praticava remo na universidade. Sente falta disso?

Sarah Friar: Sinto falta da minha excelente forma física. E também da disciplina e coordenação que existem numa equipe de remo. Em um barco, não podemos competir entre nós; estamos lá para completar um conjunto de oito remadores e, em particular, nosso par dentro desse grupo. Quem pratica remo sabe do que estou falando: se nosso colega ao lado se inclinar ligeiramente para baixo, temos de inclinar para o lado oposto para equilibrar o barco. Se a sua pá entrar na água um pouquinho atrasada, temos de dar um jeito de sincronizar a nossa. Eu sempre ocupei o assento sete, que é uma posição muito interessante no barco, porque o remador oito é quem define o ritmo, mas é o sete que pega a cadência da puxada e a traduz para o resto da equipe.

Há muita confiança depositada no assento sete. Não importa o que a pessoa à frente esteja prestes a fazer, o assento sete está sempre transmitindo mentalmente uma mensagem para o resto do barco, “Não se preocupem, estamos dando conta. Vamos conseguir manter o ritmo.” Eu ainda adoro essa sensação até hoje. No trabalho, há uma sensação semelhante, mas eu realmente sinto falta de saber que vou entrar num barco e que essa sensação virá à tona.

Lareina Yee: Imagino que você sempre remava de manhã bem cedo. De modo que tudo se encaixa.

Sarah Friar: Tudo se encaixa.

Lareina Yee: Você é a pessoa que completa o barco… Creio que esta seja uma imagem perfeita da sua liderança. Sarah, muito obrigada por estar aqui conosco.

Sarah Friar: Eu que agradeço, Lareina. Foi um enorme prazer.

Explore a career with us