IA para o bem social: melhorando vidas e protegendo o planeta

| Relatório

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Os avanços da inteligência artificial nos últimos dois anos foram espantosos. Já é possível desenvolver, treinar e – o mais importante – implantar a IA em grande escala para muitos milhões de usuários, impactando todos os setores da economia e com a promessa de mudanças sociais positivas.

Por exemplo, a inteligência artificial já vem sendo utilizada para promover todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas – seja a eliminação da pobreza, a criação de cidades e comunidades sustentáveis ou a garantia de educação de qualidade para todos. E a IA generativa abriu ainda mais possibilidades. Em 2018, já estava claro que a inteligência artificial desempenharia um papel global importante impulsionando não só a produtividade e o crescimento da economia, mas também o bem social. Um relatório que publicamos na época descreve como os recursos da IA, desde o processamento de linguagem natural ao reconhecimento de sons e à capacidade de monitoramento, poderiam ser utilizados em 170 casos de uso para o benefício da sociedade1– incluindo o avanço da igualdade e da inclusão, melhores respostas a crises e a proteção do meio ambiente. No momento, já listamos cerca de 600 casos de uso, ou seja, mais de três vezes o número de seis anos atrás.2

Agora, em nosso relatório de 2024, reexaminamos como a IA pode se tornar, e já se tornou, parte fundamental das soluções voltadas a beneficiar as pessoas e o planeta, e, para tanto, mapeamos as inovações e os impactos em cada ODS (veja Box, “Metodologia”). Os ODS compreendem 17 objetivos e 169 metas subsidiárias que visam melhorar a vida de todos ao redor do mundo e proteger o planeta. Entretanto, conforme relato da ONU em 2023, o mundo caminha para alcançar apenas 15% dos ODS. Em termos práticos, isso significa que hoje 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso a água potável e higiene; 3,5 bilhões não têm acesso a saneamento básico seguro; cerca de 3,3 bilhões vivem em ambientes altamente vulneráveis a mudanças climáticas; e 750 milhões passam fome.

O potencial da IA em cada ODS e por que financiar a IA favorece o progresso

Embora a inteligência artificial irá afetar todos os ODS, os especialistas entrevistados acreditam que seu potencial de fazer uma diferença é particularmente elevado em cinco deles: Saúde e Bem-Estar (ODS 3), Educação de Qualidade (ODS 4), Ação contra a Mudança Global do Clima (ODS 13), Energia Limpa e Acessível (ODS 7) e Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11). Na verdade, 60% das implantações de IA em entidades sem fins lucrativos voltadas ao bem social ocorreram nestas áreas. Em termos do potencial percebido de utilização da IA, Fome Zero e Agricultura Sustentável (ODS 2), Vida Terrestre (ODS 15) e Paz, Justiça e Instituições Eficazes (ODS 16) são os que têm mais casos de uso implementados, ao passo que Educação de Qualidade (ODS 4), Energia Limpa e Acessível (ODS 7) e Ação contra a Mudança Global do Clima (ODS 13) são os que têm menos (Quadro 1). Excluímos os ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico), ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura) e ODS 17 (Parcerias e Meios de Implementação) de nossa análise da implantação da IA em entidades sem fins lucrativos, dos subsídios das fundações e dos financiamentos do capital privado porque, dada a ampla aplicabilidade da IA,3 a maioria dos projetos pode ser categorizada sob essas áreas.

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Ao analisarmos os financiamentos feitos para utilizar inteligência artificial em um ODS, constatamos haver um alinhamento direcional com o que os especialistas consideram as cinco áreas de maior potencial: tantos os subsídios das fundações como os financiamentos do capital privado estão mais concentrados em Saúde e Bem-Estar (ODS 3), Educação de Qualidade (ODS 4), Energia Limpa e Acessível (ODS 7), Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11) e Ação contra a Mudança Global do Clima (ODS 13). Além disso, cerca de 40% dos investimentos de capital privado nas 20 mil empresas com IA analisadas contribuíram direta ou indiretamente para pelo menos uma das 17 áreas temáticas dos ODS.4

Contudo, existem bolsões fascinantes de oportunidades. Basta considerarmos, por exemplo, a relativa escassez de financiamentos de capital privado em Educação de Qualidade (ODS 4). E quanto a Energia Limpa e Acessível (ODS 7) e Ação contra a Mudança Global do Clima (ODS 13), mais de 50% dos investimentos de capital privado foram destinados a veículos autônomos com vistas a melhorar a eficiência energética e reduzir as emissões. Isso sugere que ainda há muito espaço para entidades privadas mobilizarem capital para alguma área temática dos ODS em que a IA tenha um potencial elevado.

As disparidades geográficas na alocação de subsídios continuam elevadas. Partindo de uma base de dados de fundações majoritariamente norte-americanas, uma análise da localização dos principais beneficiários dos subsídios concedidos revela que, de 2018 a 2023, apenas 10% das subvenções a iniciativas de IA voltadas para um ou mais ODS foram destinadas a organizações em países de baixa ou média renda.5 Embora uma organização possa ter impacto fora do país onde está sediada, 60% dos especialistas que responderam à nossa pesquisa6 concordam que, atualmente, os esforços de IA não estão suficientemente focados em beneficiar países de renda mais baixa (em oposição a países desenvolvidos de renda mais alta) onde as necessidades e o impacto dos ODS podem ser maiores.

Desafios e riscos de escalar a IA para o bem social

As dificuldades para expandir a utilização da inteligência artificial em iniciativas voltadas ao bem social são persistentes e trabalhosas. Setenta e dois por cento dos entrevistados de nossa pesquisa especializada observaram que, até o momento, o foco da maioria dos esforços para implantar a IA para o bem social tem sido a pesquisa e a inovação, não a adoção ou expansão. Cinquenta e cinco por cento dos subsídios para estudos e projetos de IA relacionados aos ODS envolvem $250.000 ou menos, o que significa que a maior parte do dinheiro é utilizada em pesquisas específicas ou projetos de pequeno porte, não em expansão em grande escala. Afora as questões de financiamento, as maiores barreiras à expansão da inteligência artificial continuam sendo a disponibilidade, acessibilidade e qualidade (ou não) dos dados; a disponibilidade de talentos de IA e a facilidade ou dificuldade de acessá-los; a receptividade da organização; e a gestão das mudanças. Esses tópicos são examinados em maior profundidade no relatório completo.7aqui.

No processo de superarem esses desafios, as organizações também precisam estar cientes da necessidade de estratégias capazes de lidar com uma gama variada de riscos (por exemplo, resultados imprecisos, vieses nos dados de treino subjacentes, o potencial de informações errôneas em grande escala e a influência mal-intencionada sobre a política e o bem-estar pessoal). Como observamos em vários artigos recentes, é possível fazer mau uso das ferramentas e técnicas da inteligência artificial, mesmo que tenham sido concebidas para o bem social. Os principais riscos que os especialistas identificaram são o comprometimento da imparcialidade, a utilização mal-intencionada e as questões de privacidade e segurança, seguidos pela explicabilidade (Quadro 2).8 Entrevistados de organizações sem fins lucrativos revelaram-se comparativamente mais preocupados com desinformação, questões de talentos (como eliminação de empregos) e os efeitos da IA na estabilidade econômica do que seus colegas de empresas com fins lucrativos, que tendem a estar mais apreensivos com violações da propriedade intelectual.

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Acelerando a implantação da IA para o bem social

Avanços científicos aumentaram a eficácia da IA no reconhecimento, previsão e criação de padrões, um progresso que coincidiu com o número rapidamente crescente de implantações bem-sucedidas de inteligência artificial. Contudo, como vimos acima, ainda existem desafios para escalar a utilização da IA para alcançar os ODS. Para que o potencial da inteligência artificial se concretize, será preciso que os stakeholders colaborem mais de perto para garantir acesso aos talentos necessários e a soluções de dados robustas – e também a aplicações e modelos de IA de código mais aberto ou que sejam escaláveis em todas as geografias de usuários ao redor do mundo, para que possam atender às reais necessidades das pessoas.

Se colaborarem para encontrar maneiras de fazer com que a IA funcione em escala para o bem social, as organizações, governos, fundações, universidades, ecossistemas de desenvolvedores e empresas que têm o bem social como missão serão capazes de ajudar a resolver alguns dos problemas mais ferrenhos e desafiadores do mundo. Poderão ajudar a eliminar o tráfico de seres humanos, garantir que meninas e meninos de todo o mundo recebam a educação que merecem, proteger as florestas do desmatamento ilegal, promover a saúde e a segurança das mulheres grávidas e dos recém-nascidos e muito mais. Se não valer a pena lutar por essas coisas, o que valerá?

Leia o relatório completo, em inglês, aqui.

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