O metaverso: criando valor no setor de mobilidade

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Andar de carro é uma experiência corporal intensa, desde segurar o volante e pressionar o pedal do acelerador até sentir um solavanco quando o veículo para repentinamente. Um dia, as pessoas talvez experimentem essas mesmas sensações realizando um passeio virtual no metaverso – a próxima iteração da internet que permitirá que as pessoas mergulhem em um mundo digital que imita fielmente a realidade.

O metaverso plenamente funcional levará ainda cinco a dez anos, no mínimo, para se materializar, mas todos os interessados no setor de mobilidade já podem extrair valor comercial real do “proto-metaverso”. Essa encarnação preliminar é baseada na computação espacial e na realidade estendida (XR), termo genérico que abrange a realidade aumentada (RA), a realidade virtual (RV) e a realidade mista (RM). Esse “pré-metaverso” já vem turbinando as vendas e as operações do setor de mobilidade, e muitos dos principais OEMs e outros stakeholders estão lançando iniciativas no metaverso para explorar seus benefícios ao negócio principal.

Este artigo examina como algumas tecnologias selecionadas, disponíveis hoje ou no futuro próximo, poderão ajudar a expandir e diversificar os fluxos de receita do setor de mobilidade, consolidar a fidelidade à marca, melhorar a experiência do cliente e otimizar a produção. (Veja um panorama das tecnologias atuais e futuras no box, “A mobilidade avança rumo ao metaverso”.) Nesse sentido, será que OEMs automotivos conseguirão aumentar o reconhecimento da marca com aplicativos que permitam a potenciais compradores de carros participar de corridas virtuais altamente realistas no circuito de Le Mans? Será que mecânicos especializados poderão orientar o cliente a fazer reparos em casa utilizando um gêmeo virtual do motor? Tais experiências serão possíveis se o metaverso continuar avançando. Porém, mesmo antes do advento dessas experiências imersivas, os OEMs já têm muito a ganhar com as ferramentas e conceitos do metaverso.

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Testando produtos virtualmente: os clientes no metaverso

Em uma pesquisa recente da McKinsey com consumidores, 59% dos entrevistados disseram que preferem realizar pelo menos uma de suas atividades do dia a dia – socializar, fazer compras, exercitar-se ou estudar – no mundo virtual ao invés de presencialmente.1Value creation in the metaverse,” McKinsey, 14.jun.2022 Outra pesquisa indica ainda que há muito entusiasmo com o futuro metaverso em todos os grupos demográficos, independentemente de região, idade ou gênero.2Value creation in the metaverse,” McKinsey, 14.jun.2022.

Essas constatações são um bom sinal de que teremos mais e melhores experiências e tecnologias envolvendo o metaverso nos próximos anos. O mesmo é verdade de outros avanços recentes. Por exemplo, espera-se que o valor de mercado dos dispositivos de realidade estendida (XR) aumente quase dez vezes, de US$ 28 bilhões em 2021 para mais de $250 bilhões em 2028.3

O showroom do metaverso: basta um clique

Hoje, muitas pessoas que desejam adquirir um carro pesquisam veículos online antes de comprar, o que explica em parte por que em 2017 os consumidores dos EUA visitaram apenas duas concessionárias antes de fecharem o negócio, comparado com cinco visitas em 2007.4Innovating automotive retail,” McKinsey, 1.fev.2014. Mais recentemente, a pandemia reduziu muito a probabilidade de um comprador potencial encontrar na loja o veículo de sua escolha, devido às disrupções na cadeia de suprimentos. Os OEMs, contudo, podem compensar parcialmente a falta de estoque recorrendo a experiências virtuais imersivas que ajudem o comprador a visualizar e configurar o veículo desejado.

Essas novas tecnologias vão muito além dos sites que permitem ao usuário clicar nas diferentes funcionalidades de um veículo para obter informações ou alternar entre opções personalizadas. A RelayCars, por exemplo, oferece um aplicativo móvel com realidade aumentada e imagens 3D que permitem ao usuário explorar milhares de carros. No entanto, mesmo com ferramentas online mais sofisticadas, o comprador de carros típico ainda quer ver pessoalmente um carro de verdade antes de fechar o negócio, pois mesmo as melhores imagens online não conseguem oferecer a clareza e os detalhes de que necessita.

Para além das vendas, alguns OEMs, ao invés de oferecerem algo próximo da experiência real de dirigir e comprar, têm criado mundos digitais concebidos para engajar a comunidade da marca. A Acura, por exemplo, abriu um showroom virtual na Decentraland, uma plataforma de realidade virtual, para apresentar aos clientes o Integra 2023. Os futuros compradores podem caminhar pela concessionária e participar de experiências interativas – até mesmo corridas de carro virtuais. Os primeiros 500 clientes que reservaram um Acura Integra 2023 também receberam um token não fungível (NFT) do veículo. Em uma iniciativa similar, a Skoda criou uma experiência chamada Skodaverse, que permite ao usuário realizar test drives semelhantes aos de um videogame ou visitar sua galeria de NFTs, que exibe várias obras de arte especialmente encomendadas.

Empresas do setor de mobilidade também começaram a criar avatares que atuam virtualmente como vendedores, influenciadores ou embaixadores da marca. A Porsche, por exemplo, já utilizou embaixadores virtuais na China para atrair clientes mais jovens.5

Criando a experiência futura do metaverso. Essas primeiras tentativas de vincular os mundos virtual e físico poderão evoluir para experiências mais imersivas. Melhorias na XR, combinadas com o advento de dispositivos hápticos (que simulam uma sensação de toque), permitirão que os consumidores examinem uma réplica altamente realista de um veículo – abrindo suas portas, sentindo seus assentos, acelerando em uma rodovia – exatamente como fariam com um veículo real.

No início, é provável que as experiências avançadas de compras virtuais ocorram em concessionárias ou feiras comerciais, não na casa do cliente, pois só os OEMs deverão adquirir os dispositivos caros necessários para criar esse tipo de mundo virtual imersivo (Quadro 1). Porém, à medida que mais consumidores forem adotando dispositivos de XR, as experiências virtuais talvez se tornem mais prontamente disponíveis na casa das pessoas. Se surgirem outras tecnologias e sensores corporais ainda mais avançados, os clientes poderão realizar test drives altamente realistas que simulam várias atividades, incluindo acelerar para entrar numa via movimentada ou sair de ré da própria garagem.

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No caso de marketing, os OEMs talvez possam aumentar o engajamento do consumidor criando experiências verdadeiramente únicas6Marketing in the metaverse: An opportunity for innovation and experimentation,” McKinsey Quarterly, 24.maio.2022. que não seriam possíveis na vida real – por exemplo, organizar um evento de lançamento em uma floresta virtual para destacar o uso de materiais sustentáveis; ou permitir que os consumidores disputem corridas virtuais em seus carros novos para realçar o legado histórico de determinada marca de carros esportivos. (Para saber mais sobre as vantagens de utilizar essas ferramentas, veja o box “Benefícios do metaverso para marketing e vendas”.)

O carro como home theater: opções melhores de infoentretenimento, entretenimento e assistência ao motorista

Alguns OEMs já criaram ou planejam lançar aplicativos de assistência ao motorista que utilizam ferramentas do metaverso. A maioria dos novos modelos da Mercedes-Benz, por exemplo, possui tecnologia de telas de alerta [heads-up display], capaz de mostrar informações digitais no próprio para-brisa do veículo – por exemplo, velocidade, instruções de GPS, configurações do controle automático de velocidade e condições atuais de trânsito.7 A empresa de tecnologia HERE, em conjunto com a Unity Technologies, está criando uma tela de painel que inclui um mapa 3D das proximidades. Com isso, o motorista poderá visualizar sua posição exata e, conforme o veículo se move, informações e alertas sobre o entorno (por exemplo, empresas ou lojas nas redondezas) vão aparecendo na tela.

Novos pacotes de infoentretenimento já começam a surgir (Quadro 2). A holoride, empresa fundada em 2018, está criando experiências hiperimersivas para passageiros. Um de seus pacotes, já disponível para clientes da Audi, inclui um headset de realidade virtual e um jogo em que as pessoas se movem por uma paisagem 3D.8 O ritmo do jogo acompanha a velocidade do veículo – por exemplo, objetos virtuais se aproximam muito mais rapidamente quando o carro acelera.

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Aplicações futuras. Em breve, sistemas mais avançados de assistência ao motorista que utilizam realidade aumentada (RA) poderão estar disponíveis, fornecendo dados adicionais que aumentam a segurança – por exemplo, informações sobre perigos ao longo do trajeto ou a presença de pedestres.

À medida que as tecnologias avançam, o metaverso também poderá possibilitar novas e melhores opções de entretenimento. O Holograktor, um veículo sendo projetado pela WayRay para plataformas de transporte sob demanda, terá aplicativos relacionados ao metaverso para assistência ao motorista e entretenimento.9 O veículo utilizará sensores e câmeras para processar dados e projetar hologramas de realidade aumentada em suas janelas, exibindo informações sobre pontos de interesse nas proximidades (como pratos especiais em restaurantes ou liquidações em lojas). A mesma tecnologia permitirá que os passageiros joguem videogames utilizando esses hologramas.

Novas oportunidades de infoentretenimento poderão transformar o modo como as pessoas passam o tempo dentro de um veículo, especialmente se os carros autônomos ganharem terreno. Imagine pais indo ao trabalho e levando seus filhos para a escola em serviços de transporte compartilhado ou de traslado robotizado: durante o percurso, as crianças poderão acessar aplicativos educacionais imersivos enquanto os pais planejam o jantar do dia. Ou, se presos em um engarrafamento, os passageiros em veículos autônomos poderão utilizar dispositivos de realidade virtual para se fazerem presentes em salas de reunião virtuais. Pesquisa da McKinsey sugere que o entretenimento automotivo poderá gerar entre $30 e $60 bilhões de valor até 2030.

Veículos virtuais, soluções reais: o metaverso na fabricação e na manutenção

Além de turbinar as vendas e a experiência do cliente, o metaverso já permite que os OEMs aprimorem o desenho, a produção e a manutenção de veículos.

De volta à prancheta: projetando veículos virtualmente

O design tradicional de um automóvel geralmente começa com esboços 2D do veículo. Em seguida, os OEMs utilizam software de CAD [desenho assistido por computador] para criar modelos 3D de alta qualidade a partir dos esboços originais. Hoje, porém, alguns OEMs estão deixando de lado esse processo e utilizando ferramentas de XR para otimizar o design e reduzir problemas de qualidade. Por exemplo, os projetistas da Ford estão experimentando o Gravity Sketch, uma ferramenta que cria renderizações 3D de veículos, as quais podem então ser visualizadas em headsets.

A Hyundai também transformou o processo de desenho de veículos, que costumava levar entre quatro semanas e dois meses, com software de design 3D e ferramentas de realidade aumentada que facilitam a colaboração. Quando os projetistas estão satisfeitos com um projeto inicial, eles criam um modelo de argila e começam a trabalhar no interior do veículo.10 Utilizando visores especiais de realidade virtual, eles visualizam o veículo nos mais diferentes cenários, de um deserto a uma estrada molhada.

Além de projetarem carros online, as empresas estão utilizando mundos virtuais para realizar testes avançados de veículos. A plataforma DRIVE Sim, da Nvidia, realiza avaliações de veículos autônomos gerando simulações de diferentes ambientes – como rodovias ou ruas urbanas movimentadas – que testam os sistemas de percepção, a capacidade de tomar decisões e a lógica de controle do veículo. Entre outros benefícios, a plataforma reduz o custo dos testes e permite à Nvidia investigar o desempenho de veículos autônomos em ambientes e situações mais diversificados, que seriam difíceis de reproduzir e avaliar na vida real.

Aplicações futuras do metaverso. Alinhar os stakeholders em torno da estética, aerodinâmica, funcionalidades e materiais de um veículo nem sempre é fácil, mas ambientes virtuais imersivos certamente ajudarão as equipes a resolver conflitos relativos a requisitos do produto e da produção, além de toda uma gama de outros problemas, realizando experimentos rapidamente em modelos virtuais tal como fariam com materiais e modelos reais. Por exemplo, será possível estudar como a luz é refletida em um espelho, pôr à prova a acústica interna do veículo ou ver como ficaria o chassi antes mesmo de construí-lo.

O metaverso futuro haverá de permitir que os compradores de carros participem mais de perto do processo de desenvolvimento dos veículos por meio de eventos que lhes possibilitem examinar modelos virtuais. Isso encurtaria o cronograma de produção e reduziria o investimento em focus groups, incluindo aqueles envolvendo o transporte de veículos e de participantes.11 Essas tecnologias não só orientarão os OEMs quanto às opções de design dos modelos em desenvolvimento, como também oferecerão feedback contínuo para nortear esforços subsequentes de P&D. Por exemplo, os engenheiros talvez possam criar um gêmeo digital de um veículo – uma representação virtual realista – para monitorar o desempenho do carro e coletar dados em tempo real, permitindo-lhes efetuar atualizações personalizadas em veículos específicos.

Ainda que as transformações no desenvolvimento digital de produtos talvez exijam investimentos de centenas de milhões de dólares, estimamos que as empresas conseguirão aumentar seu EBIT de 10% a 12% e reduzir em até 50% o time-to-market.

Fábrica virtual, insights reais: gêmeos digitais e muito mais

Os OEMs já estão utilizando gêmeos digitais de fábricas e linhas de produção para oferecer veículos melhores. A BMW, por exemplo, vem utilizando a plataforma Omniverse, da Nvidia, para projetar uma nova fábrica na qual pessoas e robôs trabalharão juntos e engenheiros colaborarão em um espaço virtual compartilhado.12 A plataforma integra informações de várias ferramentas de desenho e planejamento, e gera imagens extremamente realistas da fábrica planejada. O objetivo é permitir que a BMW crie sistemas de produção complexos com mais rapidez e precisão.

Além de otimizarem o layout e os processos da fábrica, os gêmeos digitais podem ajudar os OEMs a acelerar o preparo de novas linhas de montagem e a orientar os técnicos da fábrica. Também podem proporcionar visibilidade total das interdependências entre software, hardware, fabricação e manutenção. Nossos modelos sugerem que os gêmeos digitais podem potencialmente aumentar a produção em cerca de 10% a 25%, reduzir as manutenções não planejadas em 80% e melhorar a qualidade em até 25%.

Quanto ao futuro, é certo que os gêmeos digitais serão ainda mais realistas – por exemplo, todos os motores e máquinas de uma fábrica poderão ser totalmente conectados no gêmeo digital, compartilhando informações detalhadas de desempenho em tempo real.

Reparos e manutenção

Os OEMs podem utilizar ferramentas do metaverso para treinar mecânicos e orientá-los no processo de reparo de um veículo. A Daimler Trucks North America, por exemplo, experimentou recentemente em suas concessionárias um piloto de realidade aumentada que oferece treinamento passo a passo e orientação para mecânicos.13 Nessa mesma linha, dispositivos vestíveis de XR já estão sendo utilizados em todas as concessionárias BMW dos Estados Unidos. O metaverso também pode não só ajudar os OEMs a expandirem suas redes de serviços, facilitando o treinamento e o licenciamento de mecânicos terceirizados em locais distantes, mas também possibilitar-lhes maior envolvimento com os clientes ao longo do ciclo de vida de um veículo. Essa capacidade poderá se tornar ainda mais crítica no futuro, pois há uma escassez crescente de mecânicos talentosos.

À medida que as tecnologias evoluem, os veículos irão coletar e fornecer mais e mais informações durante o seu ciclo de vida. Mecânico especializados poderão utilizar essas novas ferramentas para inspecionar os dados de bordo de um veículo e, em seguida, se conectar virtualmente com um avatar de IA para diagnóstico conjunto. Se a solução do problema parecer relativamente fácil, o OEM poderá se conectar diretamente com o cliente e orientá-lo no processo de reparo em casa. Em casos mais complexos, encaminhará o cliente a uma oficina terceirizada para reparos. Nossa pesquisa indica que o uso de tecnologias virtuais na manutenção veicular pode incrementar as receitas em 5% a 10%.

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Os OEMs e outras empresas do setor de mobilidade podem gerar valor substancial adotando o metaverso desde já, mesmo que ele ofereça apenas uma parte da experiência imersiva plena esperada no futuro. Para criar o máximo impacto, as empresas devem pensar em alinhar suas metas de negócios com as aplicações do metaverso, ao mesmo tempo em que consideram casos de uso futuros, incluindo habilidades e requisitos essenciais para o complexo ecossistema subjacente. É possível que algumas das mudanças futuras não sejam inteiramente positivas – por exemplo, o metaverso poderá diminuir o número de viagens, especialmente de viagens a negócios – mas as oportunidades potenciais mais do que compensarão essas desvantagens.

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