Estamos na época das resoluções de ano novo. Ainda que isso possa trazer à mente tentativas não muito exitosas de fazer mais exercícios ou perder peso, as resoluções em tecnologia são essenciais para as empresas que queiram transitar melhor pelas incertezas de 2023. O ano passado, com todo o entusiasmo por tokens não fungíveis (NFTs, na sigla em inglês), criptomoedas e o metaverso, provavelmente dará lugar a um 2023 mais sóbrio, em que as incertezas geopolíticas e econômicas inspirarão mais cautela com a próxima fase da evolução tecnológica.
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Embora olhar para o futuro seja sempre algo complicado, um grupo de líderes da McKinsey Tecnologia deu uma olhada no que 2023 pode trazer e apresenta algumas resoluções de ano novo a serem cogitadas na área de tecnologia.
Uma versão mais curta deste comentário apareceu originalmente em “Where Is Tech Going in 2023?”, na Harvard Business Review de 6 de janeiro de 2023.
Enfoque as tendências combinatórias
Lareina Yee
Sócia Sênior, região da Baía de São Francisco
Em 2022, identificamos 14 tendências em tecnologia que têm o potencial de mudar nosso modo de trabalhar e viver. Elas vão de tecnologias espaciais, tecnologias limpas e inteligência artificial a tecnologias de realidade imersiva. Cada uma pode causar um forte impacto por si própria – basta pensar no quanto a IA pode melhorar as experiências de atendimento ao cliente. Porém, as empresas fazem avanços ainda maiores quando colocam inovações provenientes de várias tendências para trabalhar ao mesmo tempo na criação de novas capacidades.
Para os executivos, o desafio em 2023 não será apenas apostar em tendências individuais ou reforçar os talentos em engenharia de software, mas pensar em como todas essas tecnologias podem criar novas possibilidades quando usadas em conjunto – o que chamamos de tendências combinatórias.
Em muitos domínios – dos consumidores às empresas – de todos os setores, as tendências combinatórias estão criando possibilidades novas e interessantes. Devido à vasta gama de combinações possíveis, a criatividade ao “combinar os ingredientes” passa a ser o segredo do sucesso. Pense nas tecnologias presentes em um carro elétrico novo: computação em nuvem e de borda, responsáveis pelas redes que conectam os carros; IA aplicada e machine learning (ML), que permitem autonomia na tomada de decisões e na lógica de direção; tecnologias de energia limpa e de consumo sustentável, que estão no cerne da eletrificação dos veículos, por meio, entre outras coisas, de novos compostos leves e avanços na capacidade das baterias; tecnologias de software de última geração, que possibilitam o desenvolvimento mais rápido de recursos voltados ao cliente e reduzem o tempo de lançamento no mercado; e arquiteturas de confiança que garantem o compartilhamento seguro de dados. Juntas, essas tecnologias combinam autonomia, conectividade, inteligência e eletrificação, com o intuito de viabilizar um novo futuro para a mobilidade terrestre.
Da mesma forma, novos tratamentos no nível dos pacientes, como os tratamentos baseados no tipo sanguíneo ou o direcionamento celular, são impulsionados por avanços em bioengenharia (como as novas terapias baseadas em engenharia de tecidos), por tecnologias de realidade imersiva (como as terapias remotas), pela Web3 (que pode oferecer rastreabilidade, interoperabilidade e permanência de prontuários eletrônicos), por IA e ML aplicados (como o processamento de imagem aprimorado e os alertas de saúde preditivos) e pela computação em nuvem e de borda (que oferecem maior acesso a dados e mais recursos de processamento). O impacto não é simplesmente aditivo – é multiplicativo.
Prepare o conselho para tecnologias que são pontos de inflexão
Klemens Hjartar
Sócio Sênior, Copenhague
A incerteza econômica que está no horizonte em 2023 exigirá que os conselhos de administração usem mais ponderação e mais nuances nas decisões relativas à tecnologia. Só na semana passada, conversei com três CEOs que mencionaram a necessidade de mudar a conversa com o conselho sobre tecnologia.
Embora possamos esperar uma estagnação ou redução do investimento nos orçamentos de TI, o maior problema para os conselhos é como manter as energias focadas no que é importante para a tecnologia. Esse foco é importante porque muitas tecnologias revolucionárias, como o 5G, a IA e a nuvem, estão atingindo pontos de inflexão para a adoção em massa. Nossas pesquisas mostram, por exemplo, que as empresas pretendem passar cerca de 60% de seu patrimônio de TI para a nuvem até 2025.1 E 50% das empresas relatam ter adotado a IA em pelo menos uma de suas áreas.2
Isso requer que o conselho mantenha a empresa direcionada para o futuro e priorize o orçamento destinado a reforçar os alicerces da TI que propiciam velocidade, segurança, resiliência e reusabilidade. Estes não são os aspectos mais glamourosos da tecnologia, mas automatizar processos, investir nos alicerces de dados, quitar dívidas técnicas e renovar continuamente a arquitetura de TI são medidas necessárias para que a empresa tenha a chance de aproveitar ao máximo as novas tecnologias que estão sendo colocadas em operação.
O motivo pelo qual isso é uma tarefa para o conselho é que as prioridades de TI são frequentemente definidas por unidades de negócios ou divisões individuais. Os investimentos nos alicerces tecnológicos – “TI para a TI” – beneficiam a empresa como um todo; por isso, é necessário que o conselho, trabalhando com a alta administração, oriente e dirija a iniciativa. Uma boa regra prática é alocar 15% a 20% do orçamento de mudança da TI a esse trabalho de construção de alicerces. Para que o conselho possa se envolver nesse nível, o diretor de TI e o diretor de tecnologia precisarão ter diálogos mais contínuos e frequentes com conselheiros individuais a respeito das prioridades e necessidades tecnológicas.
Libere os engenheiros que você já tem
Aamer Baig
Sócio Sênior, Chicago
Não é preciso ser um adivinho para saber que o próximo ano trará pressões significativas para a tecnologia. Devido às demissões no setor de tecnologia e às medidas iniciais de aperto do cinto que estão sendo tomadas na maioria das empresas, os líderes de tecnologia precisarão dominar a arte de fazer mais com menos em 2023.
A armadilha será tentar fazer com que o seu pessoal de tecnologia simplesmente faça mais. Aliás, observamos que há uma enorme produtividade prontamente disponível, bastando que os seus engenheiros façam menos trabalho administrativo, menos trabalho burocrático, menos trabalho manual. Descobrimos que, em muitas organizações de grande porte, os engenheiros passam apenas 50% de seu tempo fazendo desenvolvimento de fato. Imagine melhorar isso em apenas dez pontos percentuais para uma grande empresa com milhares de engenheiros.
Os diretores de TI podem fazer progressos significativos nessa lacuna de produtividade em 2023 sendo mais científicos e metódicos no desenvolvimento e na aplicação do trabalho de engenharia. Primeiramente, seja mais ponderado quanto à composição da equipe e a uma compreensão muito melhor de quem são os seus profissionais de melhor desempenho. Nossas pesquisas mostram que o desempenho de cada engenheiro pode variar de duas a três vezes entre as equipes.
Em segundo lugar, analise quantas distrações você pode tirar do trabalho dos seus engenheiros. Em muitos casos, mesmo correções relativamente simples, como reduzir o número de reuniões ou tornar as “cerimônias ágeis” mais produtivas, podem liberar um tempo substancial.
E, em terceiro lugar, faça todo o possível em automação para eliminar o flagelo das tarefas manuais que sobrecarregam os engenheiros. Automatizar os testes ou a conformidade, por exemplo, pode ter um enorme impacto em termos de liberar a capacidade dos engenheiros para fazerem o que amam. Vimos empresas conseguirem, por meio dessas e de outras ações, aumentar em dez vezes a produtividade de seus engenheiros.
Isso não é apenas uma questão de produtividade; é uma questão de talentos. O diretor de TI de uma empresa de telecomunicações falou recentemente sobre a necessidade de ela se tornar um destino para os melhores engenheiros, mas sem levar em conta a importância do estilo de trabalho do desenvolvedor nessa equação.
Prepare-se para a inovação descentralizada
Vinayak HV
Sócio Sênior, Singapura
A ideia de que as empresas com os maiores conjuntos de dados serão pioneiras em inovação (por exemplo, em IA) sofreu um baque em 2022. Temos visto o surgimento de inúmeras startups com produtos atraentes que competirão de igual para igual com algumas das grandes empresas de tecnologia.
Essa realidade se reflete em uma série de produtos de IA que estão gerando burburinho, como o Stable Diffusion, que obteve 10 mil estrelas no GitHub em menos de dois meses, ou o ChatGPT, que superou a marca de um milhão de usuários em apenas cinco dias. Recentemente, pedi ao ChatGPT para escrever um poema sobre a Web3 e, embora eu não me considere necessariamente um crítico literário, o resultado surpreendeu pela qualidade. As implicações disso são enormes e vão do aprimoramento das buscas ao aumento da produtividade dos desenvolvedores.
Esses fenômenos representam o amadurecimento da “descentralização” da IA, que se refere ao desenvolvimento de tecnologias avançadas de IA que não são monopolizadas por players com acesso a conjuntos de dados imensos, centralizados e exclusivos. Em 2023, a expectativa é vermos os primeiros sinais de como essa descentralização pode causar disrupção em diferentes setores, provavelmente começando pelas áreas de entretenimento, games e mídia, onde costumamos ver novas tecnologias terem penetração logo no início.
A possibilidade de se posicionarem para aproveitar esses recursos descentralizados de IA constituirá o grande desafio e a grande oportunidade para as empresas em 2023. Para os líderes empresariais, será importante pensar em como seus modelos de negócios podem tirar proveito das tecnologias descentralizadas. Para o diretor de TI ou o diretor de tecnologia, o foco precisará recair nas maneiras de reformular suas arquiteturas para incorporar facilmente APIs (como as da OpenAI e da Stability AI) e “inteligência” a uma gama mais ampla de aplicativos e processos. Essa capacidade pode, por exemplo, dar sugestões automatizadas de código ou bibliotecas de código para utilizar, ou então gerar código automaticamente para dar um pontapé inicial no desenvolvimento. O objetivo deve ser a incorporação de inteligência movida a IA a todas as partes da pilha de tecnologia.
Viabilizar isso significa alocar recursos suficientes à realização de experimentos. As maiores inovadoras alocam de 1% a 5% de suas receitas a inovações que podem gerar retornos desproporcionais. Proteger esse orçamento será particularmente importante à medida que as empresas sintam a pressão sobre os orçamentos, já que a capacidade de inovar de modo eficaz durante as crises permite que as empresas se posicionem para crescer rapidamente quando a economia se recupera.
Tire máximo proveito da sua oportunidade em segurança
Jan Shelly Brown
Sócia, Nova Jersey
Gosto de pensar que 2022 foi o ano em que a segurança se tornou uma das queridinhas da tecnologia. Por anos, a ela foi tratada como um bloqueio – embora crucial – que retardava o progresso para garantir que os protocolos de segurança estivessem em vigor. Em 2022, isso mudou, e as empresas assumiram um compromisso muito maior de modernizar sua tecnologia, ao migrarem para a nuvem e repensarem o papel da segurança para que ela pudesse atuar como um verdadeiro facilitador.
Olhando para 2023, essa tendência se acelerará à medida que a própria segurança fique muito mais automatizada, graças, em parte, aos investimentos que os provedores de serviços de nuvem (CSPs, na sigla em inglês) vêm fazendo em suas próprias capacidades e ferramentas relacionadas ao risco. O código de computador enviado pelos desenvolvedores será verificado automaticamente em busca de problemas de segurança cibernética e, caso não esteja em conformidade, será rejeitado e serão feitas recomendações claras sobre que correções fazer. Como a maioria dos problemas de segurança é resultado de configurações incorretas de código e sistema, esse processo reduzirá drasticamente o número de violações de segurança em muitas empresas de grande porte. Em um grande banco, por exemplo, as violações caíram de 70% a 80% depois que a automação da segurança foi implementada. O outro benefício é simplesmente o ritmo de desenvolvimento. Com os engenheiros podendo enviar código e atualizá-lo com base no feedback automatizado, o ritmo de desenvolvimento pode acelerar até dez vezes. O ponto principal não é que a nuvem seja mais segura; é que a mudança para a nuvem oferece às empresas uma enorme oportunidade de repensar sua postura em segurança.
A outra grande mudança que podemos esperar é no ambiente regulatório. À medida que setores mais regulamentados, como o bancário e o farmacêutico, migram para a nuvem, as próprias autoridades reguladoras estão repensando quais são os pontos de pressão. Elas já estão ficando mais prescritivas com relação aos padrões de segurança e conformidade e estão analisando outras questões, como o risco significativo da concentração. E se um dos grandes CSPs entrar em pane, e 30 bancos junto com ele? Embora provavelmente não vá haver respostas reais a essas novas perguntas em 2023, podemos ter a expectativa de ver os contornos de novas políticas começarem a surgir.
Ponha a cabeça na nuvem
Will Forrest
Sócio Sênior, Chicago
Um dos fenômenos mais surpreendentes para mim em 2022 foi a rapidez com que muitos CEOs mudaram de ponto de vista sobre a computação na nuvem, basicamente passando de “vou fazer porque é isso que meu diretor de TI recomenda” para “vou apostar tudo nisso”.
Ao mesmo tempo, com a eliminação de programas e empregos pelas empresas de tecnologia, está havendo um salto na disponibilidade dos melhores talentos em tecnologia. Isso está criando uma oportunidade excepcional para as empresas avançarem em termos da aquisição de talentos-chave em computação na nuvem.
A grande questão, então, é como as empresas vão aproveitar essa onda de talentos e de interesse na nuvem por parte dos executivos? Até agora, muitas incursões corporativas na nuvem têm se limitado a simplesmente passar aplicativos de seus próprios servidores para a nuvem (processo muitas vezes chamado de “lift and shift”) ou criar ambientes de teste e desenvolvimento para experimentar novos programas.
O ano vindouro é o momento de, em vez disso, focar na construção de bases sólidas de computação na nuvem que permitam às empresas tirar proveito dos benefícios mais importantes que a nuvem oferece (como escalar aplicativos ou adicionar capacidade automaticamente para atender a aumentos da demanda). As empresas precisarão se concentrar no desenvolvimento dos padrões de aplicativos corretos (base de código que possa ser aplicada a vários aplicativos ou casos de uso) e na implementação de capacidades robustas de economia de nuvem, denominadas FinOps. Pesquisas recentes mostraram que as empresas tendem a não focar de fato nos custos da nuvem até estes atingirem $ 100 milhões, o que não é apenas um tremendo desperdício, mas também uma oportunidade perdida de gerar valor.
Meça a sua “matéria escura” para pagar a sua dívida técnica
Sven Blumberg
Sócio Sênior, Istambul
Apesar de todas as dificuldades e de todo o sofrimento durante as paralisações da pandemia, esse também foi um momento em que a tecnologia ficou em primeiro plano e permitiu que as empresas realizassem feitos incríveis que as mantiveram funcionando – e inovando – em um ritmo que antes parecia inimaginável. Surpreendentemente, o ritmo se manteve em muitas empresas ao longo de 2022. Contudo, realizar esses feitos exigiu soluções alternativas e rápidas que, em muitos casos, aumentaram a dívida técnica existente das organizações – o “imposto” que uma empresa paga na forma dos recursos necessários para lidar com a tecnologia preexistente ao desenvolver novas tecnologias. Por exemplo, a atualização dos principais sistemas de planejamento de recursos empresariais (ERP, na sigla em inglês) pode exigir que os engenheiros façam várias rodadas de correções e testes para resolver as complexidades que se acumularam no sistema ao longo do tempo.
Pela estimativa dos diretores de TI, essa dívida técnica pode atingir 20% a 40% do valor de todo o seu patrimônio tecnológico (antes da depreciação).3 O próximo ano será um ano em que muitas dívidas técnicas vencerão para os diretores de TI e os líderes empresariais, já que obter o benefício pleno de tecnologias críticas, como nuvem e IA, frequentemente requer o pagamento dessa dívida técnica. Migrar um aplicativo com quantidades significativas de dívida técnica para a nuvem sem refatorá-lo, por exemplo, significa que você está simplesmente mudando os seus problemas de dívida técnica de um lugar para outro, sem obter todas as vantagens da nuvem.
O pagamento da dívida começa por uma tarefa que parece simples, mas não é: identificá-la e determinar seu custo. A dívida técnica é um pouco como a matéria escura do universo – sabe-se que ela existe, mas encontrá-la e quantificá-la é um desafio. Esse trabalho de quantificação precisa acontecer no nível do aplicativo para ter sentido e requer uma equipe multifuncional para executá-lo porque a dívida técnica de um aplicativo tem efeitos sobre o negócio e também sobre o desempenho tecnológico no nível da infraestrutura. A menos que a empresa saiba o valor em dólares e centavos que está bloqueado em sua dívida técnica, fica difícil tomar as decisões corretas e manter o apoio a elas.
Uma vez que uma organização tenha quantificado sua dívida técnica, ela precisa pensar em termos da gestão da dívida técnica futura em todos os projetos dali para frente, adicionando 15% a 20% dos recursos ao custo dos aplicativos para arrumá-los. Embora esse foco seja difícil, dadas as pressões para desenvolver resiliência e, em muitos casos, reduzir custos, o valor para o negócio pode ser tão grande, que o diretor de TI precisará defender a posição. Por isso é tão importante realizar a análise de valor sobre que dívida técnica está presente em cada área de uma empresa.
Faça o que for preciso para manter os seus melhores talentos em tecnologia
Suman Thareja
Sócia, Nova Jersey
A recente onda de demissões em tecnologia e a probabilidade de as medidas de aperto do cinto continuarem em 2023 estão criando uma grande armadilha para as empresas: elas correm o risco de perder seus melhores talentos em tecnologia. Embora seja importante estar pronto para capturar o pool crescente de talentos que estão entrando no mercado, as empresas não podem se dar ao luxo de perder o foco em seu próprio pessoal. São dois os motivos. Um deles é que os melhores talentos que chegam ao mercado são contratados rapidamente, o que dificulta a concorrência por parte das empresas maiores. Dos aproximadamente 160 mil trabalhadores de tecnologia que foram demitidos até agora em 2022 nos Estados Unidos, 72% encontraram um novo emprego dentro de três meses, de acordo com uma análise da Revelio Labs.4
O outro é que a “grande demissão” – ou a “grande reorganização”, como quer que chamemos – ainda não acabou. Apesar de podermos esperar que os números diminuam um pouco se as condições econômicas piorarem, muitos trabalhadores de tecnologia ainda estão optando por sair do emprego. O número de ofertas de empregos técnicos nos Estados Unidos, por exemplo, subiu para mais de 5,5 milhões, adicionando mais de 130 mil vagas apenas em novembro de 2022.5 E, quando os trabalhadores de tecnologia mudam de emprego, 80% deles vão para uma organização diferente.6
Devido a essa realidade, os líderes precisam de um plano para reter seus melhores talentos em tecnologia em 2023. Para manterem as pessoas engajadas, as empresas devem tomar três medidas. Em primeiro lugar, devem manter ativamente seus talentos envolvidos na tomada de decisões (mesmo as pequenas). Em segundo, devem usar o período de “tranquilidade” para requalificar seus funcionários, a fim de demonstrar compromisso com o crescimento deles e se preparar para quando as perspectivas econômicas melhorarem (uma maneira infalível de perder seus melhores funcionários é fazê-los realizar tarefas triviais de manutenção em tecnologia). E, por fim, devem manter a confiança de seus funcionários honrando as ofertas, por exemplo, porque os talentos em tecnologia e os outros prestam atenção a como as empresas se comportam em períodos que podem ser difíceis do ponto de vista econômico.
Faça a sua devida diligência em dados
Holger Harreis
Sócio Sênior, Düsseldorf
Em 2022, observamos uma alta do número de empresas em busca de criar casos de uso interessantes com IA. No entanto, o que se revelou repetidas vezes foi que, sem bons dados, não era possível ter uma boa IA. Produtos minimamente viáveis (MVPs, na sigla em inglês) em pequena escala que pareciam promissores sucumbiam quando as empresas tentavam escalá-los e descobriam que suas práticas e arquitetura de gestão de dados eram insuficientes.
Tendo aprendido algumas dessas lições, as empresas precisarão abrir caminho em 2023 investindo no desenvolvimento de seus alicerces de dados, em particular o modelo operacional, novas abordagens, como produtos de dados e DataOps, e também arquitetura e tecnologia de dados. Mas elas precisam fazê-lo de maneira a levar em conta dois fatores cruciais.
O primeiro é que elas precisam escalar em prol do negócio. Muitas vezes, as empresas pensam em termos da criação de soluções de dados para casos de uso específicos, sem considerar outros casos semelhantes. Isso sufoca o esforço de escalamento e tolhe a capacidade de uma empresa de criar real valor para o negócio. Por esse motivo, desenvolver alguns produtos de dados em 2023 que atendam aos casos de uso de maior valor para o negócio deve ser um foco importante. Todavia, a escalabilidade deve ser incorporada desde o início. Quando são bem desenvolvidos e contam com bom suporte, os produtos de dados podem proporcionar novos casos de uso de negócios até 90% mais rapidamente, enquanto o custo total de propriedade, inclusive os custos de tecnologia, desenvolvimento e manutenção, pode ser reduzido em 30%. As empresas com mentalidade prática devem pensar em adicionar cerca de 10% a 20% aos custos de desenvolvimento de dados para criar capacidades em escala (como APIs, código de computador padronizado e blocos de código em módulos).
O segundo fator é que as empresas precisarão construir esses alicerces por meio de uma sequência de iniciativas e casos de uso para criar valor rapidamente, sobretudo levando-se em conta a situação econômica cada vez mais restritiva. Na verdade, quando você não começa a gerar valor a partir das suas iniciativas de dados em menos de seis meses, algo está errado. Foque nas iniciativas que criam valor no curto prazo e, ao mesmo tempo, estabeleça uma fundação sólida para o desenvolvimento futuro.
Atribuição do diretor de TI: faça de 2023 o ano da automação
Brant Carson
Sócio Sênior, Vancouver
Em 2023, veremos uma evolução adicional das demandas ao diretor de TI para fazer várias coisas bem e ao mesmo tempo. Isso inclui entender o negócio, criar valor, aumentar a produtividade, inovar, manter um alto grau de segurança e gerir uma grande organização. A pressão sobre esses diretores será sobretudo no sentido de reduzir custos e, ao mesmo tempo, criar uma TI mais enxuta, rápida e melhor. Essa pode parecer uma tarefa difícil, mas apresenta uma oportunidade, para os diretores de TI, de recuperar parte do status elevado de que desfrutaram durante a pandemia, quando a tecnologia esteve no centro da reação de muitas empresas à disrupção.
Em alguns casos, obter esses ganhos será simples. Os recentes anos de abundância, por exemplo, levaram a custos descontrolados que são relativamente fáceis de cortar. As migrações para a nuvem sem atenção suficiente à gestão dos custos são apenas um exemplo típico. Entretanto, a oportunidade e o foco principal para o diretor de TI devem estar em evitar desperdícios por meio da automação.
Uma líder em tecnologia que vem apresentando um rápido crescimento fez disso quase um mantra, escrevendo código de computador para reduzir drasticamente o trabalho manual e o número de etapas dos processos. Isso inclui automatizar a conformidade (garantindo que o código atenda às diretrizes regulatórias antes de ser enviado) e os testes (garantindo que o código não derrube o sistema), além de implantar infraestrutura (permitindo que os engenheiros acessem, por conta própria, ambientes de desenvolvimento seguros). Uma boa automação reduz os custos e aumenta radicalmente a eficiência e a velocidade do desenvolvimento, ao mesmo tempo em que reduz o risco. Essas são as características principais das empresas de melhor desempenho na era digital; portanto, investir em automação durante uma recessão pode permitir que uma empresa acelere quando o ambiente econômico melhorar.
A peça final do quebra-cabeça da automação para os diretores de TI é como comunicar os ganhos proporcionados pela automação em termos de casos de negócios. As empresas terão requisitos mínimos bastante altos em 2023; portanto, os diretores de TI precisarão ter clareza absoluta sobre o retorno do investimento para os casos de automação, incorporá-los a todos os processos de avaliação e garantir que o valor prometido seja gerado.
Seja acessível e inclusivo para aproveitar o novo crescimento
Gayatri Shenai
Sócia, Nova York
Pense neste tsunami demográfico crescente: até 2030, toda a geração do pós-guerra (cerca de 73 milhões de pessoas nascidas entre 1946 e 1964) nos Estados Unidos terá pelo menos 65 anos de idade. Isso significa que uma em cada cinco pessoas estará em idade de aposentadoria no país. Para efeito de comparação, em 2000, havia apenas 35 milhões de pessoas com mais de 65 anos.7 Tendências semelhantes valem também para muitos outros países.
Isso representa uma enorme necessidade entre as pessoas que hoje são cada vez mais dependentes da internet e da tecnologia, e salienta um ponto mais amplo: as empresas devem buscar maneiras de se adaptar para atender a essa população crescente. A boa notícia é que algumas empresas, particularmente nos setores de consumo e finanças de varejo, já tomaram medidas concretas para tornar suas propriedades digitais mais acessíveis e pertinentes para pessoas que têm dificuldades de acessar as tecnologias comuns. Isso inclui criar tamanhos de fonte maiores, melhorar o contraste do texto para facilitar a leitura, oferecer opções de áudio, usar chatbots para falar com os clientes e incorporar tecnologias de reconhecimento de voz. É claro que, à medida que as capacidades avançadas de IA vão entrando em operação, podemos esperar que as capacidades de acessibilidade proliferem e fiquem mais fáceis de usar.
Para as empresas que estão em busca de explorar esse mercado crescente por meio de uma melhor acessibilidade, 2023 pode se tornar um importante campo de provas para o teste e a implementação de tecnologias e metodologias de acessibilidade. Em muitos casos, isso não requer necessariamente investimentos substanciais. Na verdade, a maior mudança é na mentalidade, no sentido de incorporar funções e experiências de acessibilidade aos processos de design e desenvolvimento existentes como algo imprescindível.