Os últimos avanços em robótica, inteligência artificial e machine learning nos colocaram no limiar de uma nova era de automação. Robôs e computadores não só conseguem executar diversas atividades rotineiras de trabalho físico melhor e a um menor custo comparado com os humanos, como também são cada vez mais capazes de realizar atividades que exigem habilidades cognitivas que eram outrora tidas como difíceis demais para serem automatizadas com sucesso – por exemplo, fazer julgamentos tácitos, sentir emoções ou mesmo dirigir veículos. A automação transformará as atividades cotidianas de trabalho de todos nós, desde mineiros e paisagistas até banqueiros comerciais, estilistas, soldadores e CEOs. Mas com que rapidez essas tecnologias de automação se tornarão realidade no local de trabalho? E qual será o seu impacto sobre o nível de empregos e a produtividade na economia global?
O McKinsey Global Institute mantém um programa de pesquisas sobre tecnologias de automação e seus efeitos potenciais. Um novo relatório, A future that works: Automation, employment, and productivity, destaca várias conclusões importantes.
A automação das atividades poderá permitir que as empresas melhorem sua performance, reduzindo erros e aprimorando a qualidade e a velocidade – e, em alguns casos, obtendo resultados que vão além do que o ser humano é capaz de fazer. A automação também contribuirá para a produtividade, como sempre ocorreu ao longo da história. Em uma época de crescimento medíocre da produtividade, esse incremento daria um impulso muito necessário ao crescimento econômico e à prosperidade. Em muitos países, isso também ajudaria a reduzir o impacto do número cada vez menor da população economicamente ativa. Com base em nossa modelagem de cenários, estimamos que a automação tem condições de aumentar o crescimento da produtividade global de 0,8% a 1,4% ao ano (veja animação abaixo).
O nível certo de detalhamento para analisar o potencial impacto da automação é o das atividades tomadas uma a uma, não da totalidade de uma ocupação, pois toda ocupação abrange vários tipos de atividades, cada uma delas com requisitos distintos de automação. Dadas as tecnologias atuais, pouquíssimas ocupações – menos de 5% – são candidatas à plena automação. Entretanto, quase todas as ocupações têm potencial de automação parcial, visto que pelo menos uma parte de suas atividades pode ser automatizada. Estimamos que cerca de metade de todas as atividades que trabalhadores ao redor do mundo são pagos para realizar poderá ser automatizada mediante adaptação das tecnologias atuais. Isso equivale a quase US$ 15 trilhões em salários.
As atividades mais suscetíveis à automação são as atividades físicas em ambientes altamente estruturados e previsíveis, e também a coleta e o processamento de dados. Nos Estados Unidos, essas atividades representam 51% das atividades da economia, o equivalente a quase US$ 2,7 trilhões em salários. São mais prevalecentes na indústria, em serviços de alimentação e hospitalidade, e no comércio varejista. E não é apenas o trabalho não especializado de baixa remuneração que pode ser automatizado; tanto as ocupações semiespecializadas como as especializadas de alta remuneração possuem certo potencial de automação. À medida que os processos forem sendo transformados pela automação das atividades, as pessoas começarão a realizar atividades que complementam o trabalho das máquinas e vice-versa.
Ainda assim, a automação não ocorrerá da noite para o dia. Mesmo quando existe o potencial técnico, estimamos que levará anos para que o efeito da automação sobre as atuais atividades de trabalho se manifeste plenamente. O ritmo de automação – e, portanto, seu impacto sobre os trabalhadores – variará conforme a atividade, a ocupação e o nível salarial e de especialização. Entre os fatores que determinarão o ritmo e o grau de automação estão o desenvolvimento ininterrupto das capacidades tecnológicas, o custo da tecnologia, a competição com a mão de obra humana (incluindo habilidades e a dinâmica de oferta e demanda), benefícios decorrentes da alta performance (incluindo a redução dos custos trabalhistas e outras economias decorrentes) e a aceitação pela sociedade e pelos órgãos regulatórios. Nossos cenários sugerem que metade das atividades de trabalho existentes hoje poderia ser automatizada até 2055, embora isso possa ocorrer até 20 anos antes ou depois, dependendo de vários fatores, além de outras condições econômicas.
Os efeitos da automação podem ser lentos no nível macroeconômico, isto é, em setores inteiros ou na economia como um todo, mas podem ser bastante rápidos no nível microeconômico, ou seja, para os trabalhadores cujas atividades forem automatizadas ou para empresas cujos mercados sofram disrupção por concorrentes mais automatizados.
Ainda que grande parte do debate atual sobre a automação tenha se concentrado na possibilidade de desemprego em massa, o fato é que as pessoas precisarão continuar trabalhando junto com as máquinas para produzirem o crescimento do PIB per capita ao qual países de todo o mundo aspiram. Desse modo, nossas estimativas de produtividade pressupõem que as pessoas demitidas pela automação encontrarão outro emprego. Muitos trabalhadores terão de mudar, e prevemos que os processos de negócios também serão transformados. No entanto, a escala das mudanças na força de trabalho que as tecnologias de automação poderão desencadear ao longo de várias décadas tem precedente. A transformação será de uma ordem de magnitude semelhante à das mudanças tecnológicas de longo prazo que afastaram da agricultura a força de trabalho dos países desenvolvidos no decorrer do século 20. Essas mudanças não resultaram em desemprego em massa duradouro porque foram acompanhadas pela criação de novos tipos de trabalho. Não podemos afirmar definitivamente se as coisas serão diferentes desta vez. Mas nossa análise mostra que os seres humanos continuarão sendo necessários na força de trabalho e os ganhos totais de produtividade que estimamos só ocorrerão se as pessoas trabalharem lado a lado com as máquinas. Por sua vez, isso alterará fundamentalmente o local e o ambiente de trabalho e exigirá um grau inédito de cooperação entre os trabalhadores e a tecnologia.