MGI Research

O futuro das mulheres no mercado de trabalho: transições na era da automação

| Relatório
São necessárias novas soluções, criativas e coordenadas, para que as mulheres aproveitem novas oportunidades na era da automação. Sem isso, estarão em ainda mais desvantagem no mundo do trabalho.

A era da automação, e, num horizonte próximo, as tecnologias da inteligência artificial (IA)  oferecem novas oportunidades de trabalho, além de novos rumos para o avanço econômico. Para as mulheres, entretanto, isso se traduz em novos desafios, que se somam àqueles que já enfrentam há muito tempo. É possível que entre 40 milhões e 160 milhões de mulheres precisem mudar de trabalho até 2030, muitas vezes assumindo funções de maior qualificação. Para resistir a essa ruptura, as mulheres (e os homens) precisam de habilidades, mobilidade e conhecimentos de tecnologia. No entanto, as mulheres enfrentam barreiras já estabelecidas em todas essas áreas e precisarão de um apoio específico para avançar no mundo do trabalho.

Um novo relatório do McKinsey Global Institute (MGI), The future of women at work: Transitions in the age of automation (PDF–2MB), indica que, se as mulheres realizarem essas transições, poderão ter trabalhos mais bem-remunerados e mais produtivos. Sem isso, poderão ter salários ainda mais discrepantes ou ficar para trás em um momento em que o avanço das iniciativas de paridade de gênero já é lento.

Esta nova pesquisa explora a situação potencial das mulheres em termos de “empregos perdidos” (empregos que desapareceram com a automação), “empregos ganhos” (empregos criados graças ao crescimento econômico, investimento, mudanças demográficas e inovação tecnológica) e “empregos modificados” (empregos cujas atividades e habilidade exigidas mudaram por conta da automação parcial). Isso foi feito explorando-se diversos cenários de como as tendências de adoção da automação e de criação de empregos poderiam se concretizar até 2030 para homens e mulheres, considerando-se as questões de gênero que afetam a força de trabalho global atualmente.

O objetivo desses cenários não é prever o futuro; eles servem, antes, como uma ferramenta que permite compreender uma gama de resultados possíveis e identificar as intervenções necessárias. Usamos o termo “emprego” para indicar trabalho em tempo integral.

A pesquisa examina seis economias maduras (Canadá, França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) e quatro economias emergentes (China, Índia, México e África do Sul) que, juntas, respondem por cerca de metade da população mundial e por cerca de 60% do PIB global.

O futuro do mercado de trabalho

Mulheres e homens enfrentam uma escala semelhante de potenciais perdas e ganhos de trabalho, porém em diferentes áreas

Tanto em economias maduras como nas emergentes, homens e mulheres costumam se concentrar em funções diferentes, e isso afeta os empregos perdidos e ganhos por cada um dos gêneros com a adoção da automação. Nas economias maduras estudadas, as mulheres representam, em média, 15% das funções de operação de máquinas e mais de 70%, em média, das funções de suporte administrativo. Nas economias emergentes da nossa amostra, as mulheres representam, em média, menos de 25% das funções de operação de máquinas e mais de 40% das funções de suporte administrativo. Mais de 70% dos trabalhadores do setor de saúde e assistência social em nove dos dez países (exceto a Índia) são mulheres. No entanto, em muitos países, menos de 15% dos trabalhadores da construção civil e apenas cerca de 30% dos trabalhadores do setor de manufatura são mulheres.

Se a automação avançar na mesma escala de rupturas tecnológicas anteriores, mulheres e homens poderiam enfrentar perdas e ganhos de emprego de magnitude similar. Nesta pesquisa, exploramos vários cenários até 2030 usando pesquisa anterior do MGI sobre o futuro do emprego e sua análise de empregos perdidos e criados. A pesquisa traz novas descobertas, acrescentando o aspecto do gênero ao trabalho anterior e observando uma ampla gama de efeitos sobre a situação laboral das mulheres. Isso inclui um potencial desaparecimento de empregos, oportunidades de criação de empregos, mudanças nos tipos de emprego e uma avaliação quantitativa das transições que as mulheres precisarão realizar para aproveitar essas novas oportunidades, incluindo efeitos sobre salários e nível de instrução exigido. Nosso principal cenário para 2030 é baseado em um nível intermediário de adoção da automação, que modela uma automação em escala similar à de grandes rupturas tecnológicas anteriores.

No caso de empregos perdidos, o risco trazido pela automação pode ser apenas um pouco menor entre as mulheres do que entre os homens. Nos dez países, uma média de 20% das mulheres que trabalham atualmente, ou seja, 107 milhões, poderiam perder seus empregos para a automação, em comparação com 21% dos homens (163 milhões) no período até 2030 (Quadro 1).

A composição dos empregos perdidos pode ser diferente para homens em mulheres, em boa parte por conta de diferenças no mix de funções em que costumam trabalhar e das atividades envolvidas nessas funções. Tarefas físicas rotineiras e trabalho cognitivo rotineiro, por exemplo, são altamente automatizáveis. O mesmo não ocorre, entretanto, com tarefas que exijam habilidades cognitivas mais complexas, bem como habilidades sociais e emocionais. Trabalhos físicos como operação de máquinas e outros trabalhos braçais são predominantemente masculinos. No nosso cenário para 2030, 40% dos empregos ocupados por homens que poderiam ser perdidos para a automação se encaixam nessas categorias. As mulheres, por sua vez, são maioria em muitas funções com alto potencial de automação por envolver trabalho cognitivo rotineiro, como é o caso de cargos de apoio administrativo ou do setor de serviços. Essas funções representam 52% dos empregos femininos que podem ser perdidos.

A composição dos empregos perdidos pode ser diferente no caso dos homens e das mulheres devido a diferenças nas funções em que cada gênero costuma trabalhar.

Em economias emergentes observa-se, no nosso cenário, uma clara tendência de perda de empregos em funções ligadas à agricultura. Ainda assim, o padrão varia de um país a outro. No México, por exemplo, o emprego agrícola está entre os três primeiros tipos de emprego a desaparecer no caso dos homens (21% das perdas), mas não está entre os três primeiros quando se trata das mulheres. Na Índia, porém, onde muitas mulheres trabalham na agricultura de subsistência, as perdas de emprego dessa categoria podem corresponder a 28% dos empregos perdidos pelas mulheres, em comparação com 16% dos empregos perdidos pelos homens.

Mesmo com a automação, a demanda por trabalho e por trabalhadores pode aumentar com o crescimento da economia, impulsionado em parte pelo aumento da produtividade possibilitado pelo progresso tecnológico. O aumento da renda e do consumo, especialmente nas economias emergentes, a maior necessidade de serviços de saúde em sociedades em envelhecimento, o investimento em infraestrutura e energia, entre outras tendências, criarão uma demanda por trabalho que poderia compensar o desaparecimento de empregos. É possível que as mulheres estejam em melhor posição para se beneficiar desses empregos ganhos do que os homens, por conta das funções e dos setores em que costumam trabalhar. Esse ganho, no entanto, pressupõe que elas se mantenham nas mesmas funções e setores de hoje até 2030.

Até 2030, as mulheres poderiam ganhar 20% mais empregos em comparação com os níveis atuais (171 milhões de empregos ganhos) versus 19% no caso dos homens (250 milhões de empregos ganhos) (Quadro 2). Nos dez países da nossa amostra, em média, 58% dos ganhos brutos de emprego feminino podem vir de três setores: saúde e assistência social, manufatura e atacado e varejo. Em média, 53% do ganho bruto do emprego masculino podem vir do setor de manufatura, atacado e varejo, além dos setores de serviços profissionais, científicos e técnicos. As mulheres estão bem representadas no setor de saúde, em rápido crescimento, e que poderia representar 25% dos potenciais empregos femininos ganhos.

No nosso cenário até 2030, nos dez países analisados, mais de 150 milhões de empregos líquidos (incluindo o desaparecimento e a criação de empregos) poderiam ser acrescentados às funções e setores existentes, a grande maioria em economias emergentes. As economias maduras podem apresentar crescimento mínimo de empregos líquidos ou até mesmo um declínio líquido, já que qualquer ganho de emprego em setores e funções existentes é compensado pelo aumento da automação. Nas dez economias estudadas, 42% dos empregos líquidos (64 milhões de empregos) poderiam ficar com as mulheres e 58% (87 milhões) com os homens, se persistirem as atuais tendências  de emprego em certas funções e setores.

No nosso cenário até 2030, nos dez países analisados, mais de 150 milhões de empregos líquidos (incluindo o desaparecimento e a criação de empregos) poderiam ser acrescentados às funções e setores existentes, a grande maioria em economias emergentes.

Nas economias maduras, o crescimento líquido do emprego (levando em conta os empregos perdidos e os empregos ganhos) poderia concentrar-se em apenas dois setores: serviços profissionais, científicos e técnicos e setor de saúde. Atualmente, as mulheres estão bem representadas na segunda dessas categorias, mas subrepresentadas na primeira em muitos países: no Canadá, no Japão, no Reino Unido e nos Estados Unidos elas têm menor representação no setor de serviços profissionais, científicos e técnicos, em comparação com sua participação média na economia.

Nas economias emergentes, o crescimento líquido do emprego poderia ocorrer em uma gama mais ampla de setores, incluindo manufatura, serviços de hotelaria e alimentação, atacado e varejo e construção (57% dos empregos líquidos ganhos na Índia, China e México). Observamos que na China, no México e na África do Sul as mulheres tendem a estar mais presentes do que os homens nos serviços de hotelaria e alimentação em relação à sua participação geral no emprego e subrepresentadas no setor de manufatura e na construção. Na Índia, as mulheres estão ligeiramente super-representadas em relação à sua participação na economia como um todo no setor de manufatura e fortemente subrepresentadas na construção e nos serviços de hotelaria e alimentação.

As ondas de inovação tecnológica não apenas provocam o desaparecimento ou a mudança de muitas funções: elas também criam ocupações completamente novas. Tendências históricas nos Estados Unidos sugerem que, até 2030, até 9% da população poderia estar empregada em funções inteiramente novas ou que estejam surgindo agora. Exemplos da última década variam de empregos criados recentemente em machine learning e inteligência artificial a funções de motorista de aplicativos de transporte e de sustentabilidade e gerenciamento de recursos. Se essa estimativa for extrapolada para nossa amostra de dez países, isso poderia significar que mais de 160 milhões de empregos poderiam ser criados nessas funções inteiramente novas até 2030. Para atender às demandas dessas ocupações antes inexistentes, as mulheres precisarão das habilidades certas — e também da mobilidade e das redes necessárias para encontrar esses empregos.

Mudanças no trabalho

É mais provável que os empregos das mulheres passem por automação parcial, ao invés de ser totalmente substituídos pela automação.

Mesmo que as mulheres permaneçam em seus empregos atuais, é provável que sua maneira de trabalhar mude conforme os locais de trabalho adotem, cada vez mais, novas tecnologias e conforme algumas das atividades que componham funções predominantemente femininas sejam automatizadas, levando à “automação parcial” do seu trabalho. Nessas circunstâncias, a tecnologia da automação não acaba com um emprego; antes, ela o modifica de maneira significativa, à medida que os seres humanos aprendem a trabalhar ao lado de máquinas. Por exemplo, os requisitos de trabalho de secretários e professores, entre outros, mudaram significativamente no século XXI com a “automatização” de várias tarefas manuais tais como coleta e processamento de dados básicos, que passaram a ser realizadas por computadores.

Usando os Estados Unidos como exemplo, constatamos que aproximadamente metade das funções realizadas principalmente por mulheres  são menos de 50% tecnicamente automatizáveis até 2030, em comparação com cerca de 20% para ocupações desempenhadas em grande parte por homens. Se esse padrão se mantiver nos outros países, as mulheres podem estar menos arriscadas do que os homens a ver seus empregos totalmente assumidos pelas máquinas.

  • À medida que a automação parcial se tornar mais comum e outras tecnologias, incluindo plataformas digitais que possibilitam o trabalho independente, por exemplo, se tornarem mais prevalentes, a vida profissional das mulheres (e dos homens) pode mudar de três maneiras. Conforme as máquinas passem, cada vez mais, a realizar tarefas físicas e cognitivas rotineiras, as mulheres podem se dedicar mais a gerenciar pessoas, aplicar conhecimentos e interagir com stakeholders. Em um pronto-socorro de 2030, por exemplo, os profissionais de saúde poderiam passar menos tempo fazendo trabalho administrativo (graças à adoção do pré-registro por telefone celular, pagamento e faturamento computadorizados e ferramentas de diagnóstico que usem inteligência artificial) e menos trabalho físico, e mais tempo interagindo com os pacientes.
  • Algumas habilidades podem se tornar mais importantes. Até 2030, os empregos na Europa e nos Estados Unidos podem exigir que se dedique até 55% mais de tempo ao uso de habilidades técnicas e 24% mais de horas ao uso de habilidades sociais e emocionais. O tempo gasto no uso de habilidades físicas e manuais e habilidades cognitivas básicas pode diminuir à medida que essas atividades sejam automatizadas.
  • Mais mulheres poderiam ter trabalhos flexíveis. Estar no mesmo ambiente que os colegas é uma parte importante da vida profissional hoje em dia, mas a tecnologia pode reduzir essa necessidade conforme o trabalho à distância se torne mais comum, por exemplo. O surgimento de novas formas de trabalho mais flexíveis é particularmente útil para as mulheres, que ficam sobrecarregadas com a “jornada dupla” do trabalho remunerado e do trabalho não remunerado em casa, tanto nas economias maduras quanto nas emergentes.
Transições

É possível que, globalmente, entre 40 milhões e 160 milhões de mulheres precisem mudar de função

Em todo o mundo, de 40 milhões a 160 milhões de mulheres — de 7% a 24% das atualmente empregadas — podem precisar fazer a transição de uma função para outra para se preparar para mudanças na demanda por trabalho. Entre os homens, a porcentagem varia entre 8 e 28%. Se as mulheres aproveitarem as oportunidades de transição, poderão manter sua participação atual no mercado de trabalho; se isso não acontecer, a desigualdade de gênero no trabalho poderia se intensificar (Quadro 3). Essas amplas gamas baseiam-se em um cenário intermediário de adoção da automação e de adoção precoce da automação.

Para realizar uma transição de sucesso, as mulheres provavelmente precisarão de maior nível educacional e habilidades diferentes. Nas economias maduras, a maioria das mulheres (e homens) provavelmente terá que fazer a transição para funções que exijam maiores nível de instrução. Em cinco das seis economias maduras da nossa amostra, a demanda líquida por trabalho só cresce em empregos que exijam nível universitário ou diploma avançado. Nas economias maduras, a taxa de mulheres com nível superior é igual ou até mais alta do que a dos homens. Com isso, elas estarão bem posicionadas para os empregos mais procurados no futuro. Porém, ainda é importante que suas habilidades estejam o mais próximo possível daquelas exigidas pela maioria das oportunidades de trabalho.

Em cinco das seis economias maduras da nossa amostra, a demanda líquida por trabalho só cresce em empregos que exijam nível universitário ou diploma avançado.

O mesmo se aplica às mulheres que compõem a força de trabalho atual, que precisarão se recapacitar para obter os empregos do futuro. Em três das quatro economias emergentes da nossa amostra — China, Índia e México — a demanda líquida por trabalho pode sofrer aumento acentuado em funções que exijam segundo grau completo, tanto para homens como para mulheres. Isso pode representar um desafio para as mulheres de algumas economias emergentes, onde as taxas de educação feminina continuam inferiores às dos homens. Na Índia, notadamente, mulheres com baixa qualificação que trabalhem no setor agrícola podem precisar de uma recapacitação considerável, à medida que a demanda por mão de obra diminua em empregos que exijam menos do que o segundo grau.

Além disso, a adoção de tecnologias de automação, bem como as áreas específicas em que os empregos serão criados, podem impulsionar um crescimento mais forte da demanda por empregos mais bem remunerados. Para as mulheres, essa situação traz tanto oportunidades quanto riscos. Se conseguirem fazer a transição entre funções e reciclar-se de forma a atender à demanda por empregos de maior remuneração e que exijam diferentes habilidades, seu futuro no mercado de trabalho poderia ser mais produtivo e lucrativo.

Olhando para 2030, nosso cenário sugere que a disparidade salarial entre homens e mulheres pode diminuir ligeiramente em certas economias maduras se as mulheres conseguirem adquirir as habilidades necessárias e conseguirem fazer, com sucesso, a transição entre funções.

No entanto, se não conseguirem fazer as transições necessárias, muitas mulheres poderão enfrentar uma diferença salarial crescente em relação aos homens. Aqueles com empregos de salário intermediário em economias maduras podem ser os mais vulneráveis ao desaparecimento do emprego. Em muitos países, isso afetará mais os homens do que as mulheres no curto prazo. Um possível excesso de pessoas com empregos de baixa remuneração, incluindo homens que perderam empregos no setor de manufatura, poderia pressionar a queda dos salários. No longo prazo, algumas mulheres poderiam abandonar totalmente o mercado de trabalho, com o aumento dos custos econômicos necessários para uma vida profissional ativa.

A disparidade salarial entre homens e mulheres é uma característica tanto das economias maduras quanto das emergentes. Atualmente, os homens tendem a ocupar funções com salários mais altos do que as mulheres. Em economias maduras, por exemplo, 5% das mulheres estão na categoria das funções mais bem pagas (legislador, alto funcionário e gerente), em comparação com 8% dos homens. Ao mesmo tempo, uma porcentagem maior de mulheres empregadas trabalha nas duas categorias ocupacionais com salários mais baixos — ocupações elementares e de apoio administrativo.

Olhando para 2030, nosso cenário sugere que a disparidade salarial entre homens e mulheres pode diminuir ligeiramente em certas economias maduras se as mulheres conseguirem adquirir as habilidades necessárias e conseguirem fazer, com sucesso, a transição entre funções. As mulheres podem ter presença mais marcante na categoria de funções de alta remuneração e funções associadas (38% das mulheres em economias maduras, por exemplo, poderiam estar nesse grupo até 2030, em comparação com 34% em 2017). A maior parte das perdas de emprego  de mulheres pode ocorrer em categorias ocupacionais com salários relativamente baixos, tais como serviços administrativos (14% das mulheres em economias maduras, por exemplo, poderiam estar nesse grupo até 2030, versus 17% em 2017). No entanto, é importante notar que os homens ainda podem superar as mulheres na categoria das funções mais bem remunerada de todas: legisladores, altos funcionários e gerentes. Em nosso cenário, 9% dos homens de economias maduras poderiam ser empregados nessas funções de liderança com altos salários, em comparação com apenas 6% das mulheres empregadas. A situação é parecida nas economias emergentes, com mulheres (e homens) forçados a realizar a transição de funções com salários mais baixos, tais como trabalhos na agricultura, para outras com salários mais altos, tais como papéis profissionais.

Apoiando as mulheres

Para adaptar-se ao novo mundo do trabalho, elas precisarão de mais habilidades, mobilidade e conhecimentos de tecnologia

Mulheres e homens estão enfrentando um período de ruptura e mudança. Será essencial que ambos desenvolvam (1) as habilidades que serão solicitadas; (2) a flexibilidade e a mobilidade necessárias para o sucesso nas transições do mercado de trabalho; e (3) que tenham acesso à tecnologia necessária — bem como conhecimentos sobre ela — para trabalhar com sistemas automatizados, inclusive participando da sua criação. Infelizmente, as mulheres enfrentam barreiras estruturais e sociais há muito estabelecidas e generalizadas que podem prejudicá-las nessas três áreas. Por conta dessas barreiras, o movimento na direção da igualdade de gênero no trabalho caminha a passos lentos. A boa notícia é que as forças da tecnologia e da inovação que caracterizam a era da automação também podem abrir caminho para mais igualdade de gênero no trabalho. Há uma grande oportunidade para que líderes do setor público e do setor privado possibilitem que as mulheres realizem as transições nessas três áreas. (Quadro 4).

Habilidades

Nas economias maduras, a taxa de mulheres com nível superior é igual ou até mais alta do que a dos homens. De acordo com o Fórum Econômico Mundial (FEM), em todas as economias desenvolvidas há mais mulheres do que homens com pelo menos o segundo grau completo. Porém, ainda assim elas precisam desenvolver habilidades o mais próximas possível daquelas exigidas pela maioria das oportunidades de emprego. Existe alguma preocupação de que as mulheres não estejam adquirindo as habilidades necessárias para áreas de alto crescimento, tais como serviços profissionais, científicos e técnicos.

Nas economias emergentes, a educação de meninas e mulheres melhorou acentuadamente nos últimos anos, sugerindo que atualmente elas estejam mais preparadas para aproveitar as mudanças na demanda por mão de obra. No entanto, ainda há grandes lacunas de gênero na educação e, mais ainda, nas habilidades que as mulheres precisarão ter. Em países de renda baixa e média-baixa, como a Índia, onde mais de 60% das mulheres empregadas trabalham na agricultura e tendem a ter habilidades limitadas que podem ser difíceis de adaptar, é provável que a transição para novas funções e setores seja altamente desafiadora. Mais do que nunca, as mulheres precisam abraçar a aprendizagem ao longo de toda a vida, da escola ao mundo do trabalho.

Para atender a essas necessidades, o setor privado pode investir mais no treinamento e na requalificação de seus funcionários em suas organizações ou em parceria com instituições acadêmicas e outras instituições. Cada vez mais, os trabalhadores em fase intermediária de carreira terão que se reciclar ou desenvolver novas habilidades. Um estudo revelou que, em 2018, 54% dos empregadores estavam oferecendo oportunidades adicionais de treinamento e desenvolvimento a seus funcionários para transpor as lacunas de habilidades, em comparação com apenas 20% em 2014. O investimento público e privado em plataformas de aprendizado digital abriria uma nova possibilidade para as mulheres. Os governos podem contribuir dando a elas subsídios para a realização de treinamentos.

Flexibilidade e mobilidade

A mobilidade e a flexibilidade no trabalho ajudam mulheres e homens a circular entre diferentes empregadores, funções, setores e regiões, conforme o caso, para responder às necessidades de um mercado de trabalho em evolução. No entanto, as mulheres tendem a enfrentar mais desafios estruturais do que os homens.

Elas têm menos mobilidade e flexibilidade porque dedicam muito mais tempo do que os homens ao trabalho não remunerado de prestação de cuidados — mais de 1,1 trilhão de horas por ano, em comparação com menos de 400 bilhões de horas no caso dos homens.

Elas têm menos mobilidade e flexibilidade porque dedicam muito mais tempo do que os homens ao trabalho não remunerado de prestação de cuidados — mais de 1,1 trilhão de horas por ano, em comparação com menos de 400 bilhões de horas no caso dos homens. A mudança tecnológica por si só já deve deixar a vida profissional das mulheres mais flexível, permitindo, por exemplo, o trabalho à distância. E no caso das mulheres uma diversidade de opções de trabalho flexível é ainda mais importante, porque muitas delas assumem tanto o trabalho remunerado quanto o não remunerado. Os governos podem ajudar com subsídios à licença maternidade e paternidade e aos cuidados infantis. Mais empresas podem fornecer opções flexíveis: uma pesquisa realizada em 2018 revelou que apenas 23% dos empregadores ofereciam opções de trabalho flexíveis ou remotas. Em alguns casos, as mulheres enfrentam barreiras legais ao trabalho, pelo menos em alguns setores, o que limita sua mobilidade entre eles. Em 155 de 173 economias, existe pelo menos uma restrição legal baseada em gênero ao emprego e ao empreendedorismo das mulheres.

Outro fator que limita a mobilidade das mulheres é o fato de que elas — tanto nas economias maduras quanto nas emergentes — enfrentam perigos para sua segurança física ao se deslocar, o que limita potencialmente os locais onde podem encontrar emprego. As empresas indianas de terceirização de TI e de processos de negócios estão fornecendo transporte seguro para funcionárias, que usam veículos com dispositivos de rastreamento. Nas economias emergentes, o acesso limitado aos sistemas de transporte — além da falta de segurança de tais sistemas — é considerado o maior obstáculo à participação das mulheres no mercado de trabalho, especialmente na economia formal.

A persistente concentração de gênero dentro de funções e setores torna mais difícil para as mulheres (e para os homens) passar para uma categoria em que atualmente são minoria. Um estudo recente dos EUA mostrou que as opções de funções e setores para mulheres representavam mais de 50% da diferença entre os gêneros. É preciso fazer mais para reduzir estereótipos que perpetuam a concentração de gênero em algumas funções.

As mulheres (e homens) podem precisar de apoio financeiro na transição para novas funções ou setores, incluindo benefícios a desempregados e seguro. As agências de emprego podem se concentrar em fornecer benefícios e assistência aos desempregados: atuar como conselheiros para assuntos de trabalho, oferecer orientação sobre carreira e permitir acesso a treinamento e oportunidades de trabalho.

As mulheres não têm o mesmo nível de acesso que os homens a redes que as ajudem a desenvolver suas habilidades, progredir na carreira e realizar a transição para novos empregos. Algumas empresas estão avançando nesse quesito, mas é preciso fazer mais para criar oportunidades para as mulheres.

Globalmente, as mulheres representam apenas 35% dos estudantes de STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) do ensino superior e tendem a estudar ciências naturais mais do que ciências aplicadas ligadas à tecnologia da informação e comunicação (TIC).

Engajamento em tecnologia

As mulheres precisam estar mais envolvidas com a tecnologia — com mais acesso, mais habilidades e mais participação na sua criação — para prosperar na área.

A tecnologia pode derrubar muitas barreiras enfrentadas pelas mulheres, abrindo novas oportunidades econômicas, ajudando-as a participar do mercado de trabalho e, na era da automação, a realizar transições. As mulheres agora estão trabalhando de forma independente no que é popularmente conhecido como gig economy, por exemplo, aproveitando a tecnologia que permite novas formas de trabalho mais flexíveis. As plataformas digitais de trabalho estão crescendo mais rapidamente no setor de serviços, onde as mulheres estão bem representadas, o que inclui o varejo e serviços de hotelaria e alimentação. As plataformas digitais, com sua flexibilidade e baixos custos de acesso, também ajudam a explicar por que tantas mulheres se tornaram empreendedoras de e-commerce, que talvez tenham dificuldade de entrar nas cadeias de suprimento mais tradicionais.

É vital que as mulheres participem da criação de tecnologia, não apenas porque equipes com diversidade trazem claros benefícios, mas também porque sua contribuição pode ajudar a lidar com preocupações sobre o viés de gênero inculcado nos algoritmos de IA.

No entanto, as mulheres continuam em uma posição menos privilegiada  do que os homens em acesso à tecnologia, nas habilidades para usá-la e no emprego em setores de tecnologia, o que pode impedi-las de acessar os potenciais benefícios da inovação tecnológica. Como já foi dito, o futuro do trabalho provavelmente exigirá que as pessoas trabalhem mais de perto com a tecnologia. Também é vital que as mulheres participem da criação de tecnologia, não apenas porque equipes com diversidade trazem claros benefícios, mas também porque sua contribuição pode ajudar a lidar com preocupações sobre o viés de gênero inculcado nos algoritmos de IA.

A divisão digital de gênero persiste. No mundo todo, os homens têm 33% mais chances de ter acesso à internet do que as mulheres, e essa lacuna se agrava em comunidades urbanas pobres. As mulheres também ficam atrás dos homens no desenvolvimento de habilidades tecnológicas. Globalmente, as mulheres representam apenas 35% dos estudantes de STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) do ensino superior e tendem a estudar ciências naturais mais do que ciências aplicadas ligadas à tecnologia da informação e comunicação (TIC). A sub-representação das mulheres é marcante nos empregos de tecnologia: em muitas economias maduras, menos de 20% dos trabalhadores da área são mulheres. Apenas 1,4% das trabalhadoras têm empregos no desenvolvimento, manutenção ou operação de sistemas de TIC, em comparação com 5,5% dos trabalhadores do sexo masculino, de acordo com a OCDE.

São necessárias diversas intervenções para enfrentar esses desafios. Primeiro, há a necessidade de abrir caminhos para as mulheres nos campos de STEM. Organizações sem fins lucrativos, do Afeganistão aos Estados Unidos, estão focando no desenvolvimento de habilidades de codificação entre as meninas. As empresas dos campos de STEM podem fazer investir em organizações sem fins lucrativos e faculdades e formar parcerias com elas para desenvolver um pipeline mais amplo de mulheres que ingressem em áreas tecnológicas, a quem seriam oferecidos estágios.

O acesso das mulheres à tecnologia básica, especialmente às tecnologias da internet e aos dispositivos móveis, precisa se expandir junto com o desenvolvimento de suas habilidades digitais. É preciso lidar com as barreiras à entrada das mulheres na gig economy, que incluem preocupações com a falta de habilidades digitais e de internet e preocupações com a segurança física. Além disso, é preciso abordar a falta de proteção social a essas profissionais, que podem expô-las à insegurança de renda.

Finalmente, é possível fazer mais para resolver a lacuna de financiamento enfrentada pelas mulheres empreendedoras. Isso deve ser parte de um amplo esforço para incentivar ativamente as mulheres a criar tecnologia e trabalhar de novas maneiras. Considere-se que, em 2018, equipes fundadoras exclusivamente masculinas receberam 85% do investimento total em capital de risco nos Estados Unidos, enquanto as equipes exclusivamente femininas receberam apenas 2%, e as equipes neutras em termos de gênero, apenas 13%.

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