Economias emergentes foram responsáveis por quase 2/3 do crescimento do PIB mundial e por mais da metade do novo consumo nos últimos 5 anos. Ainda assim, o desempenho econômico de países individuais varia substancialmente.
No relatório Outperformers: High-growth emerging economies and the companies that propel them (PDF–3.20MB), o McKinsey Global Institute analisa a trajetória de longo prazo de 71 economias em desenvolvimento para identificar aquelas com desempenho excepcional. O trabalho também aponta dois fatores fundamentais que explicam tal desempenho: uma agenda de políticas favoráveis ao crescimento, com foco em produtividade, renda e demanda, o que gerou um crescimento econômico excepcional; e o papel de destaque – ainda que pouco apreciado – desempenhado pelas grandes empresas, que contribuíram para tal crescimento.
- Dos 71 países, 18 ultrapassaram o desempenho de seus pares e benchamarks mundiais
- Uma agenda com políticas favoráveis ao crescimento em termos de produtividade, renda e demanda gerou um desempenho excepcional
- O papel desempenhado por empresas produtivas é característica fundamental das economias com desempenho excepcional
- Momentos de mudança trazem a possibilidade de novas oportunidades para economias emergentes
- Se todas as economias emergentes emularem as práticas daquelas com desempenho excepcional, a economia global poderá receber um estímulo de US$ 11 trilhões
DOS 71 PAÍSES, 18 ULTRAPASSARAM O DESEMPENHO DE SEUS PARES E BENCHAMARKS MUNDIAIS
Analisamos o crescimento do PIB per capita de 71 economias nos últimos 50 anos, iniciando a comparação em 1965. Deste grupo, identificamos 18 com crescimento excepcional – praticamente um país em cada quatro.
Sete economias obtiveram ou excederam a marca de 3,5% de crescimento anual do PIB per capita durante todo o período de cinco décadas. Segundo definição do Banco Mundial, esta é a taxa média de crescimento necessária para que economias de rendas baixa e baixa-média consigam mudar seu status e passar a ter uma renda média-alta em um período de 50 anos. Os sete países em questão são China, Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong, Indonésia, Malásia e Tailândia.
Também observamos um segundo grupo de 11 economias com desempenho excepcional, todas mais recentes, menos festejadas e mais diversas geograficamente. Este grupo obteve pelo menos 5% de crescimento anual do PIB per capita durante 20 anos – de 1995 a 2016 – e é composto por Azerbaijão, Bielorrússia, Camboja, Cazaquistão, Etiópia, Índia, Laos, Myanmar, Turcomenistão, Uzbequistão e Vietnã.
Além de apresentarem um desempenho médio excepcional, esses 18 países também demonstraram consistência ao exceder a taxa de crescimento considerada benchmark em pelo menos ¾ do período considerado – no caso, 50 e 20 anos, respectivamente (Quadro 1).
Coletivamente, esses países de desempenho excepcional atuaram como motor para tirar um bilhão de pessoas da pobreza extrema – definida pelo Banco Mundial como aquelas que vivem com menos de US$ 1,90 por dia. Além de reduzir a pobreza, o aumento da prosperidade nesses países também permitiu o surgimento de uma nova onda de classes média e rica. Entre 1990 e 2013, o número de pessoas que viviam na pobreza extrema nessas 71 economias diminuiu de 1,84 bilhão para 766 milhões. Países com desempenho excepcional foram responsáveis por quase 95% dessa mudança.
Hoje, menos de 11% da população mundial vive na extrema pobreza – em comparação a 35% em 1990.
Ao mesmo tempo, um número cada vez maior de residentes desses países passou a fazer parte da “classe consumidora” – isto é, pessoas com renda suficientemente alta para se tornarem consumidores substanciais de bens e serviços. Na Índia, por exemplo, o número de domicílios da classe consumidora aumentou 10 vezes em duas décadas – passando de 3,4 milhões em 1995 para mais de 35 milhões em 2016. Globalmente, esses consumidores altamente urbanos se tornaram um motor potente para o crescimento econômico global. Economias com desempenho excepcional foram responsáveis por quase metade do crescimento dos gastos domésticos de todas as economias emergentes nos últimos 20 anos.
UMA AGENDA COM POLÍTICAS FAVORÁVEIS AO CRESCIMENTO EM TERMOS DE PRODUTIVIDADE, RENDA E DEMANDA GEROU UM DESEMPENHO EXCEPCIONAL
Enquanto os 18 países de desempenho excepcional variam consideravelmente – cobrindo diferentes níveis de renda, tamanho, dotação de fatores e regiões – com exceção da América Latina, nossa análise sugere que todos eles compartilham bases de ciclos favoráveis ao crescimento, com aumento similar nos níveis de produtividade, renda e demanda (Quadro 2). Essas bases têm como parte fundamental políticas de concorrência que criaram um estímulo ao crescimento da produtividade e ajudaram a forjar as grandes empresas responsáveis por uma parcela considerável do crescimento do PIB.
Mais de 2/3 do crescimento do PIB em países com desempenho excepcional nos últimos 30 anos podem ser atribuídos ao rápido aumento da produtividade correlacionado à industrialização: um ganho médio anual de produtividade de 4,1%, em comparação a 0,8% nas demais economias emergentes. Esse desenvolvimento rápido inicialmente alavanca o ciclo de estímulo ao crescimento por meio da criação de riqueza e do aumento da demanda, que se traduzem em um maior volume de empregos.
Para os sete países de desempenho excepcional incluídos em nossa mostra, o acúmulo de capital – possibilitado por altas taxas de investimento e poupança doméstica – contribuiu com uma média de 3,8 pontos percentuais para o crescimento econômico a cada ano entre 1990 e 2015 pelo período de 50 anos. Já para aqueles países com desempenho excepcional por um período de tempo menor, a contribuição foi de 11 pontos percentuais entre 1995 e 2015.
A média de investimento como percentual do PIB foi de 30% para os países com desempenho excepcional no longo prazo e de 20% para aqueles com desempenho mais recente – ou entre 3 e 13 pontos percentuais acima do investimento em outras economias em desenvolvimento. A diferença em poupança doméstica como percentual do PIB foi de 10 a 30 pontos percentuais acima dos demais.
Os países de desempenho excepcional podem ter acesso a níveis mais altos de poupança doméstica – parte em função da exigência de fundos de pensão e aposentadoria gerenciados pelo governo, parte em decorrência do incentivo de governos que desenvolviam instituições financeiras fortes e serviços bancários digitais convenientes. Um nível mais alto de poupança doméstica permitiu maiores investimentos em infraestrutura, dentre outras áreas. Os países de desempenho excepcional também atraíram a maior parcela de investimento estrangeiro – quase 70% - dos cerca de US$ 900 bilhões investidos em mercados emergentes entre 2000 e 2016.
O forte crescimento da produtividade se traduziu em um crescimento espetacular da renda. Entre 1980 e 2014, os salários e os benefícios reais aumentaram em média 4,6% anualmente nos sete países de desempenho excepcional.
A China saiu na frente, com um crescimento anual de cerca de 8,6% na renda. Dentre os países de desempenho excepcional no período mais recente, os salários e os benefícios reais cresceram aproximadamente 6,0% ao ano entre 1995 e 2014. Isso significou praticamente o triplo do nível observado em outras economias avançadas e em desenvolvimento. Nos 18 países de desempenho excepcional, o gasto com consumo das famílias – gerado pelo aumento da renda – cresceu cerca de três pontos percentuais mais rápido do que nas demais economias avançadas ou em desenvolvimento.
Outra característica essencial desses países tem sido sua capacidade de manter uma estabilidade macroeconômica, mesmo em momentos de volatilidade global, ao adaptar políticas para que se adequassem ao contexto local e às mudanças nas condições em geral. Por exemplo, os governos agiram rapidamente para garantir uma recuperação rápida em episódios de maior volatilidade, como a crise financeira asiática do final dos anos de 1990 e a crise financeira global de 2008 e 2009.
Economias de desempenho excepcional também se beneficiaram de sua capacidade de aproveitar o crescimento da demanda global por meio de mercados exportadores, dando a elas maiores economias de escala. Em 1980, os países de desempenho excepcional representavam menos de 10% dos fluxos globais financeiros e de bens e serviços. Em 2015, sua participação havia atingido a marca de 20% ou mais.
As políticas concorrenciais também criaram um estímulo para o crescimento da produtividade. Muitos países de desempenho excepcional reconheceram a importância de terem empresas do setor privado competitivas e estimularam a criação de um ambiente em que elas pudessem investir e competir, ao mesmo tempo que criavam incentivos para melhoria de produtividade. Em vez de escolherem empresas ou setores vencedores, eles focaram em incentivar a produtividade dentro dos próprios setores.
Como resultado, setores com um maior número de grandes empresas cresceram mais rapidamente, aumentaram sua produtividade mais do que seus pares, remuneraram melhor seus funcionários e realizaram níveis maiores de investimento. Em alguns países – embora não em todos –, os governos ajudaram a incubar empresas nacionais competitivas por meio de apoio setorial a indústrias nascentes, incluindo empréstimos a custos menores, taxas de câmbio preferenciais, redução de impostos e subsídios a P&D.
No entanto, à medida que esses segmentos foram se tornando mais competitivos, os sistemas de proteção foram sendo retirados para limitar as distorções de mercado. Em alguns casos, o apoio estava condicionado a condições que incentivavam as empresas a aumentar sua produtividade. Por exemplo, a política de importação da Coréia do Sul nos anos de 1960 limitava rigidamente as importações – com exceção daquelas estratégicas – e impunha tarifas altas, mas o país gradativamente passou a um esquema mais aberto (ainda que não completamente) nos anos de 1980.
O PAPEL DESEMPENHADO POR EMPRESAS PRODUTIVAS É CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL DAS ECONOMIAS COM DESEMPENHO EXCEPCIONAL
Enquanto nas últimas décadas economistas focados em crescimento e desenvolvimento documentaram extensivamente as políticas que alavancaram o crescimento de economias emergentes, a contribuição que empresas altamente produtivas, geridas de forma ágil e globalmente competitivas deram para tal crescimento foi bem menos estudada. Nos 18 países de desempenho excepcional, observamos que essas empresas não apenas contribuíram para o aumento do PIB, mas também atuaram como catalisadoras da mudança na esfera doméstica.
Aqui, definimos empresas grandes como aquelas que são listadas em bolsa e possuem receita anual mínima de US$ 500 milhões. De 1995 a 2016, sua receita relativa ao PIB praticamente triplicou nas economias em desenvolvimento de desempenho excepcional – passando do equivalente a 22% do PIB para 64%, próximo aos níveis de economias de alta renda e muito superiores aos níveis de outras economias em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, estimamos que a contribuição do valor agregado por essas empresas de desempenho excepcional para o PIB nacional também cresceu rapidamente – de 11% em 1995 para 27% em 2016, ou o dobro da participação entre economias emergentes sem desempenho excepcional (Quadro 3).
Empresas grandes tendem a focar em setores com acesso à demanda global, o que ajudou a alavancar uma maior participação nas exportações para economias de desempenho excepcional. Elas trazem os benefícios da produtividade ao investirem em ativos, P&D e treinamento laboral com maior intensidade do que empresas de pequeno e médio portes, além de geralmente pagarem salários mais elevados – mais de 75% superiores em países como Indonésia e Coréia do Sul. Junto com esses efeitos diretos, empresas grandes estimulam indiretamente a criação, o crescimento e a produtividade das empresas pequenas e médias que fazem parte de suas cadeias de fornecimento, sendo – por sua vez – dependentes delas para o fornecimento intermediário de insumos aos seus ecossistemas.
Chegar ao topo em economias emergentes de desempenho – e se manter lá – não é nada óbvio para as empresas grandes. Nossa análise mostra que a dinâmica competitiva em muitos (mas não em todos) dos 18 países de desempenho excepcional pode ser brutal, com a sobrevivência somente dos mais fortes.
Uma indicação da existência de um ambiente corporativo competitivo é o fato de os países de desempenho excepcional terem aproximadamente o dobro de empresas grandes por trilhão de dólares do PIB em comparação a outras economias emergentes: um pouco mais de 160 empresas por US 1 trilhão em 2016, versus 80 empresas nos países similares sem desempenho excepcional (e 95 em países de alta renda). Como resultado, o crescimento da receita é compartilhado de forma mais ampla.
A contestação da liderança é um sinal vital de um ambiente competitivo. Segundo nossa análise, menos da metade (45%) das empresas que chegaram ao quintil superior em termos de geração de lucro econômico entre 2001 e 2005 conseguiu se manter lá por uma década. Esse número é bem inferior ao das empresas já bem-estabelecidas em economias de alta renda – desse grupo, 62% conseguiram se manter no quintil superior durante o mesmo período.
A concorrência doméstica, por sua vez, permitiu que os vencedores recebessem uma parcela desproporcional da receita e da renda e ultrapassassem o desempenho de seus pares em economias avançadas em dimensões importantes, incluindo o retorno total para os acionistas. Assim, para empresas em países de alta renda, o mundo em desenvolvimento tornou-se tanto uma oportunidade de crescimento como a fonte de uma nova concorrência global acirrada.
As recompensas para as empresas bem-sucedidas que conseguem permanecer no topo são significativas: nos países emergentes de desempenho excepcional, as empresas grandes que estão no grupo dos 10% principais em termos de criação de valor capturaram 454% do lucro econômico líquido gerado por todas as empresas. Isto significa quatro vezes mais do que a proporção observada em países de alta renda, nos quais as empresas do grupo dos 10% principais capturam somente 106% de todo o lucro econômico líquido. Mas as penalidades para o fracasso também são muito maiores: as empresas no grupo dos 10% inferiores em economias emergentes de desempenho excepcional acumulam perdas equivalentes a 289% do total, em comparação a 31% do pool de lucro respectivo para as principais empresas grandes em economias avançadas.
As empresas de mercados emergentes que sobrevivem a esse rito de passagem se tornam concorrentes fortes e formidáveis no cenário mundial. Elas englobam uma ampla gama de setores, com diferenças significativas dependendo da estrutura das economias nacionais.
Entre 1995 e 2016, grandes empresas listadas em bolsa em países de desempenho excepcional aumentaram sua renda líquida anual de 4 a 5 pontos percentuais mais rapidamente do que aquelas em outras economias emergentes. Em nível global, elas contribuíram com cerca de 40% do crescimento da renda líquida e da receita de todas as grandes empresas listadas entre 2005 e 2016, apesar de serem responsáveis por somente 25% da renda líquida e da receita total em 2016. Mais de 120 dessas empresas entraram na lista da Fortune Global 500 desde 2000.
As empresas de melhor desempenho também superaram empresas em economias avançadas em um indicador de desempenho fundamental: o retorno total para os acionistas. Entre 2014 e 2016, o retorno total para os acionistas das empresas de desempenho excepcional no grupo posicionado no quartil superior foi de 23% em média, em comparação a 15% nas empresas do mesmo grupo em países de renda alta e 13% em economias emergentes sem desempenho excepcional.
Para entender melhor a contribuição dessas grandes empresas, conduzimos uma pesquisa com executivos de mais de 2.000 empresas em sete países e dez setores. Três características se destacam.
Empresas líderes em economias emergentes dedicam mais atenção à inovação, obtendo 56% de sua receita com novos produtos e serviços – oito pontos percentuais a mais do que seus pares em economias avançadas. Elas investem quase o dobro do que empresas comparáveis em economias avançadas, investimento este medido enquanto proporção entre gasto de capital e depreciação. Elas também são mais rápidas na alocação de recursos: na média, elas demoram de seis a oito semanas menos do que empresas similares em economias avançadas para tomar decisões importantes. Isso significa uma redução de tempo de 30% a 40%.
Finalmente, as grandes empresas mais bem-sucedidas em economias emergentes têm uma probabilidade 27 pontos percentuais maior de priorizar o crescimento fora de seus mercados domésticos do que seus pares de países de alta renda – e, ao fazerem isso, tornaram-se concorrentes globais poderosas.
O conglomerado tailandês Charoen Pokphand Group é um exemplo disso. Com foco em agronegócio, imóveis, varejo e telecomunicações, o CP Group foi o primeiro investidor estrangeiro na primeira zona econômica especial da China, em Shenzhen, em 1981; hoje, seus negócios chineses representam cerca de 40% de suas vendas anuais de US$45 bilhões.
MOMENTOS DE MUDANÇA TRAZEM A POSSIBILIDADE DE NOVAS OPORTUNIDADES PARA ECONOMIAS EMERGENTES
As condições globais estão mudando. A fabricação de produtos parece estar chegando ao pico de produção mais cedo nos países em desenvolvimento, por exemplo, e o fluxo comercial entre fronteiras perdeu um pouco de seu dinamismo desde a crise financeira de 2008. Essas mudanças trouxeram não apenas desafios, mas também novas oportunidades para economias emergentes, tanto em termos de produção como de serviços.
Destacamos três mudanças fundamentais no panorama mundial que todas as economias emergentes terão de navegar:
1. Mudanças demográficas no mundo todo
Mudanças demográficas já estão afetando a economia global. O declínio da população em idade produtiva em alguns países, como Alemanha e Japão, por exemplo, tem desacelerado o crescimento. Ao mesmo tempo, observamos uma ponderosa tendência contrária na forma de uma maior urbanização nas economias emergentes, o que vem alavancando o consumo à medida que as pessoas se mudam para as cidades e passam a fazer parte da efervescente classe consumidora. Esperamos que as economias emergentes em geral venham a representar 62% do crescimento total do consumo entre 2015 e 2030 – o equivalente a US$ 15,5 trilhões – sendo que a China sozinha será responsável por 22% deste valor.
2. Mudanças nos padrões comerciais
Pela primeira vez na história as economias em desenvolvimento estão participando de mais da metade do comércio global de produtos. O comércio no eixo sul-sul – uma forma alternativa de se referir ao comércio entre economias emergentes (mesmo que elas não estejam no hemisfério sul) – está crescendo mais rapidamente do que o comércio nos eixos norte-sul ou norte-norte (Quadro 4). No geral, a participação do comércio de produtos entre mercados emergentes, tanto sul-sul como China-sul, passou de 8% em 1995 para 20% em 2016.
A China é a alavanca mais significativa desse comércio sul-sul. À medida que se afasta da produção mais intensiva em mão de obra e passa a se concentrar na fabricação intensiva em P&D, a China pode passar a criar novas oportunidades para Índia, Vietnã e outras economias emergentes, especialmente para produtos fabricados em países de baixa renda, como Indonésia e Uzbequistão.
3. O desenrolar de uma revolução digital
Estimamos que a automação tenha potencial para aumentar a produtividade em economias em desenvolvimento entre 0,8 e 1,2 pontos percentuais entre 2015 e 2030.
Tecnologias digitais já permitiram o surgimento de novos modelos de negócios e abriram novos mercados. No Quênia, por exemplo, o M-Pesa permite transferências de dinheiro por celular, enquanto que na Indonésia o GoJek, um aplicativo para contratar o serviço de motocicletas, abriu novas fronteiras no setor de transportes.
Nesse cenário de tendências mutantes, a manufatura tem sido um motor poderoso para o emprego e o crescimento econômico nos países de desempenho excepcional nas últimas três décadas, e continuará a desempenhar um papel importante no futuro. A manufatura atingiu seu nível mais alto no processo de desenvolvimento mais cedo do que de costume – um fenômeno que Dani Rodrik, economista da Universidade de Harvard, chamou de “desindustrialização prematura”.
Outperformers: High-growth emerging economies and the companies that propel them
Esse fenômeno complica, mas não necessariamente frustra, as ambições dos países em desenvolvimento. Observamos que os processos industriais podem ainda conseguir se expandir, especialmente em países de baixa renda, continuando a ser uma fonte de criação de empregos, especialmente quando os baixos salários e a localização estratégica fazem desses países destinos atrativos para fabricantes de roupas e de outros produtos em segmentos intensivos em mão de obra. Nossa análise mostra que, com base somente nas tendências mais prováveis do custo de mão de obra, mais de 20 países podem ainda aumentar seu setor industrial e valor.
Já os serviços são responsáveis por mais de 60% do PIB e por mais da metade dos empregos totais em economias emergentes; no entanto, na maior parte dos países, o setor de serviços não tem sido historicamente um contribuinte substancial para o crescimento da produtividade. Hoje, isso está mudando, em parte graças à tecnologia, que permite a provedores de diferentes segmentos – de funcionários de call center a radiologistas – competir com mais facilidade globalmente. A participação de serviços como proporção do total de exportações mundiais aumentou de 19% em 1995 para os 24% atuais. E a participação do emprego no setor de serviços também está se tornando mais relevante em um estágio inicial de desenvolvimento.
SE TODAS AS ECONOMIAS EMERGENTES EMULAREM AS PRÁTICAS DOS PAÍSES COM DESEMPENHO EXCEPCIONAL, A ECONOMIA GLOBAL PODERÁ RECEBER UM ESTÍMULO DE US$ 11 TRILHÕES
O que aconteceria se as 53 economias emergentes com desempenho mediano ou baixo conseguissem atingir os mesmos níveis de ganhos históricos de produtividade dos 18 países com desempenho excepcional? Isso exigiria que eles aumentassem sua produtividade média anual, passando da taxa de 1,4% obtida entre 2000 e 2015 para 4,2%, que é a taxa média anual alcançada pelos países excepcionais. Para estimar o impacto tanto para os países emergentes como para a economia global, utilizamos um modelo macroeconômico que simula esse aumento.
Os efeitos são impressionantes: para economias emergentes, a taxa geral de crescimento do PIB per capita poderia subir para 4,6%. Isso poderia elevar em mais de 50% seu PIB médio per capita em comparação às previsões consensualmente aceitas para 2030, bem como incluir 200 milhões de pessoas na classe consumidora e retirar 140 milhões de pessoas adicionais da pobreza – um aumento de praticamente dois pontos percentuais inteiros da população global.
A economia global daria um salto, crescendo em média 3,5% ao ano, em comparação às previsões consensualmente aceitas de 2,8%. Esse crescimento poderia agregar diretamente US$ 11 trilhões ao PIB global até 2030. Desse montante, cerca de US$8 trilhões viriam diretamente de economias emergentes até então com desempenho mediano ou baixo.
Os US$3 trilhões restantes viriam de forma indireta, uma vez que o aumento da renda e da atividade econômica nos 53 países afeta a demanda global em economias avançadas e emergentes de desempenho excepcional. O impulso de US$11 trilhões na produção global significa aproximadamente 10% da economia mundial e equivale a agregar ao sistema uma nova China.
Qual o nível de credibilidade desse cenário? Triplicar as taxas de crescimento da produtividade é certamente um objetivo ambicioso, mas já existe um precedente: foi isso que os 11 países com desempenho excepcional mais recente alcançaram entre 1995 e 2015, em comparação ao nível base do período de 1980 a 1995.
Todas as áreas geográficas possuem pontos fortes e fracos em comum – e todas têm potencial para fortalecer seus ciclos favoráveis ao crescimento.
No variado panorama global, podemos identificar alguns países individuais que são novos aspirantes a entrar em nossa lista de economias com desempenho excepcional. Esses países estão implementando e reforçando seus fundamentos econômicos, de acordo com os elementos de nosso mapa de calor. Alguns deles já apresentaram um crescimento do PIB per capita superior a 3,5% no período de 2011 a 2016.
Cinco países—Bangladesh, Bolívia, Filipinas, Ruanda e Sri Lanka—ultrapassaram a taxa de crescimento anual per capita de 3,5% entre 2011 e 2016 e também estão dentre os 25% melhores em nosso índice de desempenho.
Um segundo grupo de países inclui Moçambique, Paraguai, Quênia, Senegal e Tanzânia. Estes países entraram para o quartil superior de nossa classificação de desempenho econômico, refletindo melhorias em alavancas fundamentais, como produtividade, renda e demanda. Mas ainda não atingiram um crescimento consistente de 3,5% do PIB per capita.
Finalmente, dois outros países – Costa do Marfim e República Dominicana – alcançam a marca de 3,5% de crescimento do PIB, mas seu desempenho econômico é menos impressionante, posicionando-os no segundo quartil (Quadro 5).
Enquanto isso, os 18 países de desempenho excepcional que identificamos merecem os parabéns – porém, é preciso ficar atento para evitar a complacência. Mesmo as regiões de melhor desempenho em nossa análise têm espaço para melhorias econômicas em uma variedade de indicadores.
À medida que o panorama evolui, os países em desenvolvimento enfrentarão tendências cambiantes que podem tornar mais desafiadora sua passagem para o grupo de desempenho excepcional – certamente as condições serão distintas daquelas enfrentadas pelos países que conseguiram um desempenho excepcional antes deles. Ainda assim, podemos observar muitas oportunidades, tanto para países individuais como para regiões inteiras. Empresas e formuladores de políticas públicas deveriam aproveitar essas oportunidades.
Para o bem da economia global – e para as centenas de milhões de pessoas que continuam a viver na pobreza e a desejar ter uma vida mais próspera, é importante que eles o façam.
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