Com seu tempo escasso, a maioria dos executivos sabe que precisa planejar com antecedência, priorizar, concentrar-se no que é importante tanto quanto no que é urgente, investir na saúde (o que inclui dormir o suficiente), abrir espaço para a família e os relacionamentos, e restringir o escapismo ocioso (ainda que seja difícil evitá-lo totalmente). Porém, isso é mais difícil do que parece, como todos sabemos—e como eu também vim a aprender depois de anos tentando, sem sucesso, tornar-me mais eficaz.
No meu caso, acabei me deparando com uma antiga técnica de meditação que, para minha surpresa, aumentou a capacidade de minha mente para resistir às tentações cotidianas que interferem na aquisição de hábitos saudáveis e produtivos. Do mesmo modo como a atividade física intensa e concentrada energiza e revitaliza o corpo ao longo do resto do dia, a meditação—para mim e para todos os outros que a praticam—é como um exercício aeróbico mental que limpa, ordena e desintoxica a mente, melhorando sua atividade metabólica.
Antes de descobrir por acaso essa técnica atemporal, eu era cético, apesar dos relatos dos muitos praticantes tarimbados que precederam os meus esforços incipientes.1 Assim como o deleite de aprender a nadar ou o prazer de boiar na água não podem ser vivenciados lendo-se livros a respeito ou ouvindo relatos alheios das alegrias da auto-flutuação aquática, também os benefícios da meditação só podem começar a ser compreendidos dando-se um mergulho vivencial.
Mas, então, por que escrever a respeito? Porque penso que nossa cultura de trabalho “sempre ligada” está cobrando um preço alto dos líderes atuais e precisamos de mecanismos para enfrentar melhor essa situação. A meditação não é o único mecanismo disponível, mas é um a respeito do qual eu me sinto razoavelmente qualificado a falar em virtude de minhas experiências com ela nos últimos cinco anos. Estou longe de ser o único. O mindfulness [ou “atenção plena”] tem se tornado cada vez mais corrente nos círculos empresariais, e algumas escolas de negócios já levam a questão da meditação a sério, graças à liderança de professores como Ben Bryant no IMD, Bill George em Harvard, e Jeremy Hunter na Drucker School of Management.2
Contudo, na minha experiência, quase todos os trabalhadores—e talvez sobretudo os altos executivos—carecem do que mais precisam, seja meditação ou alguma outra abordagem, para equilibrar e compensar a demanda de estarem “em todo lugar o tempo todo”, que é o que seus cargos corporativos hoje exigem. O famoso rebatedor Ted Williams, ao término de uma longa temporada de beisebol, costumava ir caçar e pescar para relaxar e recuperar suas energias. Winston Churchill era um pintor amador e certa vez disse: “Se não fosse a pintura, eu não conseguiria viver. Não suportaria a tensão das coisas.”
A maioria dos executivos não pode simplesmente desaparecer por longos períodos para ir pescar. E dedicar-se à pintura parece árduo e penoso. Mas eles podem adotar versões simples de técnicas comprovadas de meditação para melhorar a qualidade de sua vida, mesmo que seja aos poucos. Meu objetivo neste artigo não é dizer a ninguém que deve meditar, nem como meditar. Há vários tipos de meditação e, na realidade, eu só conheço um pouco melhor a tradição Vipassana.3 Pretendo apenas descrever como a meditação me ajudou a lidar com três desafios comumente enfrentados pelos líderes: o vício dos e-mails, os reveses e contratempos que precisam ser enfrentados, e o perigo de isolar-se demais.
Como lutar contra o vício dos e-mails
Verificar e-mails compulsivamente, ainda mais se for a primeira coisa feita de manhã, talvez seja a maior aflição do profissional moderno. Para mim, foi também o hábito destruidor da produtividade mais difícil de largar.
No passado, eu achava quase impossível resistir à tentação de acessar minhas mensagens tão logo acordasse, entre 6 e 7 da manhã. Minha mente estava condicionada de maneira pavloviana para que eu continuasse agindo assim. Algumas mensagens chegavam durante a noite, vindas de outros fusos horários; outras talvez tratassem de questões verdadeiramente prementes e, de fato, não podiam ser proteladas. Muitas eram notificações sem a menor urgência, ou eram envios automáticos de sites de notícias.
O resultado de querer verificar tudo logo ao despertar foi uma combinação de sobrecarga eletrônica, uma atitude estressada perante mensagens difíceis (levando-me a escrever respostas sem pensar) e—o mais grave de tudo—um começo moroso das atividades da manhã. Esse turbilhão de comunicações eletrônicas ia consumindo minha energia mental. Bastava um e-mail brusco ou desagradável de alguém importante para afetar meu estado de humor, levando-me a tratar mal outras pessoas que nada tinham a ver com aquilo, enquanto eu ficava me perguntando se haveria alguma mágoa, ou queixa pessoal ou algum outro motivo que pudesse ter provocado isso. Comecei a sentir que minha dependência dos e-mails era um dano que eu infligia a mim mesmo e que não conseguia evitar.
Por meio da meditação, os “músculos” da minha autoconsciência e auto-regulação desenvolveram-se até o ponto em que, após uma noite repousante de sono, eu consigo aproveitar melhor as primeiras horas do dia: meditando, exercitando, escrevendo, planejando prioridades e outras tarefas mentais complexas que provavelmente acabariam se acumulando mais tarde. Transferi o horário de verificar e-mails para depois do jantar, quando em geral minha mente fica mais lenta e menos produtiva. Além disso, dedicar um tempo extra para responder a e-mails contribuiu para que minhas respostas fossem mais atenciosas e deliberadas.
Esse novo condicionamento significa que meus colegas sabem que eu nem sempre responderei a cada e-mail logo no começo da manhã. Isso reduziu o fluxo de mensagens durante a noite e serviu para aliviar minha ansiedade e culpa pelos e-mails não respondidos. Como todos, eu estou em constante risco de voltar aos velhos hábitos. Tento me proteger contra esse risco com o espaço mental que recapturei para mim e que me motiva com as melhorias que vou identificando em minha vida pessoal e profissional como resultado da meditação.
Extraindo o positivo do negativo
Recordo-me vivamente que, pouco depois de começar a meditar há cinco anos, a McKinsey perdeu para um de nossos principais concorrentes a oportunidade de prestar serviços para um importante ministério da saúde. Sendo o principal parceiro da negociação, eu passara meses com colegas de todo o mundo elaborando o que pensávamos ser uma proposta irresistível para ajudar o ministério.
Anteriormente, minha reação instintiva em situações semelhantes teria sido uma mistura de esvaziamento, decepção, frustração e até mesmo ressentimento com os concorrentes. Minimizar os danos à Firma—e limitar o impacto sobre meu cargo e minha carreira—teria sido a ideia predominante em minha mente.
Não estou dizendo que eu havia me libertado completamente desses sentimentos—mas é certo que algo havia mudado. Havia agora mais espaço entre eu e a reação emocional que teria tido antes. Surpreendi-me admitindo para meus colegas que a proposta rival talvez fosse realmente melhor, e quase cheguei sentir certa satisfação com o sucesso do concorrente. Essa vitória certamente lhes permitiria entrar com força em um mercado que vinham buscando havia algum tempo, mas também significaria que provavelmente seriam um concorrente mais racional no futuro. Pensando melhor, eu até me senti genuinamente feliz pelos clientes, que haviam realizado um processo justo e minucioso, e tinham agora encontrado um parceiro bem qualificado para esse importante projeto. Eu estava ciente de que a minha negatividade não havia magicamente desaparecido graças à meditação, mas fui capaz de reagir de maneira mais neutra e não permitir que eu mesmo ou outros fôssemos consumidas por ela.
Foco nos outros
Embora a meditação seja um ato solitário, ela me ajudou a enxergar melhor os outros, à medida que eu ia perdendo algumas das minhas inseguranças e redefinia o modo como faço escolhas difíceis. Eu costumava me sentir inseguro, temendo ser "deixado de lado" nas reuniões ou discussões, e com isso ia deixando passar oportunidades para delegar. Do mesmo modo, quando eu enfrentava dilemas que exigiam equilibrar interesses conflitantes, minha consideração predominante era: “O que eu ganho com isso?”
Novamente, eu não diria que agora estou livre de insegurança ou de interesse próprio. Mas a meditação constante ajudou-me a identificar melhor as coisas com as quais eu realmente preciso me envolver e quais podem continuar sem meu envolvimento direto. Isso liberou bem uns 10% a 20% do meu tempo produtivo, e reduziu o estresse de achar que não estou fazendo a minha parte. Também foi energizante para os que trabalham comigo, pois permitiu que muitos deles tomassem a iniciativa e assumissem mais responsabilidades e controle. Embora tudo isso possa parecer intuitivo, havia me evadido antes em função de minhas inseguranças e da minha falta de autoconsciência em relação a minhas pulsões inconscientes, e também por não perceber as maneiras como eu combinava meu nível de energia ao uso produtivo que eu fazia dela. A meditação tornou-me mais consciente dessas questões e, visto que continuo a praticá-la, tenho a esperança e a expectativa de que acessarei outros níveis de autoconsciência e avançarei ainda mais no caminho do desapego.
O que também mudou foi minha definição de ganho ou perda pessoal. Ainda me identifico com a dimensão pessoal, mas sinto que estou desacelerando um pouco e refletindo sobre as situações de mais ângulos—p.ex., como uma situação afetará outras pessoas ou o ambiente em que vivemos, ou o que é certo ou justo. O impacto de uma decisão sobre mim, pessoalmente, deixou de ser um fardo que torna exaustivo ou desgastante o trabalho de avaliar minhas escolhas.
Pelo contrário, vejo-me agora chegando a conclusões “aparentemente corretas” com mais agilidade do que no passado. Minha orientação perpétua costumava ser: “Como isso ajuda a minha agenda?”. Agora, quando consigo evitar essa atitude (ou pelo menos contextualizá-la), a abordagem “certa” torna-se mais ou menos evidente por si mesma. Isso é libertador: ajuda-me a deixar para trás a agitação interna que costumava surgir quando eu tentava chegar a soluções por engenharia reversa – soluções que, antes e acima de tudo, atendiam aos meus interesses.
________________________________________Em certa ocasião, antes de começar a praticar meditação, um renomado coach especializado no domínio do tempo ajudou-me a reconfigurar minhas tendências inatas, e aprendi com ele a reservar períodos do dia para importantes tarefas estratégicas. Esse conselho, como os hábitos de Stephen Covey para a eficácia pessoal que eu admiro há muito tempo, era elegante e bastante atraente. Curiosamente, porém, achei-o inaplicável à vida profissional de alta intensidade e eu logo recaí nos velhos hábitos. Muitas vezes eu me sentia vivenciando passivamente os eventos do dia em vez de fazer escolhas ativas e assumir o comando das coisas.
Desde que comecei a meditar, tenho experimentado uma verdadeira mudança no modo como foco minhas energias. Apesar das pressões no trabalho serem as mesmas (ou mesmo maiores), estou desfrutando mais controle e um maior senso de propósito em minhas atividades diárias e semanais. Já não me orgulho mais da quantidade e diversidade de meus compromissos (embora agora eu tenha de estar atento a novas maneiras pelas quais o orgulho pode se apresentar).
Eu resumiria minha experiência em quatro palavras: observar mais, reagir menos. Tento observar a mim mesmo com mais desprendimento e evitar reagir instintivamente ao impulso de estímulos externos e a situações que parecem negativas. Mesmo que nem sempre tenha êxito, hoje sou mais capaz de identificar minhas fraquezas: por exemplo, meu senso de insegurança, minha dependência de benefícios de curto prazo e a ênfase excessiva em resultados impulsionados por processos. Isso me ajuda a trabalhar de maneira mais inteligente e a liderar melhor com vistas a realizações mais duradouras.