Por Björn Hagemann, João Guillaumon e Vijay Gosula
Nos últimos 15 anos, a economia da América Latina cresceu, em média, 2,9% ao ano – mais do que os países desenvolvidos, porém menos do que os demais países em desenvolvimento. As principais taxas de crescimento foram registradas nos países andinos – Bolívia, Colômbia, Equador, Peru –, assim como na América Central - Costa Rica, Cuba, República Dominicana e Panamá. As maiores economias – Brasil e México – apresentaram taxas modestas de 2,2% e 2,7% ao ano, respectivamente. As crises na Argentina e na Venezuela geraram, nestes países, um crescimento abaixo da média da região.
Para os próximos anos, a região deve enfrentar três ameaças que podem prejudicar o crescimento: a redução da taxa de natalidade, o fim do ciclo das commodities e o protecionismo comercial. No contexto desses desafios, a melhoria da produtividade é um fator-chave para o aumento da produção e dos salários. Nos últimos 15 anos, quase 80% do crescimento ocorreu em função do aumento da força de trabalho, refletindo o crescimento populacional. Enquanto isso, a produção por trabalhador cresceu apenas 0,6% ao ano desde 2000, um dos índices mais baixos dentre todas as regiões.
Para responder às ameaças ao crescimento, a América Latina deve considerar quatro prioridades: eliminar barreiras à competitividade para expandir atividades de maior valor agregado; promover a adoção de tecnologias digitais e automação; fortalecer a relação entre educação e trabalho (com maior inclusão das mulheres nesse processo); e investir em inovação para aumento da produtividade.
Em relação à eliminação das barreiras à competitividade, o desafio é grande. Em média, um trabalhador latino-americano produz apenas 25% do que um trabalhador norte-americano. Atualmente, os setores mais produtivos da América Latina – mineração e serviços profissionais – não são grandes empregadores. A região perde uma grande oportunidade ao não utilizar seus abundantes recursos naturais de forma mais eficiente. Por exemplo, uma grande parte das reservas de petróleo são extraídas e processadas de maneira pouco eficiente por companhias estatais. Da mesma forma, o setor agrícola e a produção de alimentos na América Latina consomem duas ou três vezes mais água do que nos Estados Unidos ou na China. Eliminar obstáculos à competitividade pode permitir o aumento da atividade da indústria e de serviços, além do aumento do valor agregado da mineração e do agronegócio.
As tecnologias digitais e de automação mais recentes têm o potencial de transformar de forma significativa a vida das pessoas e a forma como as empresas trabalham. A América Latina precisa embarcar plenamente nesta última onda de inovação, porém há muito a ser feito. A região investe apenas 0,8% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, enquanto a China investe 1,8% e os países da OCDE 2,4%.
Um estudo do McKinsey Global Institute estimou que as tecnologias digitais, por exemplo, internet das coisas e big data, têm um potencial de alavancar o PIB do Brasil em até 200 bilhões de dólares ao ano até 2025. Da mesma forma, a automação, potencializada pelas novas tecnologias de robótica e inteligência artificial, deve ter impacto significativo no aumento da produtividade, eficiência, segurança e conveniência. Na América Latina, quase a metade dos postos de trabalho possuem o potencial para serem automatizados, trazendo também o desafio de treinamento e educação para as novas funções.
Considerando o fortalecimento da relação entre educação e trabalho, observa-se que a redução da taxa de natalidade e a diminuição do crescimento populacional tornam fundamental que a América Latina faça o possível para reforçar sua força de trabalho. Por um lado, a região apresenta lacunas importantes na formação profissional. Em uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 37% das empresas da região reportaram o recrutamento de talentos com a formação adequada como um dos principais obstáculos que enfrentam. Os países precisam urgentemente fortalecer a qualidade e o acesso ao sistema educacional, assegurando uma formação em linha com as necessidades das empresas em um cenário de crescente automação.
Por outro lado, a entrada das mulheres no mercado de trabalho deve trazer um importante benefício aos países com populações em processo de envelhecimento. Segundo estudo do McKinsey Global Institute sobre a equidade de gênero, a América Latina possui um potencial produtivo de 1,1 trilhões de dólares adicionais até 2025 com a equiparação dos progressos na redução das diferenças de gênero atingidos em países mais avançados da própria região – resultado 14% acima do esperado com o progresso atual.
Embora intervenções específicas possam ter um efeito importante na produtividade no curto e médio prazo, um crescimento sustentável e inclusivo requer a melhoria do ambiente de negócios assim como o investimento em capital e infraestrutura. Os fundamentos macroeconômicos devem continuar sendo fortalecidos, assegurando um nível adequado e estável de inflação, câmbio e taxa de juros. O principal desafio neste aspecto é assegurar o controle fiscal, em particular após o fim do ciclo das commodities.
Ainda em termos de produtividade, a região deve buscar também a elevação dos patamares atuais de investimento. Estudo recente do McKinsey Global Institute estima o investimento entre 1992 e 2013 na região em 2,4% do PIB – menor valor dentre todas as demais regiões, incluindo China (8,6%), África (3,1%) e Estados Unidos (2,5%). Para assegurar este objetivo, os governos precisam assegurar fontes adicionais de recursos, incluindo concessões, vendas de ativos e parcerias com o setor privado.
Por fim, a restrição de acesso ao crédito é um importante limitador para melhoria da produtividade e, portanto, do crescimento. Em uma região em que 48% da população não tem acesso a serviços financeiros, o acesso e o alto custo do crédito é uma das maiores barreiras para pequenas e médias empresas em busca de expansão. A expansão de serviços digitais resulta em um alto potencial para a resolução destes desafios, ampliando a inclusão financeira. Outras melhorias na regulação financeira também são importantes como, por exemplo, o fortalecimento dos processos de recuperação de garantias e de classificação de crédito.
As necessidades de crescimento da América Latina envolvem um amplo espectro de fatores que não podem ser subestimados. Não obstante, um esforço coordenado dos diversos atores da sociedade deve contribuir para balizar as prioridades e reduzir as ameaças ao crescimento. Dentre esses atores, o setor privado tem um papel crítico na busca de um compromisso com a maior produtividade, expansão e inovação.
*Björn Hagemann e João Guillaumon são sócios na McKinsey onde Vijay Gosula é sócio sênior.