Por Björn Hagemann e Rafael Oliveira
A baixa produtividade tem afetado o crescimento dos principais setores da economia brasileira. No ritmo de produção atual, levaremos até 2081 para dobrar a renda da população. Isso significa que menos postos de trabalho e menos avanços em qualidade de vida serão alcançados.
É preocupante dizer que em tempos de crescimento difícil, se não começarmos a produzir de maneira mais eficiente, em comparação ao que temos feito desde os anos 2000, a economia pode deixar de crescer 50% nos próximos 15 anos. Seria preciso aumentar a produtividade três vezes mais rápido para escapar deste cenário.
O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, mas ocupa a 51ª posição no ranking global de produtividade relativa da indústria. Somos quatro vezes menos produtivos do que países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha. Em dez anos, a tendência é de que sejamos ultrapassados até mesmo pela Índia, última colocada no ranking de produtividade dos emergentes. No entanto, temos uma oportunidade enorme de melhorar essa situação nas próximas décadas – precisamos aproveitá-la.
Estudos da McKinsey têm demonstrado que as empresas à frente na adoção dos elementos da chamada Indústria 4.0 melhoram em até 30% a sua produtividade. Os benefícios dessa quarta revolução, trazidos pelas tecnologias digitais, são inúmeros. É possível realizar mais tarefas em menos tempo, enquanto o aumento da eficiência demanda menos recursos.
A presença de robôs, análise avançada de dados, impressoras 3D, realidade aumentada e internet das coisas na indústria representam uma ruptura tão grande para a sociedade como aquela causada pela terceira revolução industrial, que afastou da agricultura a força de trabalho dos países desenvolvidos no século 20.
Uma pesquisa do McKinsey Global Institute mostrou que a produtividade do mundo cresceu 0,3% por ano entre 1850 e 1910 com a criação da máquina a vapor; e pode aumentar em 1,4% por ano até 2065 com a automação.
Em uma fábrica da Fanuc, no Japão, robôs industriais produzem outros robôs, supervisionados por um time de apenas quatro funcionários. Já em outra planta, esta da Philips, robôs se encarregam de fazer barbeadores elétricos. Enquanto isso, desde 2013, a Canon começou a eliminar gradualmente a mão de obra humana de suas fábricas.
As indústrias digitais têm adotado as novas tecnologias de ponta a ponta. O Alibaba, maior varejista chinês, conta com robôs que organizam seus estoques de maneira inteligente para otimizar a logística. Enquanto uma grande mineradora conseguiu, por meio da análise avançada de dados, aumentar a vida útil de seus caríssimos caminhões de extração.
Em partes, a nova onda de automação acontece pelos mesmos motivos que levaram à primeira revolução industrial – liberar as pessoas de ambientes insalubres e de atividades perigosas, aumentar a produtividade e reduzir custos, tendo como consequência para os países o aumento do PIB e da renda da população.
Mas o Brasil caminha a passos mais lentos. Um relatório recente da Confederação Nacional da Indústria mostra que dos 24 setores da economia, 14 precisam adotar com urgência estratégias de digitalização. Dentre eles, nossa experiência mostra que os setores mais preparados para a Indústria 4.0 são o agronegócio e a mineração.
A maioria, porém, ainda tem produtividade inferior à média internacional, o que reduz as chances de exportar os produtos brasileiros. Hoje, apenas 25% do PIB vêm do comércio internacional, enquanto entre os outros emergentes a internacionalização chega a 60% do PIB.
Existem várias razões pelas quais o impacto do digital ainda não é evidente nos números de produtividade. No Brasil, poucas indústrias e empresas absorveram efetivamente os elementos da terceira revolução, implementando sistemas de gestão da produção bem estruturados. Isso faz com que o potencial trazido pela indústria 4.0 não seja maximizado ou, muitas vezes, financeiramente factível. O alto custo da tecnologia é um grande obstáculo. Casos de negócios implementados com sucesso em partes do globo perdem sua viabilidade em nosso país. É um ponto que precisará ser revisto de forma estrutural.
Um outro desafio coloca o Brasil em desvantagem em relação aos países desenvolvidos: a capacitação do trabalhador para a nova era da indústria. Assim como na geração anterior, as organizações ainda investem pesado em tecnologia e se esquecem do seu capital humano. Pessoas com as habilidades necessárias para criar, operar e fazer a manutenção de robôs já estão se tornando mais frequentes no mercado de trabalho. Mas há uma preocupação crescente com aquelas nas atividades mais afetadas pela automação. É o caso dos trabalhos físicos, manuais, de processamento e coleta de dados.
No ritmo de transição demográfica atual, a massa trabalhadora pode estagnar em 2050, havendo um descompasso entre a oferta de trabalho e a mão de obra. Para evitar este cenário, existem alguns caminhos a serem percorridos. É preciso garantir crescimento econômico, que faz as pessoas continuarem consumindo e gera empregos, e investir em uma educação mais próxima do mercado de trabalho e recapacitar trabalhadores em meados de carreira.
No Brasil, esses desafios se acentuam. As agências de trabalho do futuro, como a Alemanha já vem implementando, podem ser uma solução para conectar pessoas que perderam seus empregos a novas vagas e, ao mesmo tempo, oferecer capacitação para as novas habilidades.
É importante ressaltar, porém, que as primeiras revoluções industriais não foram acompanhadas de desemprego em massa duradouro, porque impulsionaram a criação de novos postos de trabalho. Não podemos afirmar definitivamente se as coisas serão diferentes desta vez. Mas nossa análise mostra que os seres humanos continuarão sendo necessários na força de trabalho e os ganhos totais de produtividade que estimamos só ocorrerão se as pessoas trabalharem lado a lado com as máquinas.
A Indústria 4.0 é a chave para um país competir globalmente. Isso causará alterações fundamentais no ambiente de trabalho, exigindo um grau inédito de cooperação entre os trabalhadores e a tecnologia.
* Björn Hagemann e Rafael Oliveira são, respectivamente, Sócio e Sócio Associado da McKinsey em São Paulo.
***Texto originalmente publicado na revista VEJA.