Por Nicola Calicchio
São Paulo vai sediar, em março, o World Economic Forum on Latin America, versão regional do Fórum Econômico Mundial. São esperados 750 líderes do governo, empresariado e sociedade civil.
É um momento especial para tratar de desenvolvimento econômico, por pelos menos seis razões.
1) O mundo está eufórico com o crescimento.
Em Davos, no Fórum Econômico Mundial, em janeiro, havia quase uma competição entre financistas, executivos e economistas para saber quem apostava no maior aumento do PIB global em 2017. O FMI, por exemplo, subiu seu número para 3,9%.
A reforma tributária americana causou uma enxurrada de anúncios de investimento no país. O tal soluço chinês, tão previsto, parece cada vez mais distante. A Europa, até outro dia um caso perdido de envelhecimento populacional e impasse institucional, voltou a crescer, assim como o Japão.
Uma pesquisa com 1.300 executivos em Davos mostrou que 57% se dizem otimistas com a economia global, o maior número já registrado desde que essa pesquisa começou a ser feita, há sete anos.
2) Há, porém, riscos no horizonte que precisam ser melhor compreendidos.
No campo financeiro, a grande liquidez e os níveis elevados de débito podem causar danos. Diversos economistas têm apontado o perigo de que bolhas globais de ativos venham a causar danos.
Há ainda diversos riscos geopolíticos pouco citados, como a possibilidade de uma grande crise de cibersegurança em um mundo ultraconectado. “Nós precisamos de uma Convenção de Genebra digital”, disse Satya Nadella, CEO da Microsoft.
3) Além disso, a sombra do protecionismo está sempre ao redor.
Os países seguem ameaçando e em alguns casos impondo restrições à importação de produtos, o que tem impacto negativo na produtividade global.
Os Estados Unidos, por exemplo, anunciaram no começo deste ano novos impostos sobre painéis solares e máquinas de lavar importadas, especialmente da China e da Coreia do Sul, e há preocupação sobre o futuro do Nafta, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio.
4) As empresas estão se transformando profundamente.
Nossas conversas com companhias globais em diferentes áreas, de telecomunicações a farmacêuticas, de bancos a empresas de energia, mostram que muitas estão passando por mudanças extremas, impulsionadas pelas possibilidades criadas pelas novas tecnologias e pela competição global a que estão submetidas.
Um caso extremo citado em Davos: uma farmacêutica está avaliando reduzir suas atividades na matriz em quase 90%, terceirizando tudo que for possível pelo mundo, aproveitando oportunidades em custo e em qualidade. A mudança geográfica passou de vez a fazer parte do arsenal estratégico corporativo.
5) Estamos na era da inovação social.
Empresas serão cada vez mais cobradas não apenas pelos seus resultados, mas por seu impacto na sociedade. As gigantes do campo de tecnologia são exemplo disso, considerando todo o debate sobre domínio de mercado, uso de dados e políticas de privacidade que agora as cerca.
6) Existe uma guerra global por cérebros.
Nunca se falou tanto na importância de recrutar, desenvolver e gerenciar o capital humano das empresas. A disputa por talentos se tornou global, e nestes tempos de mudanças aceleradas será essencial contar com gente excepcional.
No campo das políticas públicas, será essencial remodelar os sistemas de educação para que eles preparem os jovens para as necessidades profissionais do século 21, muito mais imprevisíveis e sofisticadas.
No que se refere ao Brasil, há nessas tendências boas notícias, como o crescimento global que nos afeta, e pontos de preocupação, como a necessidade de aprimorar amplamente nosso sistema de ensino. É um começo que parte importante dessa discussão esteja ocorrendo entre nós, no próximo mês.
*Nicola Calicchio é sócio sênior da McKinsey em São Paulo
**Texto originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo