Por Pedro Guimarães
Até 2030, quase 16 milhões de postos de trabalho podem ser perdidos no Brasil por causa da automação. Isso representa 14% da força de trabalho atual do país. Com a inevitável necessidade de as empresas reduzirem custos e aumentarem a produtividade, este parece ser um caminho sem volta.
Do ponto de vista técnico, as pessoas com boas habilidades tecnológicas terão mais facilidade para se adaptar. De acordo com uma pesquisa do LinkedIn, as habilidades mais visadas pelos empregadores brasileiros na rede estão relacionadas a tecnologias digitais, como análise estatística, data mining, arquitetura web e desenvolvimento mobile.
Mas não serão apenas essas as qualidades valorizadas. As habilidades humanas, que nos diferenciam das máquinas, estarão em grande evidência. Capacidades como comunicação, trabalho em grupo, inteligência emocional e liderança já se tornaram diferenciais para o mercado de trabalho, tendência que deve crescer.
O desafio dessa transição, como se vê, não será pequeno. Alguns países estão adiantados nos cuidados com essa grande mudança. Na Alemanha, por exemplo, foram criadas as agências de trabalho do futuro. Elas oferecem, de maneira totalmente digital, aconselhamento de carreira e outros serviços para requalificação.
No Brasil, temos um longo caminho a percorrer. Do ponto de vista das companhias, os empregadores necessitam identificar as habilidades mais demandadas por suas empresas, requalificar e ampliar as habilidades dos seus trabalhadores para atendê-las.
Além disso, temos um déficit educacional grande. Apenas 40% dos formados em ensino técnico trabalham em sua área de formação, por exemplo. Ter um ensino mais conectado ao mercado de trabalho contribuiria para que os jovens estivessem aptos para exercer as profissões do futuro.
Nos últimos 50 anos, o crescimento da economia mundial se sustentou pelo aumento da população ativa, que, por consequência, impulsionou a produção. Mas a população está mais velha e a quantidade de jovens tende a diminuir.
Com este cenário, a automação é o único caminho para sustentar o crescimento do Brasil e do mundo, proporcionando fortes ganhos de produtividade. Isso poderá ser alcançado com o uso de tecnologias como robótica e inteligência artificial (como advanced analytics, machine learning e deep learning) na força de trabalho. Precisaremos nos adaptar.
*Pedro Guimarães é sócio da McKinsey no South Hub, no Brasil.
***Texto originalmente publicado no Zero Hora.